Todo mundo cai, menos Jucá


Marcos Cardoso
Jornalista

A desacreditada política brasileira está na pauta. Falar mal de políticos virou esporte favorito no elevador, nos bares, nos gabinetes e nos salões. Um amigo que já superou a indignação brinca: a república inteira está caindo, só não cai o Romero Jucá. Curioso.

O senador roraimense parece um personagem menor, desses que não merecem muita atenção. Então é por isso que a Justiça não se preocupa muito com ele?  Mas deveria se preocupar.

Romero Jucá é um fenômeno. Os heróis do PT foram presos e condenados, Dilma Rousseff foi defenestrada da Presidência, Lula está às voltas com inquéritos e processos. Os tucanos do PSDB já não sabem mais o que é voar em céu de brigadeiro e o outrora monolítico Aécio Neves virou pó. Até os cabeças brancas do PMDB de Jucá que ainda não caíram rezam todas as noites para não serem acordados por um agente da PF e conhecerem o cheiro de cadeia. Temer balança, mas não cai. Jucá não cai.

Jucá é um exemplo da degradação moral e ética da política brasileira. Ele foi engendrado pelas manipulações dos velhos coronéis, vicejou e se desenvolveu nutrido pela corrupção, praticou crimes que vão do nepotismo ao genocídio e sempre foi ungido pelo instituto da impunidade nacional.

Pernambucano, depois de iniciar-se ocupando cargos públicos menores, em 1986 ele foi indicado por Marco Maciel para presidir a Fundação Nacional do Índio. A Funai foi uma escola e tanto. Nos cinco primeiros meses de sua gestão, o quadro de funcionários do órgão subiu de 3.300 para 4.200. Somente no Recife, o órgão que cuida de índios chegou a ter 400 funcionários.

A Funai de Jucá sofreu intervenções do Tribunal de Contas da União devido a irregularidades financeiras e foi alvo de processo no Superior Tribunal de Justiça por ter autorizado a extração ilegal de madeira em área indígena.

Não só isso. Jucá foi quem mais demarcou territórios indígenas ianomâmis, reduzindo o parque destinado à etnia. Enquanto expulsava todos os missionários e pessoal médico, abriu a área para a extração de madeira e a mineração, sendo denunciado por genocídio pelo bispo de Roraima, o italiano dom Aldo Mongiano. Posteriormente, a Comissão Nacional da Verdade confirmou que Romero Jucá é responsável pelo genocídio de índios ianomâmis em consequência das epidemias levadas pelos garimpeiros.

O senador achou pouco e, recentemente, apresentou projetos de lei flexibilizando o licenciamento ambiental e abrindo as terras indígenas à exploração econômica.

Como prêmio pela movimentada passagem à frente da Funai, em 1988, foi nomeado pelo presidente José Sarney como governador do então Território Federal de Roraima. Foi o pulo do gato.

Em 1990 ele fracassou na tentativa de se eleger ao governo do recém-criado Estado de Roraima, mas em 1992 elegeu a então esposa Maria Teresa Surita para o primeiro dos cinco mandatos à frente da Prefeitura de Boa Vista. O quinto mandato ela começou em janeiro deste ano.

Jucá foi aproveitado no governo Fernando Collor como diretor da Companhia Nacional de Abastecimento e secretário nacional de Habitação. Em 1994, foi eleito senador pelo PPR de Collor e ocupou a vice-liderança do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 2005, já no governo Lula, foi ministro da Previdência Social por apenas quatro meses, logo exonerado por suspeita de corrupção. Naquele ano, antes dele assumir o ministério, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich, escreveu um telegrama informando ao seu governo que Romero Jucá desviou verba de um fundo de assistência social de Roraima, retirou recursos públicos destinados a projetos de construção civil no mesmo estado e permitiu o desmatamento em terras indígenas quando foi presidente da Funai.

Mas em 2006 ganhou nova chance como líder do governo do presidente Lula, cargo que também ocupou na gestão de Dilma Rousseff. Em 2010, foi o candidato mais votado no Estado de Roraima para o atual e terceiro mandato no Senado Federal.

Em retribuição à benevolência de Lula e Dilma, em 2016, agora ministro do Planejamento no governo Michel Temer, deixou o cargo após vazamento de áudios de uma conversa com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, onde defendia o impeachment da presidenta e pregava um pacto para “estancar a sangria” e pôr um fim à Operação Lava Jato.

Romero Jucá teve seu nome envolvido no esquema de corrupção da Petrobras nos depoimentos de colaboração com a justiça do ex-diretor Paulo Roberto Costa e ainda foi citado por receber propina em obras de Angra 3. Em 2015, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki já havia autorizado a abertura de investigação contra o senador.

Em abril de 2016, a relatora da Operação Zelotes, ministra Cármen Lúcia, do mesmo STF, abriu inquérito para apurar suposto envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do senador Romero Jucá, com a venda de emendas a medidas provisórias relacionadas ao setor automotivo.

Em junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Romero Jucá, de Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney, por tentativa de obstrução da justiça.

Em setembro, a Polícia Federal apontou indícios de que o PMDB e os senadores Romero Jucá, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Valdir Raupp receberam propina das empresas que construíram a usina de Belo Monte, no Pará. Um dos indícios é o volume de contribuições que o partido recebeu das empresas que integram o consórcio: foram R$ 159,2 milhões nas eleições de 2010, 2012 e 2014.

Em novembro, o STF autorizou a abertura de um inquérito na Zelotes, que apura fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o tribunal de recursos da Receita Federal, por corrupção passiva e prevaricação.

Em dezembro de 2016, ele foi delatado por ter recebido propina para defender interesses do grupo Odebrecht. Dos R$ 22 milhões pagos, R$ 20 milhões teriam ficado com Jucá e Renan, que agiam para aprovar medidas provisórias em favor da empreiteira.

É a ficha corrida resumida do Romero Jucá, um craque da política nacional. É bom de drible e não cai.

Todo mundo cai, menos Jucá


Marcos Cardoso
Jornalista

A desacreditada política brasileira está na pauta. Falar mal de políticos virou esporte favorito no elevador, nos bares, nos gabinetes e nos salões. Um amigo que já superou a indignação brinca: a república inteira está caindo, só não cai o Romero Jucá. Curioso.

O senador roraimense parece um personagem menor, desses que não merecem muita atenção. Então é por isso que a Justiça não se preocupa muito com ele?  Mas deveria se preocupar.

Romero Jucá é um fenômeno. Os heróis do PT foram presos e condenados, Dilma Rousseff foi defenestrada da Presidência, Lula está às voltas com inquéritos e processos. Os tucanos do PSDB já não sabem mais o que é voar em céu de brigadeiro e o outrora monolítico Aécio Neves virou pó. Até os cabeças brancas do PMDB de Jucá que ainda não caíram rezam todas as noites para não serem acordados por um agente da PF e conhecerem o cheiro de cadeia. Temer balança, mas não cai. Jucá não cai.

Jucá é um exemplo da degradação moral e ética da política brasileira. Ele foi engendrado pelas manipulações dos velhos coronéis, vicejou e se desenvolveu nutrido pela corrupção, praticou crimes que vão do nepotismo ao genocídio e sempre foi ungido pelo instituto da impunidade nacional.

Pernambucano, depois de iniciar-se ocupando cargos públicos menores, em 1986 ele foi indicado por Marco Maciel para presidir a Fundação Nacional do Índio. A Funai foi uma escola e tanto. Nos cinco primeiros meses de sua gestão, o quadro de funcionários do órgão subiu de 3.300 para 4.200. Somente no Recife, o órgão que cuida de índios chegou a ter 400 funcionários.

A Funai de Jucá sofreu intervenções do Tribunal de Contas da União devido a irregularidades financeiras e foi alvo de processo no Superior Tribunal de Justiça por ter autorizado a extração ilegal de madeira em área indígena.

Não só isso. Jucá foi quem mais demarcou territórios indígenas ianomâmis, reduzindo o parque destinado à etnia. Enquanto expulsava todos os missionários e pessoal médico, abriu a área para a extração de madeira e a mineração, sendo denunciado por genocídio pelo bispo de Roraima, o italiano dom Aldo Mongiano. Posteriormente, a Comissão Nacional da Verdade confirmou que Romero Jucá é responsável pelo genocídio de índios ianomâmis em consequência das epidemias levadas pelos garimpeiros.

O senador achou pouco e, recentemente, apresentou projetos de lei flexibilizando o licenciamento ambiental e abrindo as terras indígenas à exploração econômica.

Como prêmio pela movimentada passagem à frente da Funai, em 1988, foi nomeado pelo presidente José Sarney como governador do então Território Federal de Roraima. Foi o pulo do gato.

Em 1990 ele fracassou na tentativa de se eleger ao governo do recém-criado Estado de Roraima, mas em 1992 elegeu a então esposa Maria Teresa Surita para o primeiro dos cinco mandatos à frente da Prefeitura de Boa Vista. O quinto mandato ela começou em janeiro deste ano.

Jucá foi aproveitado no governo Fernando Collor como diretor da Companhia Nacional de Abastecimento e secretário nacional de Habitação. Em 1994, foi eleito senador pelo PPR de Collor e ocupou a vice-liderança do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 2005, já no governo Lula, foi ministro da Previdência Social por apenas quatro meses, logo exonerado por suspeita de corrupção. Naquele ano, antes dele assumir o ministério, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich, escreveu um telegrama informando ao seu governo que Romero Jucá desviou verba de um fundo de assistência social de Roraima, retirou recursos públicos destinados a projetos de construção civil no mesmo estado e permitiu o desmatamento em terras indígenas quando foi presidente da Funai.

Mas em 2006 ganhou nova chance como líder do governo do presidente Lula, cargo que também ocupou na gestão de Dilma Rousseff. Em 2010, foi o candidato mais votado no Estado de Roraima para o atual e terceiro mandato no Senado Federal.

Em retribuição à benevolência de Lula e Dilma, em 2016, agora ministro do Planejamento no governo Michel Temer, deixou o cargo após vazamento de áudios de uma conversa com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, onde defendia o impeachment da presidenta e pregava um pacto para “estancar a sangria” e pôr um fim à Operação Lava Jato.

Romero Jucá teve seu nome envolvido no esquema de corrupção da Petrobras nos depoimentos de colaboração com a justiça do ex-diretor Paulo Roberto Costa e ainda foi citado por receber propina em obras de Angra 3. Em 2015, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki já havia autorizado a abertura de investigação contra o senador.

Em abril de 2016, a relatora da Operação Zelotes, ministra Cármen Lúcia, do mesmo STF, abriu inquérito para apurar suposto envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do senador Romero Jucá, com a venda de emendas a medidas provisórias relacionadas ao setor automotivo.

Em junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Romero Jucá, de Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney, por tentativa de obstrução da justiça.

Em setembro, a Polícia Federal apontou indícios de que o PMDB e os senadores Romero Jucá, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Valdir Raupp receberam propina das empresas que construíram a usina de Belo Monte, no Pará. Um dos indícios é o volume de contribuições que o partido recebeu das empresas que integram o consórcio: foram R$ 159,2 milhões nas eleições de 2010, 2012 e 2014.

Em novembro, o STF autorizou a abertura de um inquérito na Zelotes, que apura fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o tribunal de recursos da Receita Federal, por corrupção passiva e prevaricação.

Em dezembro de 2016, ele foi delatado por ter recebido propina para defender interesses do grupo Odebrecht. Dos R$ 22 milhões pagos, R$ 20 milhões teriam ficado com Jucá e Renan, que agiam para aprovar medidas provisórias em favor da empreiteira.

É a ficha corrida resumida do Romero Jucá, um craque da política nacional. É bom de drible e não cai.