Saudade dos bons tempos


Marcos Cardoso
Jornalista

Lula é um animal político. Lula é um animal de sete vidas. Ficamos imaginando uma definição para uma pessoa determinada e resistente. Ele sobrevive porque é o cara que faz discurso emocionado à beira do esquife da mulher ou ele se fortalece com sua teimosa resiliência?

As duas coisas formam um todo, o nordestino da cabeça achatada, o sindicalista amputado, o dirigente respeitado e magnânimo, o fiel pecador e o perseguido por pensar diferente do que pensa a elite dita pensante.

E o Brasil começa a pensar que Lula está fazendo falta. Se o PT desmilinguiu após o Mensalão e a Lava Jato, nenhum partido ou político com mandato eletivo sobreviveu ileso mais do que ele à avalanche da corrupção. Quem saiu maior do que Lula, eticamente falando?

Lula responde a ações penais por trocar favores e benefícios com construtoras denunciadas na Lava Jato. Mas as acusações que pesam contra ele são simplórias denúncias se comparadas com aquelas cabeludas que pululam contra outros, principalmente contra seus adversários do PSDB, para os quais nunca acontece nada, judicialmente falando.

O mundo todo já está careca de saber que a deusa da justiça tupiniquim é uma desequilibrada.

Todas as pesquisas até agora sobre a ainda longínqua eleição presidencial confirmam que não há Aécio ou Marina que seja páreo para ele. Se Moro & Cia. permitirem que Lula siga candidato, ele tem disposição e o eleitorado tem os argumentos para fazê-lo voltar à cadeira que lhe pertenceu no Planalto.

Contrapondo a profunda recessão que há dois anos devora a economia nacional, Lula certamente é visto pelo eleitorado como o cara que pode fazer o Brasil crescer de novo. Ele já fez isso.

Enquanto 2015 e 2016 foram quase aniquilados pela maior crise econômico-financeira dos últimos 70 anos, o quinquênio 2003-2008 foi a fase de maior expansão para a economia brasileira das últimas quatro décadas, dado confirmado por estudo do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas.

Naqueles cinco anos, a indústria se expandiu, as vendas do comércio registraram alta e a geração de emprego e renda cresceram.

Segundo o estudo, que considerou dados a partir de 1980, o bom desempenho da economia começou seis meses após a posse do presidente Lula e se prolongou por 61 meses seguidos. Melhor do isso só a fase do “milagre econômico” do regime militar, nos anos 70.

Ainda está fresca na memória coletiva a inversão de prioridades que permitiu a milhares de brasileiros saírem da miséria e da pobreza e acederem para as classes de consumo.

Lula foi o presidente da inclusão social e também o modernizador do capitalismo nacional, superando desconfianças, conquistando o coração dos empresários e fazendo com que voltassem a investir e acreditar no futuro. Ele dobrou os plutocratas, fazendo-os compreender que o acesso dos pobres aos instrumentos do capitalismo é a garantia da longevidade do capital.

Seu ciclo de oito anos se encerrou com crescimento chinês do PIB de quase 8%. Para completar, Lula controlou a inflação, reduziu a dívida pública e terminou o mandato com o desemprego no menor índice de sua série histórica, impressionantes 5,7%.

O segredo de Lula foi confiar no povo e priorizar os mais pobres, disse Marcelo Déda, ao ser empossado no segundo mandato de governador: “Foi entender a necessidade de um projeto nacional, integrador, capaz de reduzir desigualdades, aumentar a autoestima do brasileiro e inserir de forma soberana o Brasil no mercado internacional e na política mundial”.

Quantitativa e qualitativamente dá Lula na frente. Uma pesquisa qualitativa feita para o jornal Valor Econômico apontou que a disputa pela presidência do país em 2018 pode contar com o componente da “saudade”.

Buscou-se entender o que justifica o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva em pesquisas quantitativas, mesmo com a pancadaria habitual da mídia tradicional contra o ex-presidente.

A pesquisa explorou argumentos de eleitores que “andam afastados do PT, mas declaram intenção de votar no petista”, apontando para “reiterados sinais de um sentimento de nostalgia” em relação ao período entre 2003 a 2010. Tais “lembranças” seriam relacionadas principalmente a aspectos econômicos.

A discussão estimulada por um profissional habilitado, reuniu um grupo de dez pessoas das classes C e D de regiões periféricas de São Paulo, de 25 a 55 anos, que não são filiados ou militantes do PT, mas que, embora possam ter restrições ao partido, declaram intenção de votar em Lula.

Os eleitores teriam interesse por política, mas forte rejeição a partidos. Eles usam o Facebook e a televisão, principalmente Globo e Record, como fontes de informação, e já votaram em Lula pelo menos uma vez. Nenhum deles votou pela reeleição do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Pelo contrário, mais da metade declarou voto em João Doria (PSDB), três anularam, e um votou em Celso Russomanno (PRB).

O que há de comum a todos, como foi dito, é a intenção de votar no velho petista. Se permitirem, podem considerar: a estrela do cara vai voltar a brilhar.