Marcos Cardoso
Jornalista
Como era de se prever, o Ibope identificou um número expressivo de eleitores em Aracaju que demonstram pouco ou nenhum interesse nesta eleição. A pesquisa foi divulgada pela TV Sergipe na última quinta-feira, 15.
O Ibope observou nenhum interesse pelas eleições entre os mais velhos (atingindo 45% na faixa dos 35 aos 54 anos), os menos escolarizados (44% dos que têm apenas o ensino fundamental) e os de renda familiar mais baixa (49% entre os que ganham até um salário mínimo).
Mas uma informação positiva para Edvaldo Nogueira foi identificada logo no início da pesquisa, quando se questiona o eleitor sobre em quem vai votar sem lembrá-lo quem são os candidatos.
Nessa questão cega, Edvaldo é lembrado espontaneamente por 28% dos eleitores, contra 19% que lembram de Valadares Filho e apenas 9% que citam João Alves, apesar deste ser o atual prefeito.
E 44% a 45% dos jovens, na faixa dos 16 aos 34 anos, lembram de Edvaldo espontaneamente e querem votar nele. Enquanto 17% dos que têm mais de 55 anos lembram de João e dizem votar nele, sendo o melhor do seu eleitorado.
Quando confrontado com os nomes dos candidatos, o eleitor confirma a liderança confortável de Edvaldo, com 36%, seguido de Valadares, 26%, e João, 11%. Os outros quatro candidatos, Dr. Emerson, Vera, Tarantela e Sônia Meire, somam 12%.
No fechamento do questionário — o Ibope entrevistou 602 eleitores de Aracaju entre os dias 12 e 14 deste mês —, Edvaldo obteve os 36% das intenções de votos contra 49% dos outros seis candidatos somados.
Nessa pesquisa, observou-se que as intenções de votos nulos e brancos caíram fortemente (de 19% para 11%), bem como caiu a preferência por João (de 18% para 11%), enquanto 4% se mantiveram indecisos (antes eram 5%).
Como na reta final da eleição, cresce a tendência pelo voto útil, quando aqueles eleitores desinteressados, indecisos ou que resolvem mudar de candidato na última hora optam pelo que lidera a disputa, não é demasiado propor que Edvaldo conquiste um bom naco desses votos, podendo fechar a fatura ainda no primeiro turno.
Nada é tão simples, mas pode acontecer. Vamos considerar somente os votos válidos, descartando os brancos, nulos e indecisos. No momento em que foi feita a fotografia dessa paisagem eleitoral, Edvaldo já estava com exatos 43% dos votos válidos, enquanto Valadares tinha 30% e João tinha somente 13% dos votos válidos. Somando os seis adversários de Edvaldo, todos juntos tinham 57%.
Portanto, apenas pouco mais de 7 pontos percentuais separam Edvaldo da vitória no primeiro turno. É fácil conquistar esse montante de votos nos 15 dias finais de campanha? Não. Mas, não é impossível.
No eleitorado da faixa de idade dos 25 aos 34 anos, Edvaldo já possuía 52% dos votos válidos. E 46% entre os ainda mais jovens, dos 16 aos 24 anos, e o mesmo entre aqueles eleitores com menor grau de formação escolar.
Lembremos que a margem de erro é de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. Quem conta que Valadares já poderia estar com 30% das intenções de votos, também não pode descartar que Edvaldo já poderia estar com 40%.
É certo que o Ibope identificou um importante crescimento de Valadares, que saltou 11 pontos, de 15% para 26%, enquanto o crescimento de Edvaldo — embora consolidado e constante — foi menor, de 8 pontos, de 28% para 36%.
A velha ideologia explica. Pela sua formação política, de centro-direita — por isso mesmo tendo atraído apoiadores ideologicamente de direita, como Eduardo Amorim e André Moura — é natural que os votos de João migrem mais para Valadares do que para um candidato de centro-esquerda, como é Edvaldo.
E não se descuide da influência de Jackson Barreto nesta eleição, para o bem ou para o mal. Se o governador, que encara uma das piores crises financeiras já vividas pelo Estado, está desgastado com servidores — o que, de certa forma, pode beneficiar Valadares —, JB ainda é uma liderança muito forte em Aracaju, principalmente na periferia da capital, onde sempre esteve o seu principal reduto eleitoral.
Por ser um político mais experimentado e por ser aliado de JB, Edvaldo aparece com uma rejeição maior do que a de Valadares, 24% a 15%. Mas nada que possa preocupar seus eleitores e atrapalhar sua bem encaminhada vitória.
Edvaldo encontra maior rejeição, 28%, entre aqueles eleitores com mais de 55 anos, justamente onde se acha o maior eleitorado de João. No entanto, Valadares é rejeitado por 20% dos eleitores de nível escolar superior, que são maiores formadores de opinião.
Mas quem deve estar preocupado mesmo com os eleitores que não votam nele de jeito nenhum é João, com uma rejeição estratosférica de 63% — chegando a 70% entre os jovens eleitores de 25 a 34 anos.
Portanto, pela campanha consistente de Edvaldo, mostrando que seu desempenho está calcado no que já fez — na boa gestão de 2008 a 2012, que agora é reavivada na cabeça do aracajuano — e projetado em compromissos sem demagogia, que o eleitorado identifica como possíveis e factíveis para o futuro de Aracaju, não é inadmissível prever que a eleição pode ser decidida já no dia 2 de outubro.