Marcos Cardoso
Jornalista
Estou com um livro na mão. Pego-o com cuidado, mas com vigor suficiente para sentir seu peso e seu volume. Ele tem cheiro, às vezes até sabor. A capa tem o fundo preto e a lombar é chamativa, letras brancas e amarelas douradas. Às vezes se percebe a hierarquia que o autor suporta naquela capa pelo tamanho da letra como está escrito seu nome. Mas nem sempre isso é o mais importante. Quando, por exemplo, a obra fala por si só.
É bom folhear o livro, ouvir o farfalhar das páginas que se sucedem, acompanhando o número em que você está e comparando-o com a paginação total. Não para querer saber o quanto você já andou ou, pior, o quanto ainda falta – se por aflição para ficar logo livre de uma obra que não valeu tanto a pena, ou por preguiça de continuar.
É importante desfrutá-lo por inteiro, desde a capa de folha maleável ou dura, passando da orelha — quanta informação necessária pode estar contida numa orelha! — à ficha catalográfica, aos autores da bela obra gráfica, editores e desenhistas. Não esquecer de observar a editora e onde foi impresso, para o caso de precisar checar uma informação que extrapola o conteúdo em si.
O livro é mágico. Existe há milhares de anos e o papel impresso mecanicamente já nos deleita há mais de cinco séculos. Sem ele seria impossível professar um culto ou brindar um amigo com aquela edição d’Os Lusíadas em papel-bíblia. Será que um pastor ou um padre apontando para uma engenhoca eletrônica consegue passar crédito na sua pregação como algo que está escrito na Bíblia? E um muçulmano, precisa questionar?
Mas a moçada não gosta de livro. Na maioria das vezes é porque vivenciou uma frágil educação, em casa e/ou na escola. Ou porque nasceu num mundo diferente, já dominado pela atmosfera da internet, essa coisa sem a qual não conseguimos mais viver, assim como necessitamos do ar e da água. O mundo evolui.
Mas na evolução da humanidade já matamos as artes plásticas, o teatro, o cinema, o jornal e agora a televisão. Quantas vezes já não matamos o rádio? E ninguém morreu. A fita cassete e o filme em película não morreram, porque seus suportes evoluíram para outras tecnologias. O LP virou cult.
E o mercado de livros não para. Em 2014, antes do aprofundamento da crise político-financeira, a tiragem cresceu 9,3% no Brasil, embora a quantidade de títulos novos no mercado editorial tenha diminuído 8,5%, uma retração vista como um sintoma da dúvida e da prudência de editores com relação ao comportamento da economia, com maior retração observada a partir do ano seguinte.
O mercado editorial brasileiro teve em 2015 uma queda real de 12,63% com relação ao ano anterior. O maior recuo desde pelo menos 2004. Em dois anos o faturamento do setor teve queda nominal de 3,27%: R$ 5,4 bilhões em 2014 e R$ 5,23 bilhões em 2015. A avaliação é que a crise econômica provocou o declínio. Os números estão na mais recente edição da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).
De acordo com os dados do Painel das Vendas de Livros no Brasil, encomendado pelo Snel à Nielsen, no período de 5 de dezembro de 2016 a 1º de janeiro de 2017, as livrarias faturaram R$ 172.677.486,86, valor 0,8% menor do que o apurado no mesmo período do ano anterior. No entanto, no acumulado do ano, o faturamento apresentou queda nominal (desconsiderando a inflação) de 3,09%, totalizando pouco mais de R$ 1,5 bilhão ante R$ 1,6 bilhão apurado em 2015. Considerando a inflação, a queda bateu 9,02%.
Em volume, livrarias e supermercados brasileiros venderam 39.415.660 unidades versus as 44.206.542 vendidas no ano anterior, queda de 10,84%. Para compensar as quedas nas vendas, o preço do livro foi reajustado em 2016 em 8,69% e fechou o ano com o preço médio de R$ 39,77.
Mas o mercado livreiro do Brasil apresenta melhoras em 2017. As primeiras oito semanas do ano apresentaram alta de 5,05% em faturamento e 2,78% em volume na venda de livros, se comparado ao mesmo período do ano passado. Entre 30 de janeiro e 26 de fevereiro, os números são ainda mais positivos: 6,33% em faturamento e 7,85% em volume. O resultado é particularmente positivo por compreender o Carnaval, temporada tipicamente ruim para o comércio de livros.
O mês de maio, últimos dados do setor, manteve a curva positiva dos resultados do mercado livreiro. Os dias analisados mostraram melhora de performance em comparação à mesma época em 2016, com crescimento de 4,13% em volume e 7,27% em faturamento.
A venda de livros digitais não decola e a chegada ao mercado de livros em papel da poderosa Amazon, seus movimentos de abrir lojas físicas nos EUA e o de redirecionar sutilmente seu KDP (Kindle Direct Publishing) igualmente para a impressão de livros em papel trazem um importante significado para todo o mercado editorial brasileiro e mundial.
Já a Associação Brasileira de Difusão do Livro garante que cresceu bastante no Brasil a venda de livros através do método porta a porta. Vá entender. E os livros impressos continuam despontado entre os itens mais vendidos pela internet.
Alguém até já disse que a cultura literária, puxada principalmente pelas obras de ficção e tendo como plataforma os livros de papel, está agonizando e vai mesmo acabar. E outros recursos surgirão ou serão aperfeiçoados.
Mas o livro tem um apelo simbólico muito grande. Além da companhia fácil, a qualquer hora e lugar, ele desperta sensações e sentimentos que a frieza de uma máquina não consegue transmitir. Ou então o homem vai ter que inventar outra coisa que transmita esse prazer tão sensitivo proporcionado pela leitura do bom e velho livro.