Marcos Cardoso
Jornalista
Dizem que os pioneiros do turismo como o conhecemos hoje eram beatos que no século IX organizaram as primeiras excursões pagas para visitar a tumba de Santiago de Compostela, no que depois se tornaram os venerados e frequentados Caminhos de Santiago, rumo à capital da Galícia espanhola.
Canindé de São Francisco foi a Compostela de Silvinha de Oliveira. Ali ela percebeu que as belezas naturais, a intervenção humana e a história impregnada do sangue sertanejo são atrativos tão interessantes para os viajantes quanto os supostos restos mortais de São Tiago, apóstolo de Cristo, o são para os visitantes do mundo inteiro que acorrem àquele canto atlântico da Espanha.
Silvinha desbravou os caminhos para a Canindé banhada pelo abençoado Velho Chico, com seu cânion tão plástico, seus sítios arqueológicos, suas rotas cangaceiras, caatinga, hidrelétrica, águas e céu. E ser humano! Porque ela enxergava que o turismo deve interferir o mínimo possível no meio ambiente e não se faz atropelando histórias de vidas.
Competente profissional como jornalista e como guia de turismo, Silvinha mantinha uma visão holística do objeto do seu trabalho. Uma das suas melhores qualidades era a generosidade que a fazia enxergar que sem o homem e a mulher não haveria o todo integrado. Sem as mãos que tecem não há o artesanato, sem o suor no campo não há os frutos e os quitutes tão apreciados pelos eternamente embasbacados turistas.
Aonde ia, Silvinha transportava mais do que paisagens. Levava o seu povo atrás. Inventou a noite sergipana na europeia Gramado, onde não dispensava as rendas, as comidas típicas e o forró, sempre acompanhados das rendeiras, das cozinheiras, do trio nordestino. O nosso povo. E emplacou esse conjunto natural e humano na novela global “Cordel Encantado”, sucesso de público e crítica além-região.
Com sua generosidade, estava sempre “inventando” um restaurante novo, uma goiabada e um queijo com sabor da terra, um passeio diferente, uma nova história para contar. Ela adorava contar histórias simples das pessoas comuns.
E esse contato com as pessoas e os lugares era a força motriz do seu trabalho, energia vital que a mantinha sempre sorrindo, apesar das adversidades. Com o apoio incondicional e sincero do amado Silva Júnior, companheiro na profissão e na vida, Silvinha lutou contra a doença terrível como aquele viajante experimentado e confiante que sempre pegava a estrada crente de que o destino o traria de volta, como sempre acontecia, mas que num dia fatídico foi traído por um acidente no caminho.
Ela saía da sua Compostela e pegava a Rota do Sertão certa de que logo trilharia o caminho de volta. Numa sexta-feira, 8 de junho de 2012, não voltou. Todos aqueles que foram ajudados por ela, que a conheceram ou apenas sabiam da sua existência lamentaram a morte prematura de uma mulher que ainda tinha tantos lugares e sonhos a percorrer. Mas consolam-se na esperança de que Silvinha, cidadã do mundo, inventou um novo caminho, dessa vez rumo às estrelas.