Negros são 0,5% dos bilionários


Marcos Cardoso
Jornalista

O mundo é hoje habitado por 7 bilhões de humanos. Quase metade desses é da etnia branca ou caucasiana, predominante na Europa e na América do Norte, mas também muito presente na América do Sul, no norte da Ásia e na Oceania (Austrália e Nova Zelândia), África do Norte e Oriente Médio.

Mais ou menos 40% dos humanos são amarelos do leste e sudeste asiáticos ou mongóis da Ásia central e seus descendentes espalhados pelo mundo, incluindo Europa e América. A propósito, o Brasil possui a segunda maior população japonesa do planeta.

Há dezenas de povos indígenas em praticamente todos os continentes. Alguns desses povos, como os americanos, já foram considerados amarelos, mas nunca mais confunda, eles constituem grupos humanos distintos.

E há os 10% da etnia negra, ou 700 milhões da população mundial, incluindo os africanos, os afrodescendentes da América e da Europa, os melanésios da Oceania, os drávidas do sul da Índia e outros.

Pois dentro desse caleidoscópio étnico mundial existem neste momento exatas 2.043 pessoas que conseguiram acumular mais de 1 bilhão de dólares, segundo o ranking deste ano da revista Forbes. Desse total, apenas 10 são negros. Isso mesmo, apenas 0,49% dos bilionários existentes no mundo são negros.

São seis africanos (três nigerianos, um etíope, uma angolana e um sul-africano), três norte-americanos e um britânico — sete são homens e três são mulheres.

Ou seja, 10% da raça humana é negra, mas apenas metade de 1% de representantes dessa etnia está entre aqueles 2.043 afortunados considerados os mais ricos, os que possuem na conta pessoal mais de 1 bilhão de dólares.

Somente nos Estados Unidos há mais de 500 bilionários, mas apenas três negros estão na famosa lista. Com essa comparação superlativa, vê-se também por aqui como é universal o que o negro precisa enfrentar para buscar a semelhança com principalmente os brancos. Vida de negro é difícil lá e cá.

No Brasil, há 30 bilionários, segundo o critério da Forbes. Nenhum é afrodescendente. Mas a boa notícia é que cresceu neste século o número de pretos e pardos considerados ricos. Segundo o IBGE, o 1% mais rico é formado por 79% de brancos e 17,4% de negros — classificação usada pelo instituto para os que se autodeclaram pretos e pardos. Há dez anos, a presença deles era de 12,5%.

Nesse caso, considera-se rico quem ganha mais de R$ 260 mil por ano. Esse seleto grupo reúne 1,4 milhão de pessoas adultas no Brasil. Dentre eles há cerca de 250 mil negros. Parece muito, mas ainda é muito pouco, na verdade, quando se sabe que mais da metade da população brasileira é declaradamente preta ou parda, um contingente superior a 100 milhões de pessoas.

E esse número é inversamente proporcional aos que estão na base da pirâmide social, sofrendo as agruras do desamparo e da violência. O negro sofre para subir na vida e é a maior vítima da pobreza e da criminalidade.

Segundo o Mapa da Violência 2016, em 11 anos — entre 2003 e 2014 — caiu no Brasil o número de homicídios por arma de fogo entre os brancos: de pouco mais de 13 mil para quase 10 mil por ano. Mas entre os negros, a taxa de homicídios que já era alta cresceu ainda mais: de 20 mil para quase 30 mil por ano.

Em Sergipe, por comparação, o que aconteceu foi bem pior. O número de homicídios por arma de fogo entre brancos subiu de 51 para 69 por ano (crescimento de 14%). Entre negros, saltou de 200 para 822 por ano (crescimento de 247%).

A taxa de homicídios entre brancos no ano de 2014 foi de 14,3 por cada grupo de 100 mil habitantes. Entre negros, foi de 49,7/100 mil.

Além de jovens pobres do sexo masculino, as principais vítimas são invariavelmente os negros. É o retrato em preto, branco e vermelho do preconceito arraigado na nossa sociedade patriarcal, patrimonialista e elitista, que odeia programas governamentais que beneficiem os pobres, porque acha que para eles não há remédio, quando ela é que parece não ter cura.

E a epidemia se estende além fronteira. A miséria da América Latina, se hoje é menos debitada aos países exploradores, agora está na conta do capital especulativo abutre, que faz um bilionário (de qualquer etnia) do dia para a noite à custa da desgraça de milhões de seres humanos, e da insensível elite, que prefere apostar no egoísmo, na demofobia e no preconceito a buscar investir na solução de um problema que acredita cegamente nunca a afetar.

Enquanto cidadãos, os negros têm direitos e deveres. Mas a raça negra não deve nada à sociedade, pelo contrário. É credora pelo que sofreu, ainda sofre e, principalmente, pela imensa contribuição dada ao Brasil e ao mundo.

Algo que os brancos ricos, odientos e socialmente cegos como um Bolsonaro jamais vão conseguir enxergar.