Ditadura nunca mais


Marcos Cardoso
Jornalista

No dia em que ouvimos surpresos o deputado Gilmar Carvalho afirmar no seu programa de rádio que não há saída política, porque os políticos são todos corruptos, e a solução para o Brasil é a intervenção militar, logo depois de o experiente advogado Evaldo Campos defender que os militares “são patriotas que estão com o coração sangrando” e que a intervenção militar, mesmo que ilegal, pode ser legítima, foi decretado o “estado de sítio” no Distrito Federal. Coincidência?

Desde que Lula chegou ao poder que os ânimos estão acirrados, muito por culpa da imprensa que insufla o ódio à esquerda, especialmente ao PT. De ares inicialmente contidos, o acirramento cresceu quando a economia já não foi mais tão robusta e ganhou aspecto de guerrilha após um irresponsável e criminoso como Aécio Neves não se conformar com a derrota para Dilma Rousseff em outubro de 2014. De lá para cá acabou-se a paz social e a economia foi à bancarrota.

Quando se consumou o golpe contra Dilma e Michel Temer assumiu um governo ilegítimo muitos que torciam contra a presidente afastada caíram na real e perceberam a besteira que haviam feito. E quando o presidente usurpador foi flagrado em ato explícito de corrupção, deu-se a convicção coletiva de que além de ter a carne fraca ele não possui autoridade ética e moral para permanecer no cargo.

Temer tem que sair e isso acontecerá mais cedo ou mais tarde. O que virá depois ainda não se sabe. Mas é improvável que sejam antecipadas as eleições diretas para a escolha do novo presidente. É provável que o Congresso eleja o sucessor que deverá ficar no cargo até o fim do atual mandato, em 2018, quando, finalmente, um mandatário novamente escolhido pelo povo terá a oportunidade de colocar o país de volta ao rumo do crescimento.

Se o script está mais ou menos traçado, não há porque o Exército atender a um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, uma espécie de estado de sítio em área restrita, de legalidade discutível assinado por um presidente já no estertor do seu ilegítimo mandato. Se o Exército é hoje uma força profissional que presa pela democracia, que não se envolva num problema que cabe à classe política e ao Judiciário resolver.

Os profissionais militares ainda sofrem as consequências dos 21 anos de chumbo que impuseram ao Brasil até 1985, quando se retiraram das ruas e voltaram à caserna execrados pela opinião pública. Que os oficiais contenham seus arroubos intervencionistas e não cometam a mesma estultice de novo. Para o bem do Brasil.