Marcos Cardoso
Jornalista
Mais poderosa do que qualquer PT, PMDB e PSDB, capaz de influenciar os governos há pelo menos 30 anos, a Construtora Norberto Odebrecht sempre jogou nos bastidores da política, enquanto aparecia publicamente liderando o setor de engenharia com obras gigantescas em áreas como transporte e logística, energia, saneamento, desenvolvimento urbano, mineração e edificações.
Agora, forçada por nada nobres circunstâncias, numa jogada aberta ao público a Odebrecht fez um strike: acertou de um único arremesso todos os pinos, derrubando os grandes partidos e seus líderes, ao centro, à esquerda ou à direita da pista. Mas o próprio jogador escorregou e caiu.
No STF, o ministro Edson Fachin autorizou a abertura de inquéritos contra 80 políticos com foro privilegiado delatados por executivos da empreiteira. A lista do Fachin envolve em suspeitas de corrupção nove ministros do governo Michel Temer, 28 senadores e 42 deputados federais, além de 12 governadores — incluindo Geraldo Alckmin —, ex-ministros, prefeitos e outros políticos. Inclusive Dilma, Lula e FHC.
São mais de 200 políticos citados, contando aqueles encaminhados a outras instâncias do Judiciário. Temer também foi delatado, mas não responde à justiça enquanto ocupar a presidência da República.
O senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foram citados por sete delatores. Mas os investigados com foro privilegiado que responderão maior número de inquéritos são os senadores presidentes do PSDB, Aécio Neves, e do PMDB, Romero Jucá. Cada um responderá a cinco inquéritos, enquanto o ex-presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros, responderá a quatro inquéritos.
É também Aécio um dos campeões de crimes a serem apurados, ao lado de José Serra, Aloysio Nunes, Renan, o também senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB). Eles são investigados por cinco crimes: corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, fraude em licitações e cartel. O líder do golpe contra Dilma revela-se um criminoso contumaz.
Desde que a Lava Jato começou, há três anos, já são 32 políticos do PT citados, investigados, denunciados ou condenados. Do PMDB são 23, do PSDB são 18 e do DEM, nove. O PSB e o PSD têm cinco cada. O partido campeão da corrupção é o PP, com 40 envolvidos.
Ser alvo de investigação não significa, a princípio, que algum deles seja culpado. Mas o estrago já estáfeito. Inclusive para Lula, agora definitivamente nas mãos de Sérgio Moro. Fachin remeteu ao juiz federal do Paraná também cinco pedidos de investigação contra o ex-presidente.
As petições se referem à suposta atuação do petista para favorecer o Grupo Odebrecht em Angola, a pagamentos de palestras e à reforma do sítio em Atibaia, supostamente de uso da família Lula, além de pagamentos para facilitar a aprovação de uma Medida Provisória que beneficiaria a empreiteira e uma mesada paga pela empreiteira a Frei Chico, irmão do ex-presidente. Lula já é réu em cinco processos, sendo três no âmbito da Operação Lava Jato.
Um pedido de abertura de investigação enviado ao Paraná envolve também Dilma Rousseff.Delatores afirmaram que Lula teria se comprometido a melhorar a relação entre a empresa do cínico Emílio Odebrecht e a então presidenta petista em troca do apoio da empreiteira à empresa de futebol americano do filho Luís Cláudio da Silva.
E Fachin remeteu à Justiça de São Paulo uma sexta petição envolvendo Lula. Trata-se da suspeita de caixa 2 para beneficiar a campanha do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Com Lula fora do páreo, com os caciques tucanos Alckmin, Serra e Aécio já combalidos pelo desgaste, com um PMDB em farrapos, corremos o risco de assistir a presidência da República cair no colo de um aventureiro como o boneco de ventríloquo João Dória, o novo bibelô da velha imprensa e dos endinheirados paulistas. Alguém lembrou de 1989?
Como se vê, nem tudo é tão ruim que não possa piorar.