Esta semana, o portal Só Sergipe conversou com o ex-presidente da Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais (Ancev), atual membro do conselho consultivo, Ernísio Martines Dias, sobre o momento em que vivem os empresários do setor. E nós em parceria com o portal reproduzimos aqui no Caderno Mercado essa relevante entrevista.
Ernísio Martines Dias, acredita que as pessoas trabalhando em home office poderão ter queda de produtividade e criatividade e que somente 30% delas manterão esse esquema de trabalho pós pandemia do coronavírus. Ele deu um recado incisivo para os executivos, sejam eles filiados a Ancev ou não, para o retorno ao trabalho quando houver liberação das autoridades médicas: “sem inovação, sem criatividade, teremos dificuldades”. Ernísio diz, ainda, que para os empresários acostumados a reuniões em coworking e escritórios virtuais, fazer network, trocar experiências com outros pares é extremamente importante.
SÓ SERGIPE – Como será o retorno dos negócios para este setor, já que muita gente, neste momento, está em home office?
ERNÍSIO DIAS – O home office, há muito tempo, vem sendo usado com dificuldades, eu diria com mais prejuízos do que benefícios. Uma boa gama de trabalhadores, falando somente de atividades de escritórios, possui grandes dificuldades de se adaptarem ao convívio do home pela interferência do ambiente nas atividades, seja reduzindo a produtividade ou a criatividade.
SS – A pouca produtividade seria pela não adaptação ao home office?
ED – A redução de produtividade e criatividade, com o passar dos anos, foi criando um estigma ao home office, fazendo com que muitos que mesmo nunca o terem utilizado, já partiam para a condição de que “não me adapto” e pronto. Vem um pouco daí o grande sucesso do coworking. Com a obrigatoriedade da quarentena, muitos foram obrigados a testar, e viram que na verdade não é tão ruim assim. Por outro lado, desaparece um pouco aquela “timidez” de se sentir o “patinho feio” por usar home office, pois já que todos estão sendo obrigados a usar, “não sou o único”.
SS- Mas alguns podem se adaptar e não voltar para os escritórios?
ED – Podemos prever que um bom percentual, eu diria, algo próximo dos 30%, poderão não ter mais interesse em voltar para os escritórios convencionais. Se adaptaram. Mas, depois disso, vem aqueles probleminhas lá do passado. Por exemplo, como vou receber um cliente? A mobília, não é exatamente ergonômica como era a do escritório. Começo a fazer atividades do lar, ao invés de realizar o trabalho, e por aí afora. Novamente está lá a solução esperando. O escritório virtual. Ajuda muito nessas situações. O coworking ajuda a não se sentir isolado das opiniões de outros em um network. O homem é naturalmente um animal sociável. Isso não vai mudar, ao menos por enquanto.
SS – O home office será uma tendência?
ED – Sim, como concluímos acima, vemos que sempre foi uma tendência, mas nunca explodiu de fato. Em 1997, tivemos um grande evento em São Paulo com o cunho base do home office. Foram apresentados vários modelos das novas tendências. Todos eles despontavam como novas alternativas para o futuro do trabalho. O home office estava em alta, como uma grande tendência, mas tínhamos os businesses centers, o space-planing, o telecomuting e os escritórios virtuais, os quais fui encarregado de defender, pois estava iniciando o nosso segmento aqui no Brasil. E a conclusão em uma mesa redonda ao fim do simpósio foi que nenhum desses modelos sobreviveria sozinho. Porque todos apresentavam suas vantagens e benefícios, mas deixavam aparecer seus pontos fracos em que o outro sistema dava a cobertura. E é isso que até hoje acontece.
SS – O que fazer para atrair antigos e novos clientes?
ED – Sendo bastante direto, a fórmula é universal. Qualidade, qualidade e qualidade.
SS – Qual será o diferencial ?
ED – Mostrar que o espaço apresenta total segurança, com tudo aquilo que sempre foi necessário e agora se soma a segurança com a saúde dos integrantes.
SS – Que orientação o senhor dá para os empresários filiados a Ancev neste momento?
ED – Não só aos afiliados a Ancev. Aprendemos desde os já longínquos anos 90, que o nosso segmento venderia “flores e lenços”. Na ascensão da economia, os empreendedores que não querem ou não podem investir muito, nos procuram, pois somos uma alternativa bem viável para vários nichos de mercado. Nas crises também somos bem-vindos por aqueles que estão nos modelos convencionais e começam a rever seus custos, chegam a nós também como uma boa alternativa de se manterem em uma infraestrutura robusta e com custos reduzidos. Catamos laranjas dos dois lados da estrada. Se a economia cresce extremamente rápida, um grande percentual sai da posição de empreendedor e vai direto para o convencional ou pelo menos para o modelo mais confortável sem se preocupar muito com o custo, fazendo um by-pass pelo nosso modelo intermediário. Se a recessão se apresenta, a curva se inverte e começamos a perder aqueles pequenos que optaram pelo nosso modelo, mas não haviam subido para o convencional, mas em contrapartida, começamos a receber aqueles que estavam no convencional e reavaliam, fazendo a opção por nós. No entanto, alerto aos mais otimistas para se manterem com os pés no chão e tomarem cuidado com a euforia.
Há neste caminho um degrau que aumenta ou diminui com a severidade da curva tanto em ascensão como em declínio. Desta forma teremos que ser muito, mas muito mais criativos do que pensávamos em ser antes desta fatal situação. Sem a inovação, sem a criatividade, teremos muitas dificuldades. Portanto aquele que se preparou para o pior e encontre as saídas corretas, estará na frente daquele que achou que tudo será como antes, e bastará passar a tempestade que teremos a bonança.
Fonte: Portal Só Sergipe