Em 19 de novembro é comemorado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. No Brasil, a representatividade feminina nos negócios vem crescendo gradativamente: segundo estudo da Rede Mulher Empreendedora, a presença das mulheres à frente de empresas cresceu 40% em 2020. Atualmente, elas são mais de 30 milhões, representando 48,7% do universo empresarial, conforme dados da Global Entrepreneurship Monitor.
A jornada, no entanto, ainda é desafiadora: a RME aponta que 40% das mulheres não possuem capital inicial, 57% delas não contam com colaboradores nos primeiros anos de empresa e 52% possuem filhos para cuidar.
Mas ressignificar cada obstáculo é o que faz das empreendedoras executivas de sucesso. Sheila Censi Braun, diretora executiva da Censi Máquinas, e coordenadora do Núcleo Têxtil da Associação Empresarial de Gaspar (Acig) é exemplo disso no empreendedorismo feminino. Hoje à frente da indústria de máquinas, equilibra ainda a função de mãe de gêmeos, e acredita que o autoconhecimento é chave para uma gestão de sucesso, tanto nos negócios quanto na vida pessoal. “É inerente à mulher a habilidade de gestão, já que cotidianamente estamos conciliando a família, o trabalho e o cuidado pessoal. Acredito que esta seja a vantagem da mulher, que pode se aprimorar como profissional com os desafios da maternidade e também se desenvolver como mãe com a satisfação obtida no trabalho bem feito”, cita.
Já Regina Sardanha é diretora executiva do Grupo Linear, empresa pioneira no desenvolvimento de ralos lineares no Brasil. Hoje, a indústria que nasceu na garagem de uma casa, tem atuação em nove países da América Latina e mais de três mil pontos de venda, além de um crescimento médio de 30% ao ano. A executiva esteve à frente do negócio desde a sua fundação, em 2012. “A sensibilidade da mulher sempre foi questionada, mas eu não acredito que essa condição emocional seja algo negativo como sempre taxaram. A intuição feminina potencializa a visão analítica dentro dos negócios e por isso não devemos nos deixar intimidar. A mulher pode tudo aquilo ao que se propõe e acreditar em seu potencial é determinante para que o protagonismo feminino alcance o patamar da equidade”, aponta.
Na área da saúde, Clarissa Serpa, médica pediatra, divide as UTIs neonatais com uma nova função: a de comandar a incorporadora que fundou junto com o marido há cerca de oito anos. A mescla de áreas profissionais com suas respectivas exigências, segundo ela, só é possível graças ao poder feminino de conseguir desempenhar mais de uma atividade com a dedicação que cada uma merece. “A competição está presente em todos os mercados. Porém, tanto na medicina quanto na construção civil, a mulher vem ganhando espaço pela construção social dinâmica e evolutiva que vem se estruturando. A polivalência, que é a característica que se destaca no perfil feminino, o esforço e a resiliência torna a dissolução dos problemas durante a jornada empreendedora muito mais fácil e gratificante”.
Para Raquel Leidens, diretora de operações e sócia da agência Seven, fortalecer o protagonismo feminino inicia pela educação e cabe aos líderes fomentar na cultura da empresa a equidade. “Essa é uma pauta urgente no mercado e deve ser abraçada por todos. Estamos longe de ter igualdade. Após ser mãe, para mim, ficou muito claro porque tantas mulheres abrem mão das suas carreiras. Nosso país não proporciona nem um período de licença maternidade justo. Após quatro meses a mulher precisa abrir mão de priorizar seu filho tão pequeno, para retornar ao mercado de trabalho. E, mesmo assim, terá que conciliar uma sobrecarga de trabalho profissional e pessoal. Por isso, a promoção, pelas empresas já estabelecidas no mercado, de um espaço de oportunidades iguais é de suma importância para incentivar o diálogo, o encorajamento, a conscientização e, consequentemente, um futuro melhor e uma sociedade mais justa”, diz.
Na tecnologia, elas ganham cada vez mais espaço
Daniele Amaro passou por cargos executivos de grandes empresas até se tornar CEO & Co-Founder da Paytrack, empresa de tecnologia que desenvolve soluções de gestão de viagens e despesas corporativas. Em um universo ainda majoritariamente masculino, tem mostrado que no ecossistema de inovação elas têm vez e voz. “A abertura para o debate de temas sociais, como a inclusão feminina e a pluralidade dentro do mercado de trabalho, trazem avanços que vão desde a consciência do potencial feminino e sua visão sistêmica dos negócios até a ampliação de investimentos em empresas lideradas por mulheres. A tendência é que essa atuação cresça e, com a falta de mão de obra qualificada, o mercado não pode mais se dar ao luxo de perder talentos pelo ponto de vista antiquado do que seria o papel da mulher na sociedade”, avalia.
Formada em Ciências da Computação há quase duas décadas, Adriana Bombassaro entrou no setor de tecnologia quando poucas mulheres se propunham a isso. Criou uma carreira executiva de sucesso até que resolveu empreender – é co-fundadora e diretora de operações da FastBuilt, startup especializada em automação para a construção civil e gestão do pós-obra. Além dos desafios da carreira, enfrentou o desafio de ser mãe, quando durante uma década se submeteu a tratamentos e enfrentou perdas para realizar o sonho de ter um filho.“Atuar em uma área majoritariamente masculina sem dúvidas é um desafio. Mas ele pode e deve ser enfrentado com a demonstração das potencialidades e competências que a mulher possui. Estar consciente do seu objetivo e trabalhar para colocá-lo em ação, além de estar aberta a novas ideias é um passo fundamental para maximizar a presença feminina no mercado de trabalho”, finaliza.
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