O mundo das comunicações é genial, dinâmico e, por que não? ousado. Mas, para se dar bem na indústria da mídia, o primeiro passo é entender o modelo de negócios que está por trás — e esse costuma ser o erro mais comum dos empresários, acionistas, diretores e CEOs. Erro que faz com que os números apontem o fracasso imediato, enquanto os líderes investirem no lado errado. Teimosia. E incapacidade.
O primeiro passo é compreender para que serve um meio de comunicação (quem disser que é para produzir notícias, pode fechar hoje mesmo o veículo). E qual o seu papel na sociedade (quem arriscar algo como o sexto poder, melhor nem voltar das férias). Veículo de comunicações, seja ele qual for, serve para aproximar o cidadão da sociedade em que se encontra. Ou seja, para que fulano seja aceito e se transforme em alguém interessante na sua bolha, ele precisa de informações, de conhecimento. A mídia é um meio rápido de propagação desse conhecimento — ainda que, na maioria das vezes, se utiliza de notícias (informações novas de algo que aconteceu nas últimas horas).
O meio de comunicação, portanto, é um intermediário entre o cidadão e seu universo. Ajuda na obtenção desse conhecimento rápido. Por isso mesmo precisa ser confiável e carrega uma força impressionante de poder sobre o cidadão que o segue. Só que, no mundo de 2020, há inúmeros intermediários disputando o mesmo tempo do mesmo cidadão. Os meios tradicionais que não se deram conta dessa nova concorrência definharam. Perderam espaço. Muitos fecharam as portas.
Então, os meios de comunicação não são mais os donos da informação. Disputam espaço com várias outras plataformas como intermediários entre o cidadão e a sociedade. Pior, não é só o conteúdo jornalístico que chama a atenção do ser humano: no mesmo intervalo de tempo entre a santíssima trindade do homem (dormir—trabalhar—divertir), os meios de comunicação buscam brechas lutando contra filmes, músicas, jogos e outras invenções que se oferecem ao mesmo homem. Fora as necessidades básicas, alimentação, exercícios, chope com os amigos, levar filhos na escola, ficar trancado no trânsito, ir ao mercado etc. E o dia só tem 24 horas.
Mas os meios de comunicação têm uma vantagem competitiva: na medida em que fazem (bem) esse papel de intermediário, podem (devem) ganhar relevância, criar o sentimento de dependência do cidadão. E isso se transforma em assinatura — um compromisso financeiro do cidadão com o meio. Essa é a maior virtude de um meio de comunicação e, casualmente, onde mais as empresas erram. Desinvestem em qualidade, tentam reduzir custos retirando talento de suas redações. O que faz o cidadão, ao se dar conta que o meio não acrescenta valor? Deixa de ser um “cliente”. Cancela a assinatura. Vai deixando de seguir o meio — e o pior dos mundos é quando ele se dá conta que tanto faz, que não perdeu nada.
Meios de comunicação que conquistaram audiências são os preferidos pelos anunciantes. Claro, você prefere anunciar para dez pessoas ou para dez milhões? Você acha mais eficiente um anúncio em um meio sem relevância ou em um que serve de se formador de opinião? A roda se mexe, o negócio está exatamente nessa equação. Meios relevantes conquistam audiências e, por tabela, anunciantes.
Nada melhor do que começar o ano entendendo o modelo de negócio das comunicações. Acabou o tempo de vender espaço nos veículos, como se fossem terrenos. Não somos corretores de imóveis. O Grupo Nación, da Costa Rica, por exemplo, fatura alto administrando um parque de diversões e eventos. Ou seja, entretenimento é um modo de aproximar o cidadão da sociedade. Não é preciso investir na Disney World. Há inúmeras outras formas, basta colocar a cabeça para funcionar. E não ter medo de mexer nos dogmas.
Comunicação é meio. E os meios precisam sempre colocar em prova sua necessidade. Ou morrem.
Fonte: Meio&Mensagem