De lâminas de barbear, passando por vinhos a livros, modalidade encontra potencial no Brasil, mas ainda esbarra em aspectos culturais
De um lado, sites que oferecem acesso a produtos de nicho mediante pagamento mensal pelo consumidor. De outro, uma representação dos avanços de produção do sistema capitalista do século XX. À primeira vista, termos desconexos mas que olhados um pouco mais de perto, exemplificam o investimento em comunidades de associados por parte das marcas e empresas brasileiras, que estimulam cada vez mais diferentes formas de consumo. No entanto, apesar de prometerem uma série de vantagens, como descontos, o modelo de grupos de compras ainda não se consolidou entre os consumidores do País.
Os dados são da Conecta, plataforma web do Ibope Inteligência, que analisou dois mil internautas em setembro de 2016, por meio de uma pesquisa nacional online. Nela, foi constatado que os clubes de assinaturas geram a adesão de um em cada cinco usuários de internet , somando 19% dos respondentes, enquanto 42% nunca abraçaram a ideia.
“Esse é um mercado que exige uma mudança de cultura”, explica Pedro Guasti, CEO da e-Bit. Uma vez que entre os ramos mais procurados, segundo estudo da Conecta, são livros, produtos de beleza e higiene, games, vinhos, comida e cerveja, o público-alvo de clubes concentra-se em pessoas que consomem de forma recorrente e que possuem receita para agregar pagamentos periódicos. “Isso assusta o brasileiro, porque ele está acostumado a pagar, mensalmente, serviços como conta de celular e TV a cabo”, adiciona o executivo.
As assinaturas começaram no Brasil e no mundo, basicamente, com a migração da venda de jornais e revistas para o universo da internet. “Com o tempo, isso acabou estimulando o empreendedorismo e os empresários viram a possibilidade nesse modelo, principalmente quando se tratava de um consumo não durável”, explica Guasti.
Apesar de não possuir nenhum número de demandas e problemas a respeito, Fátima Lemos, assessora técnica do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), responsável por mediar os conflitos entre consumidores e empresas, alerta sobre aquisições desnecessárias. “O consumidor tem que, sempre, consumir o que não necessita, ou seja, comprar algo que nem estava pensando em comprar. Ele tem que ter essa cautela, ver o que se fala sobre o produto nas mídias e, se está confiando um pouco mais na marca ou empresa, não comprar aquilo que é desnecessário”, ressalta Fátima.
Porém, grandes empresas como a Gillette, com seu clube de compras de lâminas de barbear, e o Grupo Abril, com o portal GoBox, responsável por reunir 14 parceiros, encontraram oportunidade no mercado varejista, mesmo num cenário em que 18% dos entrevistados pela Conecta Express nem sequer sabem o que é um clube de assinaturas,
“O maior desafio é explicar para o leitor, fazer o consumidor entender o que é um clube de assinatura de vinhos, cervejas e meias, por exemplo, e fazer uma logística perfeita e correta de todos os produtos”, diz Dimas Mietto, diretor geral da GoBox. O executivo projeta faturamento de R$ 100 milhões em um prazo de três anos, desde que foi criado o portal em setembro de 2016. “Dentro da Editora Abril, nós temos todos os recursos necessários para fazer um clube ser um sucesso: experiência de 50 anos, banco de dados, área de distribuição, a mídia de todas as revistas e conhecimento de marketing”, acrescenta Dimas.
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