Uma pesquisa sobre hiperconectividade lançada em 2018 da Tic Kids Online – Brasil revelou que 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, de 2.964 famílias, estavam conectadas. O celular era, disparado, o dispositivo mais utilizado (90%). A pesquisa apontou ainda que 71% dos conectados era do sexo masculino e a atividade, jogos online.
A mostra apontou riscos de conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono (20%) e acesso a imagens ou vídeos de conteúdo sexual (16%). No total, 24% ficaram muito tempo na internet e 25% não conseguiram controlar o tempo de uso, mesmo tentando passar menos tempo na internet.
Os dados são de um cenário de aproximadamente de dois anos antes da pandemia e a necessidade de isolamento social. Os números já chamavam a atenção das psicólogas Flor Teixeira, mestra em Psicologia Social, psicóloga infantil e juvenil, professora-preceptora de Psicologia Escolar e Organizacional da Unit e Luciana Uzêda, psicóloga infantil e juvenil, psicóloga escolar dos colégios Módulo e do Salvador, em Aracaju(SE), que observando o número de pacientes em seus consultórios perceberam uma conexão. Com o intuito de alertar sobre os problemas da hiperconectividade, as sócias decidiram lançar a campanha #desconecta #menostela #maissaude – Conecte-se ao que importa!
“A cada dez pacientes que atendo, sete são do sexo masculino e cinco já afirmaram que estão viciados em jogar vídeo game, inclusive, um deles afirmou que “a única felicidade dele hoje era jogar”. Já estava preocupada com essa necessidade exacerbada de se manter conectado que foi enfatizada ainda mais com a pandemia. Primeiro para cumprir as atividades escolares, segundo para manter o contato com os amigos e familiares e agora como única possibilidade de lazer para as famílias”, relata Flor Teixeira.
Flor relata que, no primeiro momento, foi a primeira a solicitar aos pais flexibilidade na rotina das crianças e adolescentes. Entretanto, alguns pais pararam de supervisionar e de direcionar o uso e, assim, a hiperconectividade apareceu e o uso problemático passou despercebido.
“E somente agora, notaram os prejuízos na saúde física e mental. Os meninos aumentaram ou perderam peso porque preferem não comer para não perder tempo. No que diz respeito à saúde mental, apresentam irritabilidade, comportamentos ansiosos, estresse. Na função acadêmica há desinteresse pelos estudos, baixo rendimento e estão sem saber como reorganizar o uso saudável da internet”, revela.
Conecte-se ao que realmente importa
“Trocamos a chupeta pelo Tablet! Estamos no momento mais conectado das nossas vidas, e é justamente nesse ponto onde mora o perigo. Nada mais é atrativo para os nossos jovens, pois é no mundo virtual que eles encontram prazer, interação, anonimato, liberdade, mas é também onde eles perdem a oportunidade de praticar habilidades importantes que se desenvolvem na interação presencial, no contato com a natureza, por exemplo”, reflete a psicóloga Luciana Uzêda.
Ainda de acordo com Luciana, a acessibilidade instantânea dificulta a necessidade de espera. As crianças e adolescentes têm acesso a tudo a qualquer momento, com direito a “reprise e o poder do pause”.
“Os pais ficam esperando que eles, automaticamente, desenvolvam comportamentos de autocontrole e automonitoramento. Isso não vai acontecer! Precisamos ensinar, direcionar, limitar o tempo de uso, sem pular as refeições ou a hora do banho. A interatividade das telas não substitui e são limitadas em comparação com o ensino do adulto. Por isso, precisamos ser modelos também. O principal argumento que escutamos das crianças é ‘mas ela/ele também não sai do celular’, em referência aos pais. Queremos deixar claro que a solução não é o ‘não usar’, mas orientar sobre o uso, usar de forma consciente e isso envolve todos os membros da família”, pontua.
Dicas
A campanha traz algumas dicas sobre como manter o equilíbrio e uso consciente da tecnologia e evitar a hiperconectividade:
– Mantenha horários de sono e alimentação;
– Monitore e observe o que os filhos estão assistindo ou jogando;
– Estabeleça momentos off line e invista em programas familiares;
– Estimule atividades físicas, sociais e culturais;
– Antes de ligar o celular ou tablet, conecte-se ao que realmente importa: as pessoas.
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