Especialista internacional destaca as 13 áreas que desenvolvem projetos de inovação mais promissores na região
Na América Latina, novas tecnologias podem apresentar soluções para grandes desafios. Em 2021, as startups da região atingiram recordes em financiamento – ano em que 18 empresas latino-americanas alcançaram o status de unicórnio (startups com valor de mercado de US$ 1 bilhão antes de abrir o capital). Embora em 2022 as entradas de capital tenham sido mais discretas, as perspectivas para a região continuam promissoras no curto prazo.
Com 214 milhões de habitantes, o Brasil é a maior economia da América Latina e representa 54% do mercado digital da região. Somente São Paulo contribui com 3% do PIB do Brasil e tem o maior hub do país e da América Latina, abrigando nada menos que 12 unicórnios, além de empresas que já fizeram IPOs de sucesso. Como resultado, as startups sediadas na cidade têm perspectivas de crescimento mais fortes por conhecerem bem o seu próprio mercado.
O México é o segundo país que mais se destaca em inovação na região. A capital mexicana, Cidade do México, é a segunda no ranking dos ecossistemas empreendedores latino-americanos. Apesar de menos da metade da população adulta ter acesso a serviços bancários, são as fintechs que vêm atraindo investimentos. Quatro dos cinco unicórnios da cidade também atuam nesse setor.
O ecossistema de Buenos Aires é o terceiro mais significativo da América Latina e foi responsável por 67% do investimento recebido pelas startups argentinas em 2021. A esse hub seguem o de Santiago do Chile (Chile), o de Bogotá (Colômbia), Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru).
Na opinião de Durval Garcia, diretor de inovação da consultoria internacional G.A.C. Brasil, apesar dos conflitos político-econômicos da região, os empresários latino-americanos têm a habilidade de enxergar oportunidades mesmo em tempos difíceis. “As formas de inovação, como o próprio termo sugere, estão também em constante mudança. É preciso estruturar as empresas para que se organizem de modo mais coerente com sua estratégia e possam desenvolver projetos bem-sucedidos de inovação, garantindo um aumento de receita e competitividade”. O executivo revela as principais áreas emergentes de inovação na América Latina:
- Fintechs: “A indústria financeira tem visto um enorme crescimento no número de fintechs – empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais. Isso inclui inovações em pagamentos móveis, serviços bancários digitais, criptomoedas, e empréstimos peer-to-peer, entre outros.
- Agtechs: “As agtechs, que oferecem serviços e novas tecnologias para o segmento agrícola, representam outro importante grupo de inovação, dada a importância da agricultura para muitas economias da região. Inovações aqui incluem o uso de big data para melhorar os rendimentos das colheitas, robótica para automatizar tarefas agrícolas, tecnologia de blockchain para rastrear a proveniência dos alimentos, uso de nanotecnologia no solo, e inteligência artificial na identificação de pragas, entre outros”.
- Edtechs: “A pandemia de Covid-19 destacou a importância da educação a distância e acelerou a adoção de tecnologias de aprendizado online. Inovações incluem plataformas de aprendizado personalizado, MOOCs (Cursos Online Abertos e Massivos), gamificação e realidade virtual para educação”.
- Energias Renováveis: “Com a crescente consciência global sobre as mudanças climáticas, a América Latina tem visto um aumento no interesse e investimento em tecnologias de energia renovável. Isso inclui inovações em energia solar e eólica, além de tecnologias emergentes como energia das marés e energia proveniente de biomassa (particularmente importante para o Brasil)”.
- Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs): “A região tem se destacado no desenvolvimento de soluções inovadoras em TICs, abrangendo desde infraestrutura de banda larga até soluções em nuvem e cibersegurança”.
- Startups e Ecossistemas de Inovação: “Há uma crescente cultura de startups, com muitas cidades desenvolvendo ecossistemas de inovação fortes e vibrantes. Isso tem sido acompanhado por um aumento no financiamento de venture capital na região, além da criação de aceleradoras e incubadoras”.
- Economia Digital e E-commerce: “O comércio eletrônico e a economia digital como um todo têm crescido de maneira significativa, alimentados pela classe média e pela digitalização acelerada causada pela pandemia”.
- Healthtech: “Na área da saúde, também houve uma demanda maior por soluções tecnológicas nos últimos três anos. A telemedicina tornou-se essencial no período da pandemia, assim como tecnologias de monitoramento remoto do paciente e soluções de inteligência artificial para diagnóstico e tratamento. Eles formam soluções de continuidade”.
- Biotecnologia: “Há um aumento significativo na pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia, incluindo manufatura por rotas biológicas, biorrefinaria, edição genética, terapias genéticas, e tecnologias de vacinas avançadas. Isso é especialmente relevante considerando as atuais crises de saúde”.
- IA e Machine Learning: “A inteligência artificial (IA) e o aprendizado de máquina (machine learning) são amplamente explorados em várias indústrias, desde varejo até manufatura, passando por finanças e saúde. Eles são utilizados para aprimorar a eficiência operacional, desenvolver novos produtos e melhorar a experiência do cliente”.
- ‘Tecnologia Verde’: “A América Latina está inovando no espaço da tecnologia verde, com empresas desenvolvendo novas maneiras de reduzir a pegada de carbono, reduzir, reciclar e reutilizar resíduos, e criar produtos e processos mais sustentáveis, com menor ou nenhuma utilização de recursos naturais”.
- Smart Cities: “Com o aumento da urbanização, muitas cidades estão procurando soluções tecnológicas para melhorar a infraestrutura, a eficiência e a qualidade de vida dos cidadãos. Isso inclui tudo, desde sistemas de transporte inteligentes até iluminação pública eficiente em termos energéticos e infraestrutura de internet de alta velocidade”.
- Indústria 4.0: “A chamada quarta revolução industrial, que combina tecnologias habilitadoras digitais e físicas para criar sistemas cibernéticos físicos, é outra área de inovação. A aplicação dessas tecnologias pode ser vista em áreas como manufatura avançada, logística e cadeias de suprimentos”.
O especialista diz que esses são apenas alguns exemplos das muitas áreas em que a inovação está ocorrendo na América Latina. “A região tem um grande potencial e está se mostrando cada vez mais capaz de produzir ideias e soluções inovadoras para enfrentar os desafios locais e globais. Além disso, o continente latino-americano tem uma diversidade incrivelmente rica, com serviços ecossistêmicos (bens materiais, benefícios culturais, regulação do clima etc.) que contribuem para a subsistência e o bem-estar”.
Garcia vê como fundamental conciliar as questões sociais e ambientais na região para garantir que o desenvolvimento seja sustentável e alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “É preciso promover maior sinergia entre empresas da região, governos, empresas sociais e ONGs que estejam engajados em diferentes formas de inovação, levando em consideração valores sociais, ecológicos e ambientais”.
Por Durval Garcia, diretor de inovação da consultoria internacional G.A.C. Brasil