Dilson M. Barreto
Economista
A crise econômica aliada à crise política está deixando o Brasil numa situação difícil em termos de credibilidade entre os agentes de mercado tanto internamente como no cenário internacional. O Presidente Michel Temer depois de ter aberto a guarda para a esparrela que lhe foi minunciosamente preparada, incompatível para um político com a experiência que tem, parece ter abandonado as reformas e, submetendo-se às chantagens dos políticos do chamado “baixo clero” patrocina as mais espúrias negociatas para se sustentar no poder, pouco se importando o quanto isto vai custar para o bolso do honesto cidadão brasileiro. Posando agora de inocente e avocando uma postura de estadista que nunca conseguiu emplacar mesmo com seu falar empostado, realiza viagens ao exterior, deixando transparecer, aos olhos dos grandes líderes mundiais, que sua desgastada presença irá proporcionar algum resultado positivo para o país.
Alguém no governo está pensando o quanto estas questões afetam a vida do cidadão brasileiro? O que ainda se salva é o trabalho da equipe econômica que, aceitem ou não os grupos da oposição, está tentando colocar nos trilhos uma economia totalmente esfacelada pela recessão e que resiste em imprimir velocidade. As projeções são cada vez mais deprimentes: de 1,0% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado no início deste ano de 2017, em função do aprofundamento da crise essa estimativa cai para insignificantes 0,3%, ameaçando despencar ainda mais, aproximando-se de zero, se nada de favorável acontecer até dezembro face às grandes incertezas que rondam o ambiente. Enquanto isso, mesmo com a taxa de juros sendo reduzida gradativamente e a inflação caindo, o desemprego continua elevado, as famílias endividadas vendo suas rendas depreciando-se a cada tormenta, os investidores temerosos de aplicarem seus recursos em novos projetos e os gordos banqueiros preferindo emprestar ao governo mediante a compra de títulos públicos do que emprestar a empresas temerosos do risco de um possível calote.
Nestas circunstâncias está muito difícil recuperar o otimismo, isto porque, quando se tinha a certeza de que o país iria sair da recessão, o choque político de vários megatons decorrente das denúncias contra o Presidente da República fez desvanecer todas as esperanças. A coalizão política que dava sustentabilidade ao governo começa a esfacelar-se perdendo sua unidade, cada grupo de olho apenas nas próximas eleições. Tal comportamento da classe política, virando as costas para o país, fomenta um ambiente político extremamente explosivo, tornando difícil fazer previsões para amanhã, não obstante o Presidente Temer acredite que, com o seu poder de “convencimento” irá sair ileso de toda essa confusão e concluir o seu mandato.
Enquanto isso, neste momento de desespero político, os sinos dobram num repicar continuado que expressa uma lamúria sem fim, de grande pesar ante a dissimulação, a mentira, o embuste e a farsa encenada por líderes políticos que desonram o Congresso Nacional, muitos deles jurando fervorosamente que são as pessoas mais honestas do planeta, enganando com palavras messiânicas e falsas promessas a parcela mais humilde da população, sempre utilizada intencional e maliciosamente como massa de manobra para o atendimento de seus interesses vis. Os sinos dobram em pesar face ao sofrimento do povo, massacrado pelo desemprego e que vê, a cada dia, aumentar o seu nível de pobreza, acentuando a desigualdade. A tristeza é ainda maior quando se vê políticos estimulando o ódio entre classes e insistindo no apelo ideológico “nós contra eles”, procurando aflorar um processo injusto e desumano de discriminação.
Os sinos dobram, assim, numa atitude solidária com povo brasileiro que, sem culpa em toda essa confusão política, será o que, mais à frente, pagará toda a conta. Na perspectiva de um futuro incerto, o brasileiro honesto e que ganha o pão com o suor do seu rosto, sente-se marginalizado quanto ao direcionamento das políticas públicas, relegado a um plano inferior, isto porque, no momento atual, somente existe uma prioridade: salvar o Presidente da República do olho do furacão mesmo que, para tanto, se esgotem as verbas orçamentárias e a própria classe política que neste momento crítico da vida brasileira somente enxerga a possibilidade de reeleição. Os sinos dobram, portanto, num pranto cheio de clamor por uma população cuja voz não está sendo ouvida e cuja vez tem sido preterida.
Encerro este artigo servindo-me da voz de Mário Vargas Llosa que proclama que a democracia mesmo que não livre os países dos pilantras, todavia, “…permite que suas pilantragens sejam denunciadas e castigadas”. Da mesma maneira, “a democracia não garante que os melhores serão sempre eleitos e, às vezes, os eleitores se equivocam elegendo a pior opção. Mas, ao contrário das ditaduras, uma democracia, sistema flexível e aberto, pode corrigir seus erros e se aperfeiçoar, graças à liberdade”. Talvez, fruto dessa liberdade é que o povo brasileiro, na leveza do seu ser, ainda sonha com um país diferente, livre da corrupção e dos falsos profetas, alimentando a doce esperança de que mudanças possam ocorrer e com elas, o brilhar de um novo sol cuja luz proporcione grandeza e felicidade.