De onde vem os seus direitos?


Odilon Medeiros
Mestre em Administração, Especialista em Psicologia Organizacional, Coach, Pós-graduado em Gestão de Equipes, MBA em Vendas, consultor e palestrante. www.odilonmedeiros.com.br/ E-mail: om@odilonmedeiros.com.br

A maioria das empresas possui, ou deveria possuir, um manual de normas e procedimentos, onde através dele é dado um norte ao colaborador. Afinal, nele está se informando o que pode e o que não pode, os direitos e também os deveres. Pode ser criado com ele, a cultura da empresa.

Até aí, tudo bem. Agora imaginemos que nesse manual apenas existissem praticamente direitos para os colaboradores. Hipoteticamente, vamos imaginar que neste manual existissem 83 tópicos e ao analisarmos todos eles, observássemos que deste total, 76 deles falassem dos direitos que os colaboradores têm, ou seja, 91,6% dos tópicos focassem apenas em favorecer a equipe.

Dando continuidade ao nosso estudo hipotético, verificássemos, que havia apenas quatro tópicos que falassem dos deveres (4,8% do total).

Produtividade representaria 2,4% com dois tópicos e o que seria mais gritante se eficiência só aparecesse uma vez (1,2% do total).

Enquanto consultor na área de RH, sei da importância das pessoas para o sucesso de qualquer empreendimento. Mas qual é a sua opinião a respeito desse caso hipotético? Você acha que uma empresa com esse perfil funcionaria bem? Qual a cultura que seria desenvolvida pelos funcionários e quais seriam as consequências para os envolvidos com ela? Convido você a interromper a leitura por alguns instantes e visualizar o que aconteceria.

Já que interrompemos o nosso raciocínio, vou provocar um pouco mais: o que aconteceria se na sua família praticamente todos os integrantes só pensassem dos direitos? Eu entendi que seria algo impraticável pois ninguém ia querer produzir nada. Você também com esse sentimento?

Como em toda regra, há exceção, e muitas coisas não funcionam bem, me atrevo a dizer: ainda bem. Ficou chocado com o que eu disse? Pois tenho certeza que você vai ficar igualmente chocado com o que vou disse agora.

Segundo estudos do professor José Pastore, da USP, na Constituição brasileira, a palavra “direito” aparece 76 vezes, mas a palavra “dever” apenas quatro vezes. “Produtividade”, duas e “eficiência”, apenas uma vez. Será que é por essa razão, já que é constitucional, que é tão comum as pessoas falarem sobre os seus direitos, exigirem seus direitos e quase nunca lembrarem que existem deveres a serem cumpridos? O que é que você acha?

Agora deixe explicar porque eu falei o “ainda bem”. Imaginem o caos que se transformaria o país se toda a população, individualmente, quisesse que todos os seus direitos fossem cumpridos.

Eu entendo que uma alternativa para essa situação seria instituir, de maneira coletiva, novas práticas onde direitos e deveres existissem de maneira mais equitativa; onde o individual fosse substituído pelo coletivo, onde a empatia fosse praticada, onde as práticas colaborativas fossem fortalecidas. Assim, instituiríamos uma nova e razoável cultura para vivermos consigo, comigo, conosco!

E então? Esse meu pensamento, faz sentido para você? Convido-o a refletir, mas não apenas a refletir, mas também a cocriar. A agir e a ser feliz. Pense nisso!