Rede de beneficiamento da mangaba movimenta a economia e incrementa o turismo


Josefa dos Passos Santos, conhecida como Dona Edna - catadora de mangaba | Foto: Vander Alves/Setur

Catadoras de mangaba em Estância, ligadas pela consanguinidade, por relações de vizinhança e por amizade, produzem delícias à base da fruta típica da região

Na Rodovia Ayrton Senna, a SE-100, nas imediações do Povoado Ribuleirinha, no município de Estância, está localizada a Associação das Catadoras de Mangaba de Sergipe. Nos arredores, há comunidades remanescentes de quilombolas, assim como caiçaras e sitiantes, que têm como forma de subsistência o extrativismo da mangaba. Desse modo, constituiu-se uma rede de beneficiamento desse fruto típico da região, que movimenta a economia e incrementa o turismo. Afinal, é comum os visitantes pararem ao passar pelo local para conhecer tantas iguarias advindas dessa fruta.

Tendo a mangaba in natura como matéria-prima – uma fruta de formato arredondado, cheiro forte, polpa branca e gosto bem doce –, são produzidos compotas, doces, licores, geladinhos, balas, geleias, biscoitos, trufas, brigadeiros, cocadas e biscoitos. A própria fruta e a polpa dela também são vendidas na época da colheita. Diante disso, a comercialização dos produtos resulta numa via de mão dupla, afinal, a partir do trabalho dessas mulheres, é obtido o pão de cada dia para as famílias, assim como é movimentada a economia através do consumidor.

Associação

Há mais de 40 anos, a catadora de mangaba Josefa dos Passos Santos, conhecida como Dona Edna, tem do extrativismo da fruta a única fonte de renda. Ela comenta que a tradição da catação de mangaba foi repassada de geração a geração: herdada dos avós, passada para os pais dela e também repassada por ela para os filhos.

A experiência e a dedicação nesse ofício também renderam bons frutos a Dona Edna. Ela é fundadora da Associação das Catadoras de Mangaba, com dez anos de existência e que é composta por 15 mulheres. Há, ainda, 45 famílias cadastradas, pois nem todas as colaboradoras trabalham com doces e derivados, mas, ao fornecerem a fruta, estabelecem uma parceria em que todos são beneficiados igualitariamente.

A entidade também comercializa outros produtos da região litorânea quando estão em épocas de colheita, a exemplo do cambuí (pequeno fruto com variedade de cores, podendo ser vermelha, rosa ou amarela), manga, caju e coco. “Como temos o prédio da associação, temos custos. Então, primeiro, pagamos as despesas como água e energia, e, dos produtos que vendemos, o lucro é repartido por todas”, relata a presidente da associação.

Experimentando

É a primeira vez que a assistente social Karla Cristina Brasil visita Sergipe. Ela, o marido e o filho, que são de Curitiba, no Paraná, resolveram conhecer as praias do Litoral Sul sergipano e, ao passarem pela Rodovia Ayrton Senna, pararam para ver de perto a Associação das Catadoras de Mangaba. “Viemos passar 15 dias aqui em Sergipe e, inesperadamente, nos deparamos com essa associação com tantas delícias. Não conhecia a mangaba e o experimentei. O produto que mais gostei foi a geleia. É bem saborosa”, afirma Karla Brasil.

Colheita da mangaba

Dona Edna explica que a colheita da mangaba é como um ritual. Diariamente, às 4h da manhã, grupos de mulheres saem para a apanha da fruta. Após a catação, os frutos são colocados em baldes e transportados para as residências delas, terminando o trabalho por volta das 7h. Em seguida, as frutas são entregues à associação, que abre as portas às 8h20, encerrando o atendimento às 17h30, de domingo a domingo.

A fundadora da associação revela, também, que esses grupos de catadoras de mangaba são de pessoas ligadas pela consanguinidade, por relações de vizinhança e por amizade. “Todos os dias, seguimos o mesmo caminho. Meu terreno, por exemplo, tem 105 hectares de terra. Então, a colheita é sempre bem animada e, quando damos conta, os baldes estão cheios de mangaba”, constata.

O tempo de colheita da mangaba é de seis em seis meses, iniciado em dezembro e se estendendo até junho. Já o tamanho e a coloração variam conforme a maturação, ou seja, quando estão maduras ou ‘de vez’, as frutas têm casca amarelada com manchas avermelhadas. Vale destacar que, na colheita, é provocada a queda dos frutos ainda não amadurecidos. As mangabas que caem naturalmente, por sua vez, apesar de serem mais saborosas, não suportam o manuseio e o transporte e acabam danificadas.

Dona Edna explica que trabalhar com a mangaba, uma fruta tão especial para elas, é gratificante. De acordo com a presidente da associação, desde o momento da colheita até a produção das delícias à base de mangaba, é tudo feito com muito carinho e envolvimento de todos. “Posso dizer que é uma higiene mental e que nos dá um retorno financeiro também, afinal, é da mangaba a nossa renda. Além disso, é sempre bom receber as pessoas, os visitantes na associação, principalmente aqueles que, ao passarem pela rodovia, param aqui para conhecer, provam nossas delícias e acabam incluindo a nossa associação no roteiro sempre que vão passar por aqui”, declara. E complementa: “Não podemos ficar sem a mangaba, a nossa riqueza. Por isso, temos estoque da fruta o ano todo”.

Agência Brasil