Piscicultores buscam alavancar atividade no Baixo São Francisco


Com mais de 20 mil hectares de áreas de várzea com solo e topografia ideais para a construção de viveiros, além de instalações de tanques rede, clima quente o ano todo e recursos hídricos abundantes e de excelente qualidade – supridos pelo Rio São Francisco e seus afluentes – o Baixo São Francisco (região que compreende áreas dos estados de Sergipe, Bahia, Alagoas e Pernambuco) é considerado um dos locais de maior aptidão para a aquicultura no Brasil e no mundo.

Esta perspectiva já foi reconhecida por empresas nacionais e estrangeiras e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Apesar de todas as condições favoráveis, o potencial econômico dessa atividade nunca conseguiu ser totalmente explorado. Estima-se que menos de 10% da área disponível esteja sendo utilizada para a criação de peixes, o que revela um cenário de ociosidade e ineficiência produtiva.

E foi pensando em discutir as perspectivas para a produção de pescados em Sergipe nos próximos anos e elaborar estratégias que ajudem a fortalecer esse setor que o Sebrae e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Coodevasf) reuniram, em Propriá, criadores de peixes, técnicos de órgãos governamentais e entidades do terceiro setor durante o I Encontro de Negócios da Piscicultura.

A preocupação em estimular o crescimento dessa atividade se dá pelo seu potencial de geração de empregos e sua capacidade de contribuir para a melhoria dos indicadores econômicos e sociais da região, que está entre as que possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado.

Comercialização

 Boa parte da ociosidade nas áreas destinadas à piscicultura ocorre, segundo os criadores, por conta da dificuldade enfrentada para comercializar o produto junto a distribuidores, redes de supermercado e até mesmo feirantes, o que desestimula a realização de novos investimentos.

Esse cenário contribui para que a maior parte do pescado consumido pelos sergipanos tenha origem em estados como Santa Catarina, Paraná e Alagoas, como mostra uma pesquisa feita pelo Sebrae junto a 14 distribuidoras e peixarias na Grande Aracaju. Nas feiras livres, por sua vez, quase 90% da tilápia comercializada é fornecida por pescadores da Bahia, Alagoas e Pernambuco.

“ Colocar o produto no mercado é hoje a maior dificuldade enfrentada por quem está nesse ramo. Na maioria das vezes precisamos entregar toda nossa produção aos atravessadores, o que diminui a nossa margem de lucro e impede que o peixe chegue ao consumidor final com um preço mais competitivo”, explica o empresário Taiguara Fraga.

Para tentar ajudar a resolver o problema, o Sebrae está estruturando a criação de uma rede de comercialização, aproximando assim os fornecedores e os proprietários dos estabelecimentos que vendem os produtos, sobretudo na Grande Aracaju.

 “ A ideia é promover o contato direto entre esses dois públicos, facilitando assim o acesso direto a novos mercados e o aumento do poder de negociação”, explica a gerente da Unidade de Agronegócios da entidade, Ângela Souza.

 A criação da rede também permitirá aos produtores reduzir o seu custo de produção, já que a ração utilizada na alimentação dos animais, que corresponde a cerca de 60% desse valor, pode ser adquirida de forma conjunta, com melhores preços. Outra grande vantagem é o planejamento de ações de produção e venda, garantindo um mercado para os pescados durante todo o ano.

 “ A proposta é organizar a produção de forma que não tenhamos um excesso de oferta em determinados períodos, como por exemplo a Semana Santa, e uma baixa disponibilidade de pescados nos outros meses. Com esse planejamento conseguiremos estabelecer uma política de preços que tornará a atividade mais lucrativa”, destaca Ângela Souza.

 De acordo com a gerente do Sebrae, serão agendas a partir da próxima semana reuniões com os empresários que manifestaram interesse em participar da rede de comercialização. Nesses encontros serão discutidas as ações que serão colocadas em prática, dentre elas o levantamento da produção de pescado, o potencial de ampliação das áreas destinadas à atividade e a formação de uma central de compras coletivas.