Memória: esquecer é tão importante quanto lembrar


Um estudo recente realizado no Canadá pela Universidade de Toronto e o Hospital para Crianças Doentes (SickKids) mostrou que a habilidade de esquecer é tão importante quanto a de lembrar coisas. “O objetivo real da memória é otimizar a tomada de decisões, para isso, é importante que o cérebro esqueça detalhes irrelevantes e, em vez disso, concentre-se nas coisas que ajudarão a tomar decisões no mundo real”, diz Paul Frankland, professor de neurociência e saúde mental do SickKids.

A boa notícia é que esse processo é natural e pode ser treinado para evoluir. Há alguns anos, imaginava-se que a memória funcionava em blocos e, portanto, quando todos estivessem “cheios”, não haveria mais espaço para armazenar nada. “Naturalmente, temos um sistema de seleção porque seria impossível guardar todas as informações que recebemos no dia. O que podemos fazer é treinar a capacidade de atenção para algumas coisas”, afirma Ivan Hideyo Okamoto, neurologista e coordenador do Núcleo de Memória da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein .

Ele explica que existem diferentes “memórias”. Uma, por exemplo, é de curto prazo, quando há dificuldade de lembrar o nome de uma pessoa com a qual se convive pouco. Outra, de longo prazo, é marcada por acontecimentos de grande impacto. Exemplo: o que a pessoa estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas atacaram as Torres Gêmeas, nos EUA.

Com as novas tecnologias, o esquecimento de algumas informações pode ser facilitado. “Antigamente, minha primeira pergunta para testar se alguém estava perdendo a memória era sobre o número de telefone de um parente. Hoje, a maioria não sabe o número da própria casa, já que dispõe da agenda do celular”, diz Okamoto.

Outras ferramentas também estimulam a “perda de memória”. Caso dos aplicativos de localização, que “permitem” esquecer caminhos; e dos sites de pesquisa, que “autorizam” apagar da mente de tudo um pouco – da escalação do Flamengo no último Brasileirão ao dia da independência do Brasil.

Mas esse esquecimento não abre “espaço” para guardar mais coisas. O neurologista explica que não há uma maneira de criar mais memória, mas de treinar a capacidade de concentração com exercícios, como meditação e/ou coisas que exigem estado meditativo, tipo pescar.

Outros fatores importantes para um bom desempenho da capacidade de atenção, afirma o neurologista Okamoto, têm a ver com o bom estado de saúde física e mental. Ele aponta também:

  • Atividade física
  • Atividade intelectual desafiando o cérebro (aprender a tocar piano, trabalho manual, etc. – desde que seja prazeroso e novo)
  • Alimentação mediterrânea e/ou foco no consumo de peixes com ômega 3 e azeites
  • Prevenção de fatores de risco, como tabagismo, alcoolismo, pressão arterial e diabetes
  • Relacionamento social e familiar (quanto mais sozinha for a pessoa, maior a perda de memória)

Fonte: SA Varejo