Dispositivo inspirado na molécula que armazena nosso código genético levará à miniaturização de mídias e garantirá a integridade das informações por muito mais tempo
A explosão de dados gerados no mundo, por diferentes equipamentos e nos mais diferentes contextos, tem levado cientistas a pesquisar o uso de versões sintéticas do DNA para guardar informações digitais. O DNA, ou ácido desoxirribonucleico, é o sistema de armazenamento de dados da maioria dos seres vivos.
É uma molécula presente em todas as células e que carrega as informações genéticas de um organismo. Graças ao estudo de materiais genéticos como o DNA preservado na natureza, temos acesso às informações biológicas dos neandertais, hominídeos extintos há mais de 30 mil anos, e de mamutes, que viveram mais de 1 milhão de anos atrás.
O potencial dos benefícios dessa nova tecnologia é significativo. Segundo a DNA Data Storage Alliance, associação que reúne empresas globais de tecnologia com o objetivo de impulsionar o ecossistema de pesquisa e inovação da técnica, a capacidade de armazenamento de dados em DNA é 115 mil vezes superior à das mídias magnéticas empregadas atualmente nos centros de processamento de dados, os chamados data centers.
No mesmo espaço físico de um cartucho de fita magnética LTO-9, capaz de armazenar 18 terabytes (TB), ou seja, 18 trilhões de bytes, é possível guardar em DNA cerca de 2 milhões de TB.
“O data center do Facebook no Oregon, nos Estados Unidos, ocupa uma área estimada de dezenas de milhares de metros quadrados [m²], o equivalente a um grande shopping center, para armazenar uma quantidade de dados da ordem de 1 milhão de TB. O mesmo conteúdo poderia ser armazenado em apenas 5 gramas de DNA, em um dispositivo que cabe na palma de uma mão”, compara o engenheiro eletricista Bruno Marinaro Verona, gerente do Laboratório de Micromanufatura do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo. Verona lidera um projeto de pesquisa na área no Brasil.
Além da densidade, o armazenamento em DNA reúne outros atributos importantes. “É um sistema ambientalmente sustentável”, destaca o engenheiro eletricista paulista Luis Ceze, professor da Escola Paul G. Allen de Ciência da Computação e Engenharia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Os data centers são intensivos em consumo de energia para a manutenção dos equipamentos e climatização adequada das salas onde são mantidos os arquivos em discos rígidos (HD) e as fitas magnéticas. O DNA, no entanto, pode ser mantido em temperatura ambiente.
Além disso, as mídias magnéticas atuais são produzidas com insumos provenientes de mineração de terras-raras e derivados de petróleo e demandam substituição periódica, em no máximo 30 anos. Os pesquisadores estimam que os dados digitais arquivados em DNA serão legíveis por milhares de anos.
Fonte: CNI