Uber reporta mais de 3 mil casos de assédio no app


No ano passado, a Uber constatou mais de 3 mil alegações de assédio sexual envolvendo motoristas ou passageiros cadastrados no app nos Estados Unidos. O mapeamento é resultado de uma extensa e aguardada revisão em resposta a preocupações com segurança pública.

A empresa lançou um relatório de segurança de 84 páginas na quinta-feira, 5, com o intuito de quantificar maus comportamentos e mortes que ocorrem nos trajetos da plataforma e, a partir daí, discutir alternativas mais seguras.

De acordo com a companhia, os norte-americanos fizeram 1,3 bilhões de viagens em 2018. Cerca de 50 pessoas morreram em acidentes na Uber nos últimos dois anos, taxa que corresponde à metade da média para fatalidades na estrada no país. Também no ano passado, nove pessoas foram mortas por agressão física, reportou a Uber.

Os motoristas do app tiveram quase tantas alegações de assédio sexual quanto os passageiros, que fizeram 56% das reclamações. Há poucos dados comparáveis sobre ataques em outros sistemas de transporte e especialistas dizem que estes casos são pouco reportados pelas vítimas. Os relatos prestados à Uber vão de beijos indesejados a penetração forçada.

“A Uber é um reflexo da sociedade. O fato entristecedor é que a violência sexual é mais prevalente na nossa sociedade do que as pessoas pensam. As pessoas não gostam e falar sobre este assunto”, diz Tony West, chief legal officer da Uber.

Há mais de um ano, a Uber se comprometeu em lançar um estudo sobre segurança, promessa feita antes pelo Lyft, segundo maior serviço de caronas dos EUA. Mas o concorrente ainda não publicou o relatório. Na quinta-feira, 5, a Uber disse que compartilharia dados com o Lyft e outras empresas sobre motoristas acusados de comportamentos perigosos, além de dar continuidade a relatórios sobre segurança a cada dois anos.

A empresa enfrentou uma série de acusações judiciais no país relacionadas a mau comportamento de motoristas. Recentemente, o Lyft também recebeu muitas reclamações legais de passageiros. Somente na Califórnia, ao menos 52 usuários processaram o Lyft depois de terem sido assediados pelos motoristas, segundo dados obtidos pela Bloomberg News.

Qualquer número de mortes ou violência é um lembrete dos riscos inerentes de pegar carona com um estranho, além da supervisão limitada da companhia quando ocorrem esses casos. Com a publicação dos dados, a Uber toma um passo que dificilmente é dado pelas empresas, pois está atraindo atenção para os perigos de seu produto. As ações da companhia caíram 1,5% depois da divulgação do material.

Reguladores em Londres expressaram preocupações quanto à habilidade da Uber em garantir o bem-estar de seus passageiros. Por este motivo, revogaram a licença da companhia para operar na cidade semana passada. A Uber poderá continuar a operar na capital inglesa até o resultado do apelo à decisão. Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, disse que o precursor da confiança é a transparência.

De acordo com o estudo, a proporção de ataques no total de viagens diminuiu 16% no ano passado, quando a Uber implementou novas ferramentas de segurança, como contatar motoristas e consumidores quando o sistema identifica atividade incomum, assim como a adição do botão para discar 911 dentro do app. “Acho que a Uber é um dos meios mais seguros para ir do ponto A ao B”, afirma Dara.

A Uber revelou cinco categorias de alegações de assédio sexual. Em 2018, a empresa recebeu 1.560 notificações sobre toques não consensuais nas partes íntimas, 594 de beijos não consensuais em alguma parte do corpo, 376 de beijos não consensuais em partes íntimas, 280 de tentativas forçadas de penetração sexual e 235 de penetração forçada.

Ebony Tucker, diretora executiva da Raliance, consultoria especializada na prevenção da violência sexual, diz que, embora os dados sejam impressionantes, não exclusivos da Uber. “As constatações da Uber não nos surpreendem. O assédio sexual está em todo lugar”, diz.

Contar assérdios é um exercício complicado. Somente um terço das alegações sobre penetração sem consentimento recebidas pela Uber foram reportadas à polícia, de acordo com estimativas da própria companhia. Em um quarto dos casos, a marca disse que sua equipe não conseguiu se comunicar com a vítima depois da primeira denúncia. As mulheres reportaram 89% das alegações de estupro, disse a companhia.

“É sem precedentes que uma companhia colete esse tipo de dados e os compartilhe com o público”, disse Karen Baker, CEO da National Sexual Violence Resource Center, que aconselhou a Uber no estudo. Baker disse que pressionou outras companhias dos setores de hospitalidade e transportes a seguirem o exemplo da empresa.

Tanto Karen quanto o legal chief da Uber dizem que a companhia pode receber mais denúncias de assédio sexual no futuro. Isso seria um sinal positivo, diz Karen, porque refletiria a confiança das vítimas de que suas alegações seriam levadas a sério.

 

Fonte: Meio&Mensagem