Em Divina Pastora, embaixador da Irlanda, Séan Hoy, conheceu e conversou com associações de rendeiras
Patrimônio cultural e imaterial de Sergipe, a renda irlandesa conta a história de milhares de artesãs e trabalhadores sergipanos. Em Divina Pastora, berço da renda no estado, o Governo de Sergipe avança na valorização e no fortalecimento dessa produção em nível internacional, estabelecendo conexões para que a renda seja repatriada à Irlanda. Com esse propósito, o embaixador do país no Brasil, Séan Hoy, foi recebido no município nesta terça-feira, 27, em uma visita mediada pela gestão estadual por meio da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem).
A intenção da recepção foi a de proporcionar o contato do embaixador e sua comitiva com a renda irlandesa, cujo saber-fazer se perdeu em seu país de origem. A solenidade, que ocorreu no Santuário Nossa Senhora Divina Pastora, contou com a participação das três associações de rendeiras que organizam a produção na cidade: a Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin); a Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (Asderen); e a Associação dos Artesãos, Pequenos Agricultores, Pecuaristas, Renda Irlandesa, Rendendê e Outros (Apric).
As artesãs presentes fizeram questão de manifestar sua expectativa sobre o intercâmbio da renda de Divina Pastora com a Irlanda. “É imensurável a gente ter um embaixador da Irlanda aqui no nosso município. Para a gente, é uma felicidade imensa mostrar o nosso trabalho, mostrar como ele se desenvolveu e foi se adaptando ao nosso estado e à nossa cultura. A renda irlandesa de Divina Pastora tem uma vida própria. Todos os contornos, pontos e entrelaces são próprios do município”, afirmou a vice-presidente da Asderen, Maria José de Souza.
Para a representante da Apric, Maria Jivanilde dos Santos, o Governo de Sergipe vem sendo um importante ator na projeção da renda irlandesa para o mundo. “É muita alegria, não é? A gente se sente feliz de estar participando e contribuindo. O governo está dando um grande suporte para a gente divulgar e comercializar nossa produção. Nossa expectativa é de poder expandir e multiplicar nossos trabalhos e ações para o Brasil e além. Sair, exportar, fazer intercâmbio… É muito importante isso, e o governo está sendo de fundamental importância nesse processo”, pontuou.
A presidente da Asdrin, Neidiele Silva, participou da produção de uma bandeira de Sergipe feita em renda irlandesa, entregue ao governador Fábio Mitidieri durante a solenidade. Com mais de 1,5m de comprimento, a bandeira vem sendo confeccionada por sete artesãs divina-pastorenses desde dezembro de 2022. Para Neidiele, o momento simbolizou o reconhecimento do Governo de Sergipe ao trabalho centenário das rendeiras.
“É um momento único. Confeccionar essa peça é muito gratificante, porque a gente está transferindo sentimentalmente o trabalho de todas as rendeiras. Só sai bonito quando a gente faz feliz. A nossa renda irlandesa não tem valor que se consiga definir. Entregar, na presença do embaixador da Irlanda, uma peça que vai estar no palácio do governo é muito emocionante. E esse apoio efetivo do governo e da Secretaria de Trabalho a gente só agradece. É muito bom saber que outro país está interessado na renda, que era de lá e que agora eles vieram conhecer. Faço renda desde os 13 anos, atualmente estou com 25. Aprendi com minha mãe, minha vó…. E a gente tem esse cuidado de capacitar as próximas gerações também, para dar continuidade”, frisou Neidiele.
Solenidade
Durante a solenidade, grupos de Chegança e Samba de Roda recepcionaram os convidados, expressando a identidade cultural sergipana. Uma louvação acompanhou a entrada dos visitantes na igreja, cuja sacristia foi decorada exclusivamente com peças de renda irlandesa. A comitiva também participou de um tour guiado pelo santuário, e de conversas com as associações, que expuseram seus trabalhos. Também foi realizada uma contextualização histórica a respeito da renda irlandesa e seu processo de patrimonialização. A cerimônia foi marcada, ainda, por uma apresentação de cordel e de hinos sergipanos e irlandeses.
A mestra Alzira Alves Santos, uma das mais antigas artesãs de Divina Pastora, compôs a mesa e participou de uma apresentação histórica da produção artesanal no município. Aos 74 anos, Alzira é descendente das Marocas, que aprenderam o modo de fazer da renda e o repassaram de geração em geração. Dona Alzira, inclusive, ensinou o ofício a grande parte das rendeiras que integram as associações presentes.
“Estou me sentindo muito elogiada e bem, porque esse trabalho é muito importante para nós. Antes, quando não tinha muito emprego, a gente se dedicava e sustentava na renda. A gente continua ensinando às meninas e esperando que elas queiram levar adiante. E o governo está ajudando, é muito importante fazer algo pelas rendeiras”, salientou mestra Alzira.
O embaixador Séan Hoy ressaltou a relevância do contato direto com as artesãs de Divina Pastora e do resgate histórico da tradição rendeira. “Gostaria de agradecer ao governador e aos secretários. Hoje é um dia muito especial. Estamos em uma igreja, e hoje é um casamento entre Sergipe e Irlanda. Também fazemos um convite ao governador para ir à Irlanda participar de um evento com nosso primeiro-ministro e outros representantes. Agradeço a todas as pessoas envolvidas nesse evento hoje, e pelos presentes. Estou muito feliz. Viva à renda irlandesa, viva a Sergipe”, comentou.
O governador Fábio Mitidieri se mostrou otimista em relação ao futuro da renda irlandesa a partir do contato com seu país originário. “É muito importante mostrar todas as nossas oportunidades, a nossa cultura e a nossa história para o embaixador. A gente recebeu hoje, inclusive, a informação de que vamos promover um encontro entre as nossas rendeiras e o pessoal da Irlanda. Vamos levar para lá, em missão. E isso é uma janela de oportunidade, também, para outros negócios que podem vir a se desenvolver a partir daí. É, portanto, um dia muito marcante”, avaliou.
População
A comunidade de Divina Pastora expressou seu orgulho diante do significado da solenidade. Para a trabalhadora doméstica Cristina Santos, natural do município, a visita do embaixador é um momento de grande satisfação. “Está maravilhoso, lindo demais. É muito importante, porque muita gente aqui vive da renda. Então, levar essa renda daqui para fora é uma coisa muito grande”, opinou.
A diarista Maria Pastora dos Santos, nascida e criada em Divina Pastora, também aprovou a iniciativa. “É bom demais, que Deus abençoe. É importantíssimo, espero que sigam fazendo algo pela nossa cidade”, defendeu.
Já para o segurança Carlos Alberto Santos Lima a esperança é de que o impacto do intercâmbio entre Sergipe e Irlanda perdure. “É uma sensação muito boa e um prazer saber que a renda daqui está indo para lá. Era uma coisa quase morta para eles, que agora está sendo revivida. Isso chama mais a atenção do povo, e o incentivo acaba sendo maior, trazendo para cá essa visibilidade que as rendeiras tanto reivindicam”, declarou.
Comercialização
Do lado de fora do santuário, foram distribuídos oito toldos com espaços reservados para a exposição da renda irlandesa e de outros artesanatos, bem como para a comercialização de alimentos. A renda irlandesa também está sendo vendida e exposta durante os festejos juninos no estado. O governo, por intermédio da Secretaria do Trabalho, tem reservado espaços para os trabalhos artesanais durante os eventos.
O secretário da Seteem, Jorge Teles, enfatizou o papel do Governo de Sergipe na profissionalização dos artesãos e trabalhadores da arte ao redor do estado. “Não tenho dúvidas de que os laços entre Sergipe e Irlanda se tornarão ainda mais estreitos após esta visita. Obrigado ao governador Fábio Mitidieri por tornar uma política de governo a produção da cultura e a comercialização do artesanato. Isto se trata de uma abertura da economia à arte sergipana e à possibilidade de escoamento do talento de Sergipe”, indicou.
A prefeita de Divina Pastora, Clara Rollemberg, demonstrou sua gratidão pela recepção sediada no município. “Somos uma ‘pequena gigante’. Vamos seguir defendendo essa arte, essas mulheres guerreiras que fazem a renda, e contamos com o apoio do Governo do Estado”, finalizou.
Governo de Sergipe/Agência de Notícias
