Nas primeiras horas desta quinta-feira, 24, o mundo foi surpreendido com o anúncio televisionado do presidente russo Vladimir Putin de que faria uma “operação militar especial” na Ucrânia, país vizinho, ou uma “invasão total”, em suas palavras. Putin disse que a ação acontece em resposta a ameaças vindas da Ucrânia e responsabilizou o regime ucraniano pelo derramamento de sangue.
O presidente russo garantiu que não se trata de uma tentativa de ocupação da Ucrânia, mas de uma desmilitarização do país, e alertou outras nações que qualquer tentativa de interferência na ação russa levaria a “consequências que elas nunca viram”.
Pouco tempo após o anúncio, vídeos de mísseis e explosões em Kiev, capital da Ucrânia, e em outras regiões, começaram a circular nas redes sociais e nos veículos de comunicação, assim como imagens de milhares de ucranianos tentando deixar o país. Fala-se na maior crise militar da Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Fala-se, ainda, numa possível Terceira Guerra.
Para entender um pouco sobre a origem do conflito, que já vem sendo desenhado ao longo das décadas, e as consequências globais e para o Brasil, o Caderno Mercado conversou com o advogado Nelson Teodomiro, professor universitário e mestre em Direitos Humanos, e com o economista Rodrigo Rocha, doutor em Ciência da Propriedade Intelectual e mestre em Desenvolvimento Regional e Gestão de Empreendimentos Locais.
Histórico
Segundo Nelson Teodomiro, a relação conflituosa entre Rússia e Ucrânia acontece há mais de século. “As duas são de uma mesma origem e, desde a época da Revolução Russa, em 1917, a Ucrânia vinha tentando sua independência, o que aconteceu com o fim da União Soviética, em 1991. A partir daí a Ucrânia declarou sua independência e soberania, e isso foi reconhecido pelo mundo. Porém, por volta de 2013 houve uma invasão russa à região da Crimeia, no sentido de anexá-la à Rússia. Então houve um período de conflito, seguido de um cessar-fogo com o Acordo de Minsk, intermediado pela França e outros países”, contextualizou o professor.
Teodomiro explicou que, após quase oito anos, a tensão foi reestabelecida, nos últimos meses, com a tentativa de integração da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Capitaneada por países do Ocidente, a Otan tem a intenção de fortalecer as tropas militares dos países membros, sendo o principal deles os Estados Unidos da América. “Se a Ucrânia fizesse parte da Otan, isso iria culminar no envio de tropas militares, tanques e armamentos para o país, e a Rússia temia que a Ucrânia tivesse poderio militar para se defender ou invadir a Rússia e tentar anexar os territórios que foram tomados anos atrás. Então o receio da Rússia é que, fazendo parte da Otan, a Ucrânia fortaleça o seu poderio bélico para prejudicá-la e ameaçá-la”, disse.
O advogado explicou, ainda, que outros países da Europa não querem se posicionar no conflito com receio que a Rússia deixe de fornecer o gás natural que eles precisam. A Rússia é, historicamente, a maior fornecedora de gás natural da União Europeia. “Se houver a morte de um soldado russo ou de um norte-americano, pode se instaurar uma terceira guerra mundial, e os países não querem apoiar a Ucrânia porque não vale à pena, economicamente falando. Há o risco muito grande de uma guerra e esses países podem ficar desabastecidos do gás fornecido pela Rússia”, disse.
Nesta manhã, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota à imprensa em que afirma que acompanha, “com grave preocupação”, a deflagração das operações militares da Rússia contra a Ucrânia.
“O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”, diz a nota.
Economia
O economista Rodrigo Rocha foi cauteloso. Disse que a situação é nova e extremamente complexa, havendo ainda poucos dados econômicos, apenas especulações. Ele alerta que, enquanto não souberem de forma mais concreta qual o tamanho do impacto econômico deste conflito, as pessoas devem acompanhar o desenrolar dos fatos e ter atitudes mais conservadoras antes de tomar decisões mais relevantes sobre seus investimentos.
“A economia mundial vai sofrer uma volatilidade muito maior do que a normal ao longo das próximas semanas, com possíveis alterações bruscas em ativos financeiros, como ações nas bolsas de valores, moedas estrangeiras, ouro, criptomoedas, petróleo, etc., em especial a cada novo evento/notícia sobre este conflito. No cotidiano das pessoas isso pode se refletir em aumento dos preços de produtos vinculados mais diretamente ao mercado internacional, a exemplo dos combustíveis”, alertou Rodrigo.