Entrevista | Luciano Pimentel
O deputado estadual Luciano Pimentel (PSB) vê “um quadro de extrema gravidade” na economia brasileira. ele defende a necessidade de mais entendimento da sociedade em torno da política para que se encontre uma solução. “para a retomada do crescimento de forma crescente e sustentável, torna-se necessária um grande entendimento nacional entre a sociedade civil, a classe empresarial e classe política para apoiar a adoção de medidas que visem reequilibrar as contas públicas, possibilitando a redução da carga tributária e taxas de juros”, diz o parlamentar, que lamenta o índice alto de desemprego. “é um quadro de extrema gravidade. são pais e mães de famílias que não conseguem nem a sua subsistência, que deixam de consumir e retroalimentar a economia”, afirma.
CADERNO MERCADO – Como observador da economia, que horizonte o senhor enxerga para o Brasil diante desta crise?
LUCIANO PIMENTEL – Apesar de o governo ter uma equipe econômica na sua maioria formada de técnicos comprovadamente competentes, vive um grande dilema de não conseguir adotar as medidas necessárias ao ajuste da economia, cujos pontos fundamentais vêm sendo substancialmente alterados pelo Congresso Nacional, dificultando o reequilíbrio das finanças públicas.
M – Já passamos pela pior fase ou coisas mais drásticas virão por aí?
LP – Apesar de lentamente, a economia começa a dar pequenos sinais de crescimento. Mesmo tendo o IPCA de julho evoluído para 0,52%, quando em junho foi de 0,35%, a produção industrial cresceu 1,1%, melhor resultado desde 2013.
M – Qual a solução para retomada do crescimento?
LP – As empresas brasileiras são pouco competitivas, temos uma carga tributária e taxas de juros das mais elevadas do mundo, o país carente de infraestrutura, sendo incapaz de trazer confiança a grandes investimentos industriais. Para a retomada do crescimento de forma crescente e sustentável, torna-se necessária um grande entendimento nacional entre a sociedade civil, a classe empresarial e classe política para apoiar a adoção de medidas que visem reequilibrar as contas públicas, possibilitando a redução da carga tributária e taxas de juros.
M – Essa retomada pode acontecer antes das eleições de 2018 ou só depois?
LP – Estamos passando por um momento de grande dificuldade. A classe política está desacreditada, a sociedade não tem demonstrado grande interesse nas próximas eleições, o país convivendo com um presidente interino e outro afastado. Acredito que a confirmação do impeachment trará um cenário de mais confiança aos investidores nacionais e internacionais.
M – Que tipo de reforma o Estado brasileiro necessita para se fazer mais competitivo na atração de capital estrangeiro?
LP – Além dos aspectos econômicos já citados, precisamos evoluir no sentido de termos um marco regulatório moderno e eficaz capaz de reduzir o grande volume de demandas judicializadas, que geram desconfiança aos investidores internacionais.
M – Economias pequenas, como a sergipana, sofrem mais ou menos – ou não mudam – em termos de crise?
LP – Uma economia pequena e extremamente dependente como a nossa, acaba por sofrer bastante com os efeitos da crise, principalmente pela baixa capacidade de investimentos do Estado, e que precisa criar infraestrutura, estimular a economia através de investimentos produtivos que alavanquem os diversos setores econômicos, como o comércio, turismo, construção civil, por terem uma excepcional capacidade de geração de empregos e renda.
M – Qual o reflexo de se ter 12 milhões de desempregados numa nação com pouco mais de 90 milhões de pessoas economicamente ativas?
LP – É um quadro de extrema gravidade. São pais e mães de famílias desempregados que não conseguem nem a sua subsistência, que deixam de consumir e retroalimentar a economia, consequentemente gerando um grande número de problemas sociais, como estamos assistindo cotidianamente no nosso país.
M – Racionalmente, o senhor identifica algum grupo político concebendo um projeto de Brasil que aponte para um desenvolvimento futuro seguro?
LP – Ainda não vislumbro um projeto futuro para o Brasil com os nomes que estão postos hoje. Com a morte do saudoso Eduardo Campos, que simbolizava uma nova fase na política nacional, ainda não apareceu um nome capaz de substitui-lo nesse momento. A população brasileira está apática e descrente em suas lideranças políticas. Veja no episódio da admissibilidade do impeachment: muitos assumiram posições favoráveis, outros diziam que era golpe e no momento que tem seus interesses de alguma forma atendido, não se fala mais nada. Cala-se, simbolizando para a sociedade a política do oportunismo.
M – Qual é a lógica que o senhor vê para justificar a queda paulatinamente do preço da gasolina nos últimos dias?
LP – A redução no custo da gasolina tem grande significado econômico no que diz respeito a não contaminar a inflação. Contudo, tenho uma preocupação que essa redução não seja de forma artificial, como vimos no episódio Petrobras em período passado recente, que manteve preços estáveis para o governo ganhar politicamente. Isso, aliado a um grande processo de corrupção, gerou problemas extremante graves a empresa. Hoje assistimos com preocupação em Sergipe a uma guerra de preços entre postos, em que alguns praticam valores incompatíveis com a boa gestão empresarial e remuneração de capital, cujas consequências advirão no futuro.