O grupo alemão de engenharia Siemens espera mais do que dobrar o faturamento da divisão de petróleo e gás no Brasil em 2020 na comparação com 2018, em desempenho embalado pelo agitado calendário de leilões de áreas para exploração e produção no país nos últimos anos, disse à Reuters um alto executivo da empresa no país.
À exceção dos Estados Unidos, o Brasil deve liderar o crescimento da oferta de petróleo fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em 2019 e 2020, segundo relatório do grupo neste mês, após uma série de mudanças regulatórias e rodadas de licitação de novas áreas realizadas desde 2016.
O país ainda promoverá mais dois leilões em novembro, sendo que um deles, no dia 6, deverá ser o maior do mundo para a indústria de óleo e gás, ao envolver a cobrança de 106 bilhões de reais apenas em bônus de assinatura para o Tesouro.
“Diria que, para 2020, ‘oil and gas’ deve dobrar de tamanho, de faturamento, e o número de pessoas também vai aumentar bastante, o volume de negócios… de 2018 para 2020 deve duplicar, ou mais”, afirmou o chefe da unidade de Petróleo & Gás da Siemens no Brasil, Christian Schöck.
“E, sinceramente, temos tudo para continuar dessa forma”, acrescentou o executivo, ao lembrar que os leilões do final deste ano poderão se transformar em encomendas junto aos fornecedores do setor em um futuro próximo.
“Geralmente há ali um período de maturação de um a dois anos… esse desempenho que esperamos é resultado ainda dos leilões passados e de campos em que a Petrobras está otimizando a exploração”, explicou.
A Siemens registrou faturamento líquido de 4,1 bilhões de reais no Brasil em 2018, mas a companhia não divulga números abertos por divisões ou áreas de negócio.
A empresa alemã fornece equipamentos e serviços para plataformas offshore de petróleo que vão desde geradores de energia e soluções para compressão de gás natural para reinjeção nos campos produtores até produtos de automação e digitalização.
“Temos perspectivas de que o Brasil deve ser metade do mercado mundial de novas plataformas nos próximos 10 anos”, afirmou Schöck.
Ele destacou ainda que a Siemens tem condições de entregar equipamentos no Brasil com significativos índices de conteúdo local, produzidos em sua unidade em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, ajudando os clientes a cumprir exigências de nacionalização da reguladora Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“Estamos trabalhando com 25% a 55% de conteúdo local de maneira geral”, disse o chefe da área de óleo e gás da companhia.
Em concessões para exploração em terra, que a ANP tem buscado incentivar, a Siemens fornece principalmente equipamentos de energia, como subestações e linhas de transmissão para abastecer as operações, além de soluções para transporte da produção.
CONTRATOS DIFERENCIADOS
A Siemens também tem buscado fechar com empresas de óleo e gás de soluções diferenciadas, que envolvem o fornecimento de energia, por exemplo, em modelo semelhante a um contrato fechado neste ano com a petroquímica Braskem, pelo qual a companhia vai desenvolver e operar soluções de cogeração elétrica em um complexo da empresa em São Paulo.
“Chamamos esse contrato de ‘energy as a service’ (energia como serviço, na tradução literal). São contratos longos, para fornecer coisas que não são ‘core’ do cliente, mas são ‘core’ da Siemens. A gente tem estudado possibilidade de fazer para outros clientes”, disse Schöck, apontando que os acordos poderiam envolver também insumos como vapor e gás comprimido.
“Muita coisa pode ser (encaixada no conceito) ‘as a service’”, afirmou.
O executivo, que voltou ao Brasil em abril, após anos trabalhando para a Siemens em missões em países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, disse ainda que soluções de digitalização para plataformas de petróleo devem crescer nos próximos anos em meio à busca das empresas por ganhos de eficiência que possam reduzir custos e até emissões de carbono.