Uma pesquisa desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA), da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe) e pelo Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), pretende aperfeiçoar e melhorar o processo de recuperação dos pacientes intubados com quadro grave de coronavírus. Os pesquisadores estão desenvolvendo o uso de biomembranas já testadas em cicatrizações de ferimentos por queimaduras e pelo chamado pé diabético, que atrofia e necrosa os músculos dos pés. Usadas também em revestimentos de medicamentos, preparadas a partir de biopolímeros e com substâncias ativas naturais com capacidade medicinal, como o barbatimão, elas poderão ser aplicadas em ferimentos causados na boca dos pacientes durante o processo de intubação.
Trata-se de uma nova etapa da pesquisa, desenvolvida no PSA da Unit desde 2006 pelos professores Ricardo Albuquerque e Juliana Cordeiro Cardoso. Ela explica que as biomembranas já foram usadas em ensaios pré-clínicos em animais de laboratório e em seguida no tratamento de feridas em cavalos, cães e gatos. Em seguida, houve o desenvolvimento de outros tipos de ativos e a aplicação deles em pacientes com queimaduras e em diabéticos em estado de necrose dos tecidos dos pés.
De acordo com a professora, as biomembranas contêm colágeno, uma substância biocompatível que não é rejeitada pelo organismo e possuem ação anti-inflamatória, diminuindo o edema, protegendo o ferimento da ação de micróbios e evitando a contaminação. Os resultados, observados anteriormente na fase pré-clínica, foram considerados muito positivos, com regeneração diferenciada de tecidos nos locais afetados. Algumas membranas já passaram para o ensaio clínico, como a feita com ácido úsnico, substância proveniente de um líquen que já foi testada em pacientes queimados, e as com barbatimão, testadas em pacientes com pés diabéticos.
“Agora a gente está ampliando a possibilidade delas, mostrando o resultado dela em diversos tipos de feridas, em locais e protocolos de aplicação diferentes”, explica a doutora Juliana, contando que a ideia de testar as biomembranas no tratamento em pacientes com Covid veio de um odontólogo, egresso da iniciação científica do professor Ricardo Albuquerque, que acompanha pacientes na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Cirurgia, em Aracaju.
“Teve um aumento muito grande desses pacientes, e como passam muitos dias entubados, eles ficam com a boca machucada, com ferimentos ao redor e no interior da boca. A ideia é colocar essas membranas para ver o resultado que ela dá em pacientes que estão acamados. E nesse sentido, queremos aliviar esse sofrimento, facilitar esse processo cicatricial ou evitar que feridas maiores se infeccionem, assim por diante”, detalha a pesquisadora.
A nova fase da pesquisa está em fase de submissão e avaliação no Comitê de Ética da Universidade Tiradentes e Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A previsão é de que os primeiros experimentos aconteçam com pacientes do Hospital de Cirurgia, mediante autorização prévia deles e de suas famílias.
Os estudos do PSA da Unit acontecem com apoio do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica de Sergipe (Fapitec/SE) e participação de equipes da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), da Universidade Federal de Sergipe (UFS), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em Maringá (PR), e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP).
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