No ano de 2020, o Brasil alcançou a 9ª posição no ranking mundial de geração de energia solar. O mapeamento foi feito pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a partir de dados da International Energy Agency Photovoltaic Power Systems Programme (IEA PVPS).
Segundo o levantamento, apenas no ano de 2020, o setor solar trouxe ao Brasil R$ 15,9 bilhões em novos investimentos e mais de 99 mil novos empregos. Desde 2012 até o final do ano de 2020, o Brasil acumulou R$ 42,1 bilhões em investimentos na fonte solar fotovoltaica, gerando mais de 236 mil empregos acumulados.
Não é à toa que muitos olhares estão voltados para o setor de energia solar no país. Em Sergipe, o maior destaque é para a Universidade Federal de Sergipe (UFS) que, atualmente, é a maior geradora de energia limpa do estado. A instituição já conta com projetos em funcionamento nos campi de São Cristóvão, Hospital Universitário e Lagarto e tem mais sete projetos em fase de instalação que, quando concluídos, transformarão a UFS na maior geradora de energia limpa pública do Nordeste.
No site Eficiência Energética da Universidade, é possível encontrar dados que mostram a economia que a instituição já conseguiu atingir com esses projetos. De acordo com os números publicados, no ano de 2019 foram gastos cerca de R$ 11 milhões com energia elétrica, uma redução de quase 20% em relação a 2018. Para conseguir essa diminuição, a UFS executou a construção da subestação de alta tensão 69kv e os projetos de geração elétrica limpa de origem fotovoltaica nos campi. Considerando que a instituição teve um aumento de consumo de energia elétrica de 18% em 2019, todos esses projetos permitiram reduzir em aproximadamente 30% os custos da universidade com essa rubrica.
Em entrevista ao Caderno Mercado, o professor doutor do departamento de Engenharia Elétrica da UFS, Milthon Serna, falou sobre a realidade do setor de energia solar no país e deu mais detalhes sobre os projetos da Universidade.
CM – O Brasil tem potencial para aumentar a produção de energia solar a ponto de tornar-se referência mundial no setor?
MS – O país possui um grande potencial. Se não fosse a pandemia, acredito que estaríamos ocupando, atualmente, a sétima ou oitava posição no ranking. A economia brasileira sofreu uma queda no último ano e, quando não há desenvolvimento, não há consumo de energia. Fábricas fecham, lojas também, e isso reflete no consumo. Menos consumo significa menos necessidade de novas instalações, principalmente de grande porte. Ainda assim, o Brasil, que não figurava no Top 10 do ranking de geração de energia solar desde 2017, aumentou sua produção e está agora na nona posição.
CM – Quais fatores contribuíram para esse resultado?
MS – Com o aumento do preço da energia elétrica, muitas pessoas começaram a instalar sistemas fotovoltaicos em suas residências o que fez com que as instalações de microgeração de energia solar crescesse muito. Para que esses números fossem ainda maiores, é preciso que o país melhore a legislação. Está em tramitação no Congresso Nacional o Marco Legal da Geração Própria de Energia, que será muito importante para o setor. Ainda há muita desconfiança no mercado em relação à geração de energia fotovoltaica e isso impede o surgimento de grandes instalações.
CM – Qual a perspectiva a longo prazo para a produção de energia solar no Brasil?
MS – O Brasil é um país abençoado em termos de condições climáticas e possui vasta área para instalação de energia solar. Mas não é só a energia solar que tem potencial de crescimento. Acredito que o país tem potencial para grande produção de outras fontes de energia renováveis também, como a eólica e a de biomassa. Neste momento, ainda dependemos muito da fonte hídrica que sofre com as secas e os preços se elevam. No futuro, as fontes de energia renováveis terão papel fundamental no desenvolvimento do Brasil.
CM – Como está a produção de energia solar em Sergipe?
MS – Pelas características do estado, somos mais consumidor do que produtor. O grosso da nossa produção está na microgeração, residências, comércio e indústria. Os grandes produtores ainda não estão no estado. Temos instalações de médio porte que estão se consolidando, mas ainda são projetos em andamento.
CM – Qual a importância da UFS como geradora de energia limpa em Sergipe?
MS – A Universidade Federal de Sergipe, como instituição de ensino, quer mostrar para a sociedade a relevância no uso dessa fonte de energia renovável. Além disso, queremos ajudar outras instituições a abraçar esse tipo de projeto. Já ajudamos o Batalhão do 28º BC do Exército e o Hospital de Lagarto com instalações, por exemplo.
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