O olhar para o meio ambiente vem mudando ao longo dos anos. Se por um lado o Brasil continua com números alarmantes em relação a desmatamento, queimadas e emissões de gases de efeito estufa, por outro cresce também o interesse da população em relação à preservação da natureza. Com a pandemia, aumentou o interesse dos brasileiros pelo consumo sustentável.
Uma prova disso é que as pesquisas na internet por produtos sustentáveis tiveram um crescimento de 82%, no Brasil, nos últimos cinco anos. Os dados são do levantamento feito pela Economist Intelligence Unit (EIU) a pedido da WWF. A pesquisa também revelou que o país foi o que produziu o maior número de assinaturas em campanhas em prol da biodiversidade e natureza no mundo, um total de 23 milhões de assinaturas online.
Para a Doutora em Saúde e Meio Ambiente Luciana Rodrigues, porém, o atual cenário de crise ambiental vai na contramão da pesquisa. “Estamos poluindo os rios, o ar, o solo, desmatando, levando espécies para extinção numa velocidade nunca antes identificada, tudo isso reflexo do consumo exacerbado, inconsciente e insano fruto de um comportamento que em nada apresenta uma preocupação mais apurada desde a Revolução Industrial, quando a humanidade começou a acreditar que a natureza é uma fonte de recursos inesgotáveis e a seguir a falsa crença de que posso explorar tudo o que quiser para produzir tudo o que desejar e logo descartar de forma inadequada”, lamentou.
O ser humano ainda vive na era do consumo exacerbado, com armadilhas de consumo por toda a parte, desde a hora do despertar até o amanhecer. Luciana explica que, para quem quer de fato dar os primeiros passos para assumir novos hábitos de consumo mais sustentáveis e não ficar apenas no vão de pesquisas virtuais, é preciso buscar incessantemente o desenvolvimento da percepção ambiental, apurar a visão do todo, a preocupação com todo o processo desde a exploração, produção, consumo e descarte de todos os produtos, tornar essa postura orgânica.
“Para que eu me transforme em um cidadão sustentável eu preciso pensar que todas as minhas ações precisam contribuir para uma sociedade mais justa, equitativa, igualitária, respeitar o ambiente onde estou inserido buscando a preservação e conservação dos recursos naturais que são essenciais para a manutenção da vida ao mesmo tempo em que busco viabilidade econômica para meus negócios encontrando formas de sustento compatíveis e equilibradas com as demais”, orienta.
Outra pesquisa recente, realizada pela Mastercad, revelou que para 84% dos brasileiros é de extrema relevância que as empresas atuem de forma sustentável e mais de 50% dos entrevistados afirmaram que com a pandemia passaram a dar mais valor às marcas que se comportam com mais consciência ambiental.
A microempreendedora no ramo de paisagismo, Marina Sales, está sempre tentando inserir novos hábitos voltados para o consumo sustentável no seu dia a dia. “Antes da pandemia eu já usava energia solar no banho, reciclava, procurava usar produtos que não poluem e comprar de pequenos produtores e agora passei a cozinhar mais e pedir menos comida fora, além de dar cada vez mais preferência a marcas que tem esse tipo de preocupação ambiental e não fazem testes em animais”, exemplifica.
Para Marina, entretanto, suas atitudes isoladas não são suficientes para causar verdadeiros impactos ambientais. Apesar de estar sempre incentivando os amigos a mudarem seus hábitos e, principalmente, normalizando um estilo de vida mais consciente dentro de casa para o seu filho, ela acredita que o Estado e o mercado também precisam fazer a sua parte. “O impacto maior tem que vir das grandes corporações, não existe mentalidade ambiental sem mudança social”, pontua.
Em 1987, o Relatório Brundtland – Our Common Future colocou o conceito de “desenvolvimento sustentável” na agenda política global indicando que a pobreza no terceiro mundo e o consumismo dos países de primeiro mundo impediriam o desenvolvimento igualitário e geraria uma crise ambiental. Preconizou-se assim o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que é socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto.
Por onde começar
Consumir de empresas que de fato encontram-se alinhadas aos princípios do desenvolvimento sustentável, que não poluem, não desmatam, não utilizam mão de obra escrava ou infantil, seria uma ótima maneira para começar. Também é importante prestar atenção nos produtos que se dizem sustentáveis, mas na verdade não são. Muitos são
postos nas prateleiras como verdes, porém requerem um olhar mais apurado. Luciana cita o exemplo da febre dos
canudos reutilizáveis. “Eles vem embalados em uma caixa, enrolados em plástico, com escovinha plástica para higienização aumentando significativamente os recursos utilizados para a produção, isso não é sustentabilidade”, alerta.
A dica é mudar uma postura por dia, como trocar o combustível fóssil, utilizar energia de fontes renováveis e limpas, não desperdiçar alimentos, comer menos carne bovina (principal fator de desmatamento no país), não comprar ou aprisionar animais silvestres.
“Chega de simplificar o que é bastante complexo, não se trata apenas de jogar o lixo no lixo, isso é básico, é para ser ensinado nas escolas às nossas crianças; é pensar que o primeiro “R” da questão é o de repensar, o segundo “R” de respeitar e, assim, seguimos para o reduzir, reusar e só após todos esses passos eu penso em reciclar”, pontua a doutora.
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