Apesar de queda de 20% no consumo de vinhos pelos brasileiros em relação ao primeiro trimestre de 2016, produtores internacionais apostam na atração do público jovem
Cores frias, móveis de madeira e risadas sobre taças. Foi dessa forma que começou a Expovinis 2017 no dia 6 no pavilhão Branco do Expo Center Norte. Na sua 21ª edição, que termina nesta quinta-feira (8), o desafio da vez é aliar o novo comportamento do consumidor brasileiro frente à crise com a meta dos produtores internacionais de encontrar público para suas garrafas premium.
Após quebra da safra em 2015, o aumento nas taxações de importados e as oscilações no valor do dólar, até a bilheteria da Expovinis sofreu mudanças — e também o consumidor. O consumidor final só tinha acesso a exposição no segundo e terceiro dia. O primeiro dia era restrito a convidados dos expositores e das produtoras, mas, neste ano, a Informa Exhibitions, que organiza a feira, possibilitou a entrada do consumidor final desde o primeiro dia, mesmo que três horas mais tarde (a feira começou às 13 h). O objetivo, segundo Clélia Iwaki, diretora do evento, não é aumentar a receita das vendas, e sim oferecer mais engajamento aos expositores presentes. “Já que os produtores e importadores estão sofrendo tanto, minimamente o que queremos fazer é trazer um público qualificado. Não em volume ou quantidade, mas em qualidade”, justifica.
Esse sofrimento, de acordo com Clélia, se refere a crise econômica. Ela diz que de 2015 para 2016, a data do evento foi modificada devido ao receio dos expositores de investir no País. Com dois meses a mais do que a tradição anual, a Informa tratou de convencer empresas a comparecer ao evento. Mesmo diante desse cenário, Cris Yorke, diretor global de marketing da New Zealand Winegrowers (organização da Nova Zelândia que representa 850 produtores de uvas e 700 fabricantes de vinho), não vê problemas em apostar no Brasil. Representante de alguns dos vinhos mais caros do mundo e pouco conhecidos no País, ele traça uma estratégia de longo prazo para conquistar os brasileiros. “Primeiro queremos levar a mídia e os influenciadores para conhecer a Nova Zelândia. Mas vemos a parceria só para daqui a cinco ou 10 anos, até porque não temos tanto capital para investir em marketing num país que não nos conhece bem”, diz.
A empresa está num road show por dez cidades e sete estados brasileiros junto a New Zealand Trade and Enterprise (NZTE), agência internacional do governo neozelandês para o desenvolvimento de negócios em parceria com a Associação Brasileira de Sommeliers (ABS). Nas visitas de Cris Yorke, o público é convidado a conhecer a fabricação dos vinhos no país e a degustar os vinhos de lá. Atualmente, a New Zealand Winegrowers tem cerca de R$ 2 milhões em exportações para o Brasil.
Semelhante a ele, Angelica Valenzuela, diretora comercial da Wines of Chile, busca mostrar o país para conquistar seu público-alvo: os millennials. Além de quatro eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde os vinhos chilenos são mais consumidos, para o segundo semestre, a representante das vinícolas chilenas lança uma estratégia inteiramente digital chamada “Love Wine Love Chile” com depoimentos de estrangeiros da mesma faixa etária dos millennials que foram ao Chile a passeio e optaram por viver no país.
“Nosso principal desafio é aumentar o consumo de vinho no Brasil. Ele é o nosso terceiro maior consumidor, mas só nas categorias mais baratas e nosso plano para agora é promover o vinho premium. Como em nossas pesquisas os millennials são um grupo que consome coisas diferentes e por um preço mais caro, as campanhas são direcionadas a eles”, diz Angelica.
Clélia Iwaki vê com outros olhos a aposta por divulgar vinhos mais caros. “Quando um grupo internacional fala isso, eu vejo que eles estão tendo uma visão equivocada do nosso momento. Tabus de que vinho bom é vinho caro foram quebrados. O brasileiro está em busca de bons produtos a bons preços. O consumidor brasileiro mudou o comportamento. Relacionado a isso, o seu local de compra. Antes, você procurava vinho em uma adega ou loja especializada, agora até padarias vendem bons vinhos. O vinho está ficando, ainda bem, mais democrático”, avalia.
A estratégia da diretora do evento para redirecionar os expositores que promovem suas garrafas premium está na grade de seminários na ala denominada “Terroir do Conhecimento”. “No fundo de cada palestra, nós abordamos a importância de trabalhar a base econômica do país e como esse consumidor está reconhecendo o vinho como uma bebida, não tem mais medo de ir a um restaurante e pedir um vinho ou comprar em lojas mais acessíveis”.
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