Caderno Mercado – A reabertura gradual da economia gera otimismo apesar da ameaça da nova variante Delta. Como o senhor entende esse momento?
Laércio Oliveira – Temos um clima de otimismo instalado, é verdade. Isso é o resultado das medidas que as pessoas estão tomando para evitar o contágio da COVID, mas tem o fator fundamental que é o avanço da vacinação. Começamos pelos idosos, pessoas com comorbidades e depois avançamos pelas faixas etárias. Cada vez pessoas mais jovens estão sendo vacinadas e isso é o que voltará a colocar nossa economia nos eixos, pois com a elevação da vacinação, podemos voltar a nossa vida cotidiana com maior tranquilidade.
Existe uma preocupação com a variante Delta, que está em um momento de avanço por todo o mundo. Entretanto, não deveremos chegar ao patamar que atingimos num período recente, com alto número de casos e óbitos, como foi no meio do ano passado e nos últimos três meses. A economia está em um processo de franca recuperação, o que deve permanecer até sua plenitude, pois quanto mais pessoas vacinadas, maior o controle de transmissão da doença.
Todavia, não podemos desistir nem relaxar nas medidas de proteção. Os estabelecimentos comerciais estão fazendo sua parte, atendendo os critérios definidos para seu funcionamento e controle da doença, e isso está funcionando. Então temos os fatores que mais influenciam na recuperação da economia, fortemente ligados ao controle da doença. A vacinação, as medidas de proteção e a retomada da atividade econômica. E o resultado disso é o processo de recuperação da economia, que vai recuperando sua força aos poucos.
CM – Qual o papel do setor de serviços para o país nesse momento?
LO – Serviços é o setor que mais gera empregos no Brasil. Dos quase 50 milhões de pessoas empregadas formalmente, 33 milhões estão nas atividades ligadas aos serviços. No nosso estado, o setor é responsável por quase 75% do PIB, gerando mais de 200 mil empregos para os sergipanos. Isso, considerando as empresas do setor e os empregos indiretos daquelas pessoas que são microempreendedoras. Toda esta cadeia está diretamente ligada ao nosso dia a dia, como serviços comerciais turismo, transporte, alimentação, saúde, entre outros.
Em meu trabalho como deputado federal, o meu foco é a defesa do emprego e consequentemente, do setor de serviços. Essa semana mesmo tratei do assunto com o Secretário de Produtividade do Ministério da Economia Carlos da Costa. Expliquei que do jeito que estão as propostas de reforma tributária tem grande impacto sobre o emprego. Como presidente da Frente Parlamentar do Setor de Serviços, apresentamos uma proposta de utilização da folha de pagamento como crédito, com o objetivo de estimular o emprego formal.
CN – O que é necessário fazer para garantir o melhor funcionamento das empresas de serviços?
LO – Hoje o maior problema das empresas do setor de serviços é a alta tributação especialmente na folha de pagamentos. Estamos atuando para melhorar a empregabilidade no Brasil e ajudar especialmente os pequenos negócios a se recuperem da crise provocada pela pandemia. Neste sentido, uma das nossas pautas prioritárias é a desoneração da folha de pagamentos. A meu ver a grande quantidade de impostos na folha de pagamentos é o grande calcanhar de Aquiles do setor de serviços no Brasil. Basta comparar: hoje, a folha de pagamento é taxada em 43% no Brasil; no Chile é 9% e nos Estados Unidos, 17%.
Atualmente a maior ação de defesa nesse sentido está na reforma tributária. Três propostas tributárias se destacam no cenário nacional: a PEC 110, uma proposta mais abrangente, incluindo impostos estaduais e municipais, no Senado, o Projeto de lei 3.887/20 do Poder Executivo que unifica PIS/Cofins para criar a Contribuição Sobre Bens e Serviços (CBS) e por fim o Projeto de Reforma do Imposto de Renda, o mais polêmico que tem sido alvo de algumas manifestações do setor de serviços. Mas defendemos um texto que desonere a folha de pagamento, simplifique o sistema e reduza o chamado Custo Brasil, porque assim será possível gerar empregos.
CN – Qual o caminho para retomada da empregabilidade e renda?
LO – Sair de um processo complicado como esse da pandemia não é nada fácil. Foram vários meses com as atividades econômicas totalmente fechadas em todo o mundo, e em Sergipe não foi diferente. Sem circulação de recursos nas empresas, a economia foi encolhendo, sofrendo bastante e isso provocou a elevação do desemprego. Estamos com uma taxa próxima dos 20% de desocupação no estado, o que é preocupante. O momento demanda atenção nas políticas públicas de estímulo às empresas, para que estas possam promover a recuperação de nosso ciclo econômico, acelerando a economia do estado. Não será fácil, mas para acontecer, precisa ser bem pensado.
O Brasil pode realizar transformações radicais no processo de geração de empregos, para dar continuidade a ações que já surtiram efeito direto na volta de contratações. A reforma trabalhista de 2017 hoje facilita as novas contratações de pessoas, pois simplificou mais os processos de inclusão de trabalhadores. Desde 2017 que o Brasil voltava a gerar empregos, mas a pandemia veio e prejudicou muito esse ciclo de elevação nos postos de trabalho. Ainda temos 1.1 milhão de empregos a menos que em 2015. Ou seja, temos muito a recuperar.
CN – Como você avalia a condição do comércio neste momento?
LO – O comércio está em um processo de recuperação, isso é fato. Não está sendo fácil para as empresas e trabalhadores terem que suportar todos os danos colaterais da pandemia no país e em Sergipe. 2020 foi um ano para ser esquecido em termos de encolhimento da atividade comercial, fechamento de lojas, redução do quadro de trabalhadores formais e queda muito grande nas vendas. Todavia, este ano está apresentando resultados muito bons, comparando-se a 2020, por razões óbvias. As lojas estão funcionando e o comércio voltando a se aquecer. Antes as vendas crescentes eram por demanda reprimida, mas o momento indica que estamos num processo de aproximação com o volume de vendas de 2019, que deve ser considerado como parâmetro para comparativos de fato, principalmente nos meses em que as coisas estiveram mais complicadas.
A volta da atividade comercial é muito importante para toda a economia do estado, porque se as lojas vendem mais, os serviços também aumentam sua movimentação e as pessoas conquistam novos empregos, por meio das vagas geradas nas empresas. Não está sendo fácil, mas com a vacinação em processo de avanço e as pessoas mais confiantes, com maior autoestima e mais focadas em trabalhar, todos venceremos tanto a pandemia, quanto os problemas da economia.
CN – O Sistema Fecomércio/Sesc/Senac está em fase final de construção de novas unidades. Poderia falar sobre elas?
LO – Iremos inaugurar em breve duas grandes obras que vão dar mais força ao Sistema Fecomércio/Sesc/Senac no interior do estado: o Sesc de Itabaiana, a maior unidade de lazer, cultura, esporte, e assistência para o trabalhador do comércio do interior do estado, que vai beneficiar diretamente quase 200 mil pessoas no estado. E o interior de Sergipe ganhará ainda mais com a unidade do Senac de Nossa Senhora da Glória, pois a população do sertão terá acesso a ensino profissionalizante de qualidade, na maior escola do interior do estado com foco na formação e qualificação profissional. Isso vai criar um grande universo de oportunidades profissionais para aquele povo, dando mais qualidade de vida com a oportunidade de conquistar um emprego melhor.
Os investimentos em educação profissionalizante que temos feito, cada vez mais promovem retorno social ao vermos as pessoas crescendo na vida por meio de nossa formação oferecida. Além disso, iremos inaugurar a unidade Sesc Comércio, que levará o nome do empresário Raymundo Juliano, em homenagem e respeito a um grande expoente da atividade comercial. Também entregaremos em breve a Galeria de Arte do Sesc, um espaço direcionado para a cultura e arte, com toda a estrutura para atender melhor o cenário cultural de nosso estado. O Sistema Fecomércio está vivendo uma nova fase de crescimento, expansão e desenvolvimento.
Leia também: Comércio e Serviços recuperam confiança dos consumidores