A Inflação segue corroendo o valor do nosso dinheiro


Márcio Rocha
Márcio Rocha - economista

Hoje, 2 de setembro, a quase nunca vista nota de 200 reais completa 3 anos de existência. Todavia, será que o brasileiro tem a comemorar com isso? O momento no qual a nota foi lançada era de muita turbulência econômica no país e havia um risco de faltar moeda corrente, o que motivou a criação da notinha cinza que estampa a imagem do lobo-guará, mais um animal da fauna brasileira.

O que devemos compreender é que nesses últimos três anos, a nota de R$ 200 lançada obviamente tem o mesmo valor nominal, considerando sua definição. Entretanto, o valor real da cédula já está se corroendo de maneira assustadora, diante do cenário que a economia apresentou ao longo do período de sua existência. Os mesmos 200 reais de 2020 sofreram perda inflacionária de 24,5%, levando em conta o IPCA do período. Ou seja, os 200 reais da época, hoje só valem de fato, R$ 151.

O poder de compra do brasileiro está caindo consideravelmente e nos últimos anos, com inflação alta, taxas de juros elevados e instabilidade no cenário econômico, nosso dinheiro está perdendo valor com o passar do tempo. Fatores além da própria inflação também contribuem para que o real também perca seu valor. A exemplo da maior oferta que procura da moeda, pois quando temos mais moeda em circulação, a demanda por ela fica menor, o que força o ajuste para baixo do seu valor, no fim das contas.

Essa desvalorização influencia diretamente no que compramos para nossas casas, pois os bens de consumo elevam seu preço, em virtude do aumento dos custos de produção, desde a matéria-prima, passando pelo processo de fabricação, até a chegada nas gôndolas das lojas e supermercados. O mercado de laticínios e proteína animal apresentou elevações significativas nos últimos anos, assim como o mercado de construção civil e automotivo que sofreu elevações devido ao preço do aço. Carros hoje em dia estão caríssimos e não vão baixar de preço.

Fatores políticos também influenciam na desvalorização do nosso dinheiro. A desvalorização do real ocorre quando a moeda brasileira perde valor em relação a outras moedas estrangeiras, como o dólar. Isso pode ser causado por diferentes fatores, como instabilidade política e econômica, déficit fiscal, aumento da dívida pública, queda na confiança dos investidores e crises internacionais.

A instabilidade política afeta a confiança dos investidores, que buscam países mais estáveis para aplicar seu capital. Isso leva à saída de recursos do país e à desvalorização do real. Além disso, crises políticas podem gerar incertezas sobre as políticas econômicas adotadas, o que impacta negativamente a moeda. Além disso, o déficit fiscal também contribui para a desvalorização do real. Quando o governo gasta mais do que arrecada, precisa emitir mais moeda para financiar seus gastos. Isso aumenta a oferta de dinheiro em circulação e diminui seu valor.

Aumentos na dívida pública também afetam a confiança dos investidores. Quanto maior a dívida do país, maior é o risco de calote e menor é a atratividade da moeda brasileira. Isso leva à desvalorização do real. Crises internacionais também podem impactar a moeda brasileira. Quando há turbulências econômicas em outros países, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros, como o dólar. Isso aumenta a demanda pela moeda estrangeira e provoca a desvalorização do real. Taí o exemplo da invasão da Rússia contra a Ucrânia pra mostrar como todo o mercado bagunça quando existem conflitos.

A desvalorização do real tem consequências para a economia brasileira. Por um lado, pode beneficiar as exportações brasileiras, tornando os produtos nacionais mais competitivos no mercado internacional. Por outro lado, encarece as importações, o que gera aumento nos preços dos produtos no mercado interno e impactar a inflação. No fim das contas, vamos fazer o que pudermos com esses 151 reais que estão valendo na nota de R$ 200.

Agência Brasil