Deus, Família e Pátria: eis o lema de um dos maiores visionários que Sergipe já viu germinar; àquele que enxergava a Família como a sua maior base, pois quem não zela pela Família, não cuida do próprio país. Oviêdo é e continua sendo exemplo altivo de cidadania e dignidade; personagem ímpar que é sinônimo de prosperidade, desenvolvimento cultural e satisfação de toda a sociedade sergipana.
Sergipe viu aflorar de um dos maiores empreendedores em suas fascinantes terras. O nome dessa eminente figura é Oviêdo Teixeira, descendente de uma aguerrida família camponesa, nascido no dia 09 de abril de 1910. Filho de João Teixeira e D. Maria São Pedro Teixeira, conhecida carinhosamente como a eterna e amada Dona Caçula. Seus destemidos pais sempre cultivaram a coragem em todos os filhos, marca que Oviêdo carregou exemplarmente durante toda a sua marcante trajetória.
A vida familiar ficava dividida entre a mítica Fazenda Taquari, localizada na fronteira com Frei Paulo, e o sítio Santa Cruz, com proximidade à matriz de Itabaiana. Ao todo, totalizaram 14 filhos nessa estirpe numerosa dos Teixeira: Antônio, Sílvio, Manoel, Lourdes, Oviedo, Olívio, José, Albertina, Aderbal, Bernadete, João, Cecília, Hermes e Elpídio – este último foi o seu sócio nas iniciaisabordagens comerciais.
Como podemos imaginar na época, o contexto da maioria das famílias era bem similar: carentes de industrialização, a rotina bucólica de viver era marcada pelo ato de lavrar as terras, semear, fornecer os tratos culturais e esperar pacientemente pela colheita, que servia, sobretudo, prioritariamente para o sustento e a própria sobrevivência. Entretanto, como observamos na prática, o nobre destino de Oviêdo não ficou cerceado à vida do campo; os amados pais, Sr. João Teixeira e Dona Caçula sempre desejaram a ampliação de horizontes para seus estimados descendentes. O exemplo de persistência do pai coadunado ao rigor devoto fornecido pela matriarca Dona Caçula, fez com que Oviêdo tivesse a base sólida para edificar o seu futuro promissor e que marcaria Sergipe por inúmeras gerações.
Em tenra idade, já aos nove anos, encontrou-se encaminhado na labuta de cada dia. O trabalho para ele era uma espécie de digna religião na qual se dedicou com afinco durante toda a vida. Tanto que sua primeira atividade laboral em 12 de outubro de 1919 foi no comércio de Itabaiana, na tradicional Casa Mesquita, pertencente à Mesquita & Irmão, Oviêdo fez de tudo: de 3ª a Sábado, atendia no balcão e na 2ª feira ia comercializartecidos na feira de Saco da Ribeira, hoje Ribeirópolis. Durante os dez anos que passou nesse exercício até 1929, Oviêdo pôde consolidar a experiência e esculpir a pioneira astúcia comercial para que pudesse vir a se tornar bem sucedido no imprescindível ramo comerciário.
Tudo isso foi construído a partir da tradicional feira de negócios da cidade de Itabaiana e região circunvizinha. Durante esse entremeio, podemos notar o quão Oviêdo ainda no auge da jovialidade, apresentava traços de inesgotável vontade de trabalhar e de vencer os obstáculos que a vida costumava lhe interpor. O comércio, o espírito dos afazeres estiveram incutidos nele como litania religiosa.
Exemplo disso é que aos 19 anos, já era astuto gerente de compras da famosa Casa Mesquita; nunca foi um cara que se contentava com pouco, muito pelo contrário, sonhava alto e tinha a nobre ambição de abrir o seu próprio negócio; e foi isso que aconteceu como veremos a seguir. Em 1929, após essa década de acúmulo de valiosas experiências junto a Casa Mesquita, Oviêdo reuniu as economias suadas da mãe para comprar tecidos nas grandes lojas de Aracaju e levá-los a revenda no interior do Estado, algo que na época dava uns 2.400 contos de reis e começou a trabalhar arduamente por conta própria na cidade atualmente conhecida como Ribeirópolis.
Com esta importância, Oviêdo passou a comprar em Aracaju e viajar para Itabaiana usando os trens da Leste ou os saveiros até Laranjeiras, e, daí para lá, os escassos caminhões existentes. Foi no mesmo Saco da Ribeira que, quando o ensejo apareceu, alugou uma casa e instalou a Casa Teixeira. Dois anos após, em 1931, Oviêdo originou a matriz para Itabaiana e permitiu uma filial no povoado. Estava dada a arrancada. O próximo passo dele foi juntar-se ao irmão Antônio para a instalação de A Teixeira & Irmão, ampliando o comércio de tecidos. Começou com uma simples banca de tecidos na feira; já em sua primeira semana, levantou 900 reis, percebendo assim que o negócio poderia prosperar. Tempos depois, surgia a sua emblemática loja, a Casa Teixeira – esta que no ano de 1939 aportara com enorme êxito em Aracaju.
Como os negócios iam de vento e popa, D. Caçula concordou em vender a fazenda Taquari, onde morava e empregar os 34 mil contos de réis no comércio. Oviêdo adotou uma postura incomum no comércio sergipano no início da década de 1930: ele ia ao Rio de Janeiro e a São Paulo comprar diretamente da fábrica os produtos que aqui chegavam muito vagarosamente. Após ter estabelecido belo casamento com D. Alda Mesquita, em 1935, Oviêdo instalou no número 13 da clássica Rua João Pessoa, onde antes era um depósito de cerveja, a sua Casa Teixeira.
Vendia tecidos finos e os mais variáveis modelos de chapéu, a Casa Teixeira precisava então de mais acomodações e já no ano de 1939 instalou-se no número 75. Ao decorrer dos anos, a Casa Teixeira possuiu filiais em diversos municípios e em Aracaju nas ruas José do Prado Franco, Laranjeiras, Florentino Menezes. Até 1968 funcionou normalmente, sob a pujante direção de “seu” Oviêdo, seu irmão Elpídio e nos últimos tempos, pelo querido filho Tarcísio.
O álbum de Família dessa egrégia figura da História de Sergipe nos evidencia como sendo um altivo vendedor, que só vivia esmerado nas roupas da época. Sua personalidade era caracterizada por um otimismo irrefreável; visionário empreendedor que foi audaz em romper as fronteiras do pequeno feudo onde nasceu e partiu de maneira ousada para estabelecer negócios que marcariam para sempre o próprio desenvolvimento sergipano.
O ‘Sujeito’, como era amplamente conhecido, pois costumava se dirigir a todos com essa palavra de maneira carinhosa conseguiu vencer na vida, sustentando como pouquíssimos a atividade produtiva, mesmo quando na nebulosa época em que o açúcar havia decaído, o algodão estava escasso no mercado, o arroz do Baixo São Francisco e o gado encontravam-se em declínio; o que fez com que diversas famílias ricas e poderosas empobrecessem; o ‘Sujeito’ Oviêdo soube sabiamente enfrentar essas dificuldades como ninguém havia feito antes.
Sergipe enxerga, sem dúvida alguma, na ígnea trajetória de Oviêdo, um sergipano desbravador que por meio da sua atuação desenvolvimentista, rompeu com a retrógrada política coronelista que marcou essa auferida época; sendo alvo de perseguições tanto econômicas quanto políticas. A irretorquível obstinação nunca abriu brecha para se acabrunhar na realização dos seus sonhos; ele lutou de maneira aferrada, exemplos disso podem ser citados com veemência quando foi em 1932 ao Rio de Janeiro e São Paulo; onde estabeleceu uma rota de mercadorias, importadas com preço atraente e qualidade ratificada.
Oviêdo Teixeira, indubitavelmente, se consagrou como uma das grandes personalidades sergipanas que merece todo o clamor; um dos mais marcantes propulsores do próprio desenvolvimento de Sergipe. O seu lindo casamento em 1935 com D. Alda Mesquita Teixeira, que era filha do seu antigo patrão, fez com que se originasse dessa belíssima união o nascimento dos seus sete queridosfilhos: José Carlos, Gilza Maria, Luiz Antônio, Tarcísio, Maria Celi, João e Ana Maria.
Muito abotoado à Família amparou a todos no que foi possível. Gilza estabeleceu matrimônio com José Lauro Menezes Silva, a quem Oviêdo instigou a compra de uma pequena empresa de ônibus, a mitológica Bomfim. No início da década de 1960, em 1962, Oviêdo adquiriu a emblemática concessionária Ford e a Saboaria Celeste, que, sob a denominação geral de Cimavel, passou a ser comandada na época pelo filho João. Quando Luiz Antônio regressou do Paraná, formado em Engenharia, Oviêdo adquiriu uma até então acanhada construtora, a Sociedade Nordestina de Construções, que passou a ser gerido por ele e Luciano Franco Barreto, este casado com a sua estimadíssima filha Maria Celi Teixeira Barreto.
Depois, a singular empresa passou a ser conhecida como Norcon, dirigida pelos irmãos Luiz Antônio Mesquita e Tarcísio Mesquita Teixeira em 1965 – a importantíssima história da Norcon, deve-se a Oviêdo – após a sua fundação em 1958, as atividades eram voltadas para o ramo das obras públicas e industriais. Outro dado relevante é o de que no ano de 1996, a Norcon entrou em parceria com a Decide e foi inaugurada uma obra indelével para a história do comércio e do entretenimento de Aracaju, o aprazível Shopping Jardins, genuíno paradigma para a então consolidação das obras que dariam origem justamente ao elegante bairro Jardins, onde inúmeras empresas e lojas satélites foram beneficiadas em Aracaju; posteriormente Luciano Barreto foi dirigir a Construtora Celi.
Já em 1970, Oviêdo montou a Discar, e passou o comando ao irmão Elpídio e a Carlos Lyra, este casado com sua filha Ana Maria. Oviêdo também foi proprietário da Fazenda Salgado, adquirida em 1942 de Eronildes de Carvalho, onde criou com afinco gado zebu. Na plenitude da sua vida, Oviêdo tinha como atividades empresariais adireção da Cimavel, foi criador e patrono da Norcon, Discar e Bomfim; além de atividades sociais que fazia parte como a Associação Comercial de Sergipe no biênio 1959 a 1960; no dia 21 de dezembro de 1961, numa atitude desbravadora, Oviêdo fundou o Clube de Diretores Lojistas de Aracaju, que mais tarde se chamaria CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas.
Este foi um extraordinário marco para o desenvolvimento do comércio de Sergipe; presidente do Rotary Clube de Aracaju; diretor da Associação de Criadores de Estado de Sergipe; diretor e conselheiro da Associação Brasileira de Criadores de Zebu; além de ter sido fundador do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, e Deputado Estadual em Sergipe no período de 1974-1978.
Entre toda a sua fulgurante prole, destaca-se no presente artigo, a atuação marcante do seu filho mais velho, o saudoso e querido José Carlos Teixeira, como homemfortemente ligado a cultura, àquele que dirigiu a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe e elegeu-se deputado federal durante os períodos: 1963-1971/1975-1979/1983-1985/1985-1987. José Carlos Teixeira se formou em contabilidade pela Escola Técnica de Comércio Tobias Barreto, em Aracaju no ano de 1957; em outubro de 1962 elegeu-se deputado federal pela legenda da Aliança Social Democrática – coligação formada pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Republicano (PR).
Empossado em fevereiro de 1963, no ano ulterior percorreu os Estados Unidos onde conheceu centros agrícolas e pecuários. Vice-líder atuante do PSD na Câmara dos Deputados em 1965, com a amortização dos partidos políticos por força do Ato Institucional nº 2 de 27/10/65, e o concludente implante do bipartidarismo, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de aversão ao regime militar instaurado no país em abril de 1964.
José Carlos Teixeira foi hábil Presidente do diretório regional e integrante do diretório nacional da agremiação em 1966, vice-líder da bancada durante o período entre 1966 e 1967, vice-presidente das comissões da Bacia do São Francisco, de Segurança Nacional e de Fiscalização Financeira e Tomada de Contas, e titular Bancada de Orçamento; em novembro de 1966 foi o excepcionalcandidato do MDB de Sergipe a reaver o mandato federal.
Delegado à 3a reunião Ordinária do Parlamento Latino-Americano em 1967 e vice-presidente da Comissão Polígono das Secas no ano de 1968, nas eleições de novembro de 1970 alcançou a segunda maior votação do estado, mas não se reelegeu por conta da legenda não ter contraído o nível eleitoral. Deixou a Câmara ao fim da legislatura, em janeiro de 1971. Membro do Conselho de Telecomunicações em 1972 e presidente do MDB sergipano, retornou à Câmara dos Deputados em novembro de 1974, após ter comandado um movimento de acréscimo das bases partidárias em Sergipe graças as relações que tinha tecido junto à classe médica.
Empossado em fevereiro de 1975, regressou às bancadas de que já havia participado e à vice-liderança do MDB no ano de 1976. Conselheiro do Instituto de Previdência do Congresso – cuja vice-presidência assumiu em 1977 – e vice-presidente das comissões da Bacia do São Francisco no ano de 1976 e de Segurança Nacional em 1977 rematou o mandato em janeiro de 1979. Com a extinção do bipartidarismo, em novembro de 1979, na reformulação partidária que se seguiu entrou no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), herdeiro do MDB, de cujo diretório regional foi presidente em 1980 e vice-presidente durante os anos de 1982 a 1983.
Em novembro de 1982 recuperou o mandato de deputado federal, tomando posse em fevereiro de 1983. Titular da Comissão de Relações Exteriores, vice-presidência da CPI dos minérios em 1983, em maio do referido ano, licenciou-se por quatro meses da Câmara para tratamento de saúde. Sua vaga foi ocupada pelo então suplente Seixas Dória. Reassumindo o mandato, foi presidente da representação brasileira junto ao Parlamento Latino-Americano de 1983 a 1986. Não compareceu à sessão de 25 de abril de 1984 em que a Câmara abdicou por falta de quórum a emenda Dante de Oliveira, que predizia eleições diretas para a presidência da República em novembro.
No Colégio Eleitoral reunido em 15 de janeiro de 1985, contudo, José Carlos Teixeira amparou o candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito pela Aliança Democrática, um ajuntamento do PMDB com a dissidência do Partido Democrático Social (PDS) abrigada na Frente Liberal. Doente, Tancredo Neves não chegou a ser empossado, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo o cargo interinamente, desde 15 de março deste ano.
De maio a dezembro de 1985, José Carlos Teixeira assumiu a prefeitura de Aracaju por recomendação do governador de Sergipe, João Alves Filho, pertencente ao Partido da Frente Liberal (PFL). Na Câmara, sua vaga foi ocupada por Válter Batista, do PMDB. Aliado ao PDS dos Franco, família de inestimável autoridade política em Sergipe, e com o apoio do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), disputou o governo do estado pela legenda do PMDB em novembro de 1986, perdendo para Antônio Carlos Valadares, do PFL.
Diretor de captação da Caixa Econômica Federal de 1987 a 1989, nas eleições de outubro de 1990 elegeu-se vice-governador de Sergipe na chapa do PMDB encabeçada por João Alves Filho. Iniciou o mandato no dia 15 de março de 1991, exerceu-o juntamente com a Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente entre 1993 e 1994. Em outubro de 1994, consecutivamente pelo PMDB, candidatou-se ao Senado, mas não logrou êxito.
José Carlos Teixeira foi renomado empresário do ramo de automóveis, sócio benemérito do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe e da Associação Sergipana de Imprensa, foitambém vice-presidente do Sindicato de Indústrias Gráficas do Distrito Federal e diretor da Federação das Indústrias de Brasília. Contraiu belo matrimônio com a respeitada D. Maria Eugênia Fontes Sousa Teixeira; dessa união marital resultou cinco amadas filhas. O golpe militar de 1964 teve em José Carlos um determinante contestador. O parlamentar ativo que honrou a política sergipanafaleceu no dia 29 de maio de 2018, deixando lacuna inestimável no cenário político brasileiro.
Em 02 de julho de 2001 Oviêdo Teixeira morreu aos 91 anos de idade. Um dos maiores empreendedores que Sergipe já teve, deixando honrada lição de vida, legado de prosperidade e honestidade para sua família e todos os sergipanos. Dentre as tantas frases que o nosso querido ‘Sujeito’ entoou durante a sua vida, se destaca a de que “a vida é construída através de decisões ousadas”. Conclui-se que é preciso acabar com o povo pessimista, Oviêdo e sua história de vida edificou o desenvolvimento do estadocom espírito de trabalho amparado no zelo pela Família e por Sergipe que tanto o conclama, o consagrando comonotável precursor entre tantos que passaram por aqui. Teixeira se enleva, sendo o eterno Midas do Comércio de Sergipe.
¹ Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo – Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com