Vamos dar três meses a Temer para uma melhor avaliação do desempenho da economia


Dilson M. Barreto
Economista

É precipitado realizar-se qualquer julgamento de valor sobre o comportamento da economia e sobre o desempenho do próprio Presidente agora efetivo Michel Temer, na condução da nau brasileira, tão somente em razão da mudança de governo. A melhora dos índices de confiança por parte dos setores produtivos e mesmo dos consumidores sinalizadas nesses últimos sessenta dias podem ter sido influenciados tanto pela emoção que o momento condicionava, como pela perspectiva de mudança da gestão governamental, e não em decorrência das primeiras intervenções do Presidente interino e agora efetivado e da sua bem-conceituada equipe econômica. Assim, é de bom alvitre, para se ter um retrato real do comportamento da economia, esperar-se mais três meses, tempo suficiente para sabermos se o seu timoneiro e sua equipe de navegantes desviou o barco do mar revolto e o direcionou para águas tranquilas, sinalizando que bons tempos advirão.

Por enquanto uma coisa é certa e visível: continuamos com inflação elevada, recessão, desemprego, perda crescente da renda real do trabalhador e níveis de endividamento das famílias ainda elevado, fatores estes que podem interferir na retomada de atividades produtivas que dependem do consumo doméstico, juros altos e, o que é mais grave, convivendo diariamente com o fechamento de empresas e com o crescente número de pedidos de recuperação judicial. Logo, a tempestade, mesmo tendo reduzido sua intensidade ao longo dos últimos meses do ano em curso, ainda não passou. Como alerta avaliação procedida pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas em seu Boletim do mês de agosto, “há problemas concretos que ainda não foram resolvidos, com destaque para o desajuste fiscal; sem progresso nos fundamentos o pessimismo pode voltar e o país outra vez entrar em crise”. Mesmo prevendo que existe algum progresso ainda que lento no cenário econômico com perda de velocidade do processo recessivo (no início do ano a estimativa da queda do Produto Interno Bruto era de -4% e agora é de -3,2%) e o setor industrial voltado para máquinas e veículos pesados sinalizando um pequeno crescimento, todavia, o permanente aumento do gasto público e o ambiente político ainda conturbado face ao contínuo jogo de interesses, continuam alimentando incertezas e cercando os próprios agentes econômicos de muitas dúvidas sobre o que poderá acontecer durante o processo político-eleitoral que se estenderá até 2018.

Ao analisar as expectativas de empresários e consumidores sobre três óticas, redução da incerteza, alta dos indicadores de percepção da situação atual e avanço do otimismo, os analistas do IBRE/FGV têm a seguinte opinião: a) o nível de incerteza econômica por parte dos agentes de mercado, vem sendo mantido elevado em decorrência das dúvidas geradas quanto à condução da política econômica que será estabelecida até 2018, fortemente influenciada pelas eleições para Presidente da República; b) no que diz respeito a alta dos indicadores de percepção sobre a situação atual, torna-se recomendável “acompanhar a redução da distância entre os indicadores de expectativa e situação atual empresarial e do consumidor”, isto porque “não há recuperação consistente da confiança sem que os indicadores de situação atual avancem confirmando as expectativas”; c) por último, no tocante ao avanço do otimismo, os dados até agora levantados indicam existir um processo de estabilização e não, como afirmam alguns economistas, crescimento do nível de atividade, isto porque, ainda é “difícil saber se essa tendência de melhora das expectativas persistirá e efetivamente ajudará a tirar o país definitivamente deste período recessivo”.

O certo é que algumas mudanças, mesmo tímidas, já vêm ocorrendo, não obstante as resistências e críticas severas às propostas do governo, de um lado pelo inconformismo com a perda do poder e de outro em decorrência de picuinhas ideológicas entre direita e esquerda, que nada contribuem para tirar o país do buraco que ainda se encontra.  Mesmo com todos esses percalços, observa-se nesse novo período de sua efetivação como Presidente da República, que Michel Temer tem efetivado permanente diálogo com a base aliada que lhe dá sustentação, reiterando seu pedido de apoio incondicional aos projetos que já estão em tramitação e os que serão encaminhados ao Congresso Nacional, demonstrando tal atitude que o novo mandatário do país tem uma determinação política clara de conduzir, junto ao Legislativo, as reformas consideradas prioritárias para que a economia entre nos eixos e retome o seu viés de crescimento. Como diz o cientista político Murilo Aragão em artigo publicado no Diário do Poder (8/9/16), “há muito que não se vê um presidente pessoalmente envolvido na promoção de sua agenda no Congresso”. Mesmo considerando que para garantia desse diálogo e dessa agenda Michel Temer teve de recuar várias vezes e fazer concessões comprometedoras que colocaram em xeque sua autoridade de governante, todavia, vamos dar tempo ao tempo de modo a permitir um julgamento isento de emoções. Vamos esperar os próximos três meses.