QUATRO ANOS SEM LUIZ ANTÔNIO BARRETO: HOMENAGEM À SUA MEMÓRIA (Parte 2)


LABDILSON M. BARRETO
ECONOMISTA

Iniciamos no artigo anterior uma retrospectiva sobre os momentos mais significativos que marcaram a vida de Luiz Antônio Barreto à luz da convivência mantida com ele ao longo de vários anos da sua existência. Para que esta homenagem obtenha o significado pretendido, segundo o meu mais profundo desejo ela, ao abordar a trajetória de vida de Luiz, se prende a uma cronologia não ordenada dos fatos e feitos do meu conhecimento, muitos dos quais ocorreram ao longo dessa amizade construída através do relacionamento funcional ou da simples convivência pelas andanças do tempo. Para tanto é que recorro à memória, procurando resgatar as boas lembranças desse salutar convívio. Luiz tinha o grande dom de saber conquistar amigos e consolidar amizades verdadeiras, além daqueles amigos fortuitos que vieram a surgir no meio da caminhada, fruto da admiração pela sua cultura e simplicidade como ser humano. Luiz Antônio Barreto deixou sua cidade natal (Lagarto) para poder concluir seus estudos (ginasial e médio) em Aracaju, sem, contudo, afastar o seu amor por sua terra natal. É justamente em Aracaju que inicia sua carreira jornalística trabalhando em momentos diferentes, no Correio de Aracaju, Sergipe Jornal, A Cruzada, Correio de Aracaju, Jornal da Cidade e Gazeta de Sergipe, sendo neste último Jornal a consagração da sua profissão. Porém não parou aí: estudou Direito, não concluindo o curso, música e literatura, o que lhe permitiu um embasamento consistente para o seu desenvolvimento intelectual, dando asas a sua inquietante tendência para a pesquisa e a escrita.

Frequentávamos as casas um do outro. Eu mais retraído, apropriava-me em silencio não apenas da sua conversa agradável, mas também da sua cultura que se alargava da literatura à música, da educação ao folclore, da poesia à história. Nos aniversários dos meus filhos, sempre estava presente, acompanhado do primogênito Thiago, hoje um homenzarrão maior e mais forte do que eu. Era uma festa inocente para as crianças e um momento aprazível de alegria e boa conversa para os adultos, onde Luiz se destacava pelo seu fino trato. O lançamento dos seus livros nos mais diversos segmentos do saber, escritos diretamente ou em parceria com outros intelectuais de renome, representava para ele a plenitude do seu trabalho intelectual e para nós seus leitores, além da felicidade de participar de um evento onde velhos amigos eram encontrados, a satisfação de ser presenteado com novos saberes. Seus escritos não ficavam restritos à província de Sergipe Del’Rei: eles extrapolavam fronteiras penetrando Brasil a dentro e extrapolando para o Exterior, consolidando sua trajetória intelectual além-fronteiras, onde também passou a gozar de respeitabilidade e admiração pelo muito que representou para a cultura nacional.

Como era gostoso conversar com Luiz Antônio, escutar suas estórias entre elas a de seus vários amores, eternos enquanto duravam não importando o aspecto temporal, ouvir contar o resultado de suas últimas pesquisas, o próximo livro em preparo para ser lançado… a recordação do seu tempo como Jornalista da Gazeta de Sergipe de “Seu” Orlando, os editoriais publicados, as discussões políticas e intelectuais com o seu proprietário, a censura ao Jornal quando do período da Ditadura Militar, as perseguições e os constrangimentos que também sofreu nesse período. O tempo sempre era curto para tanta informação!

Não sei em que data e em que administração, mas recordo-me de Luiz Antônio como Diretor da Galeria Álvaro Santos, promovendo com entusiasmo os trabalhos dos artistas plásticos sergipanos, realizando diversos eventos culturais para valorizar a prata da casa. O vejo também sendo constantemente requisitado para emprestar seus serviços profissionais diretamente ao Governo do Estado ou a um determinado órgão público, bem assim, em 1972, ingressando como sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe onde desempenhou importante papel colaborando nos trabalhos daquele órgão, inclusive nas funções de Presidente, Secretário e Orador.  Lembro-me também da sua passagem pela Fundação “Joaquim Nabuco” na Cidade do Recife durante o período de 04 de agosto de 1983 a 21 de agosto de 1989, chefiando o Setor de Documentação daquela instituição de pesquisa, a convite do seu presidente e amigo pessoal Fernando de Melo Freire, também já falecido, o que o obrigou a fixar residência temporária no Recife, oportunidade esta que lhe permitiu expandir tanto sua área de pesquisa, como consolidar regionalmente o seu nome. Concluiu esse período exercendo por algum tempo as funções de Chefe do Escritório Regional daquela Fundação em Sergipe. Passando uma temporada residindo no Rio de Janeiro, exerceu o cargo de Assessor do Instituto Nacional do Livro. De fácil comunicação e afeito a construir boas amizades, teve no Rio a oportunidade de estreitar relações com renomados intelectuais brasileiros, tornando-se nacionalmente conhecido.  Em Portugal marcou presença efetiva ao dirigir o Instituto Luso-Brasileiro, estreitando as relações culturais entre Sergipe e aquele País. Como era emocionante ouvi-lo falar com a vaidade que lhe era peculiar, das suas idas a Lisboa, à Universidade de Coimbra, dos seus feitos em termos de palestras e seminários que participou, além das grandes amizades ali construídas! Portugal foi, talvez, a porta de entrada para marcar na vida de Luiz Antônio uma trajetória internacional no âmbito da cultura e da literatura, tornando-o um autor amplamente pesquisado e citado, especialmente a partir da publicação das obras de Tobias Barreto. Exercendo o cargo de Secretário de Estado da Educação no Governo do Dr. Albano do Prado Franco, procurou implantar um ensino de qualidade, promovendo, em convênio com a Universidade Federal de Sergipe, a formação acadêmica de nível superior dos professores da escola pública e levando o ensino médio aos setenta e quatro municípios do Interior, ação inigualável que permitiu deixar registrada sua marca como grande educador.

As lembranças me fazem também enxergar Luiz Antônio adentrando pomposamente na Academia Sergipana de Letras no ano de 1979 para ser laureado como membro daquela Academia, ocupando a cadeira de número 23, pertencente anteriormente ao Professor Gonçalo Rollemberg Leite, num reconhecimento ao seu trabalho intelectual como produtor do conhecimento científico e literário e de grande pesquisador da memória sergipana, chegando a presidir aquela Instituição durante os anos de 1983 a 1990. Além de fundador da Revista Perspectiva, escreveu cerca de trinta livros e centenas de artigos sobre os mais variados assuntos, destacando-se neste conjunto as obras completas de Tobias Barreto em dez volumes, merecendo desta forma seu ingresso naquela casa das Letras. Marcam ainda a minha caminhada com o amigo querido Luiz Antônio, a produção dos seus fascículos sobre “Personalidades Sergipanas”, publicados semanalmente, de início na Gazeta de Sergipe e posteriormente no Correio de Sergipe e que deram origem a um livro condensando todas as biografias anteriormente publicadas. A sua vocação de pesquisador o levou também à direção da Fundação Augusto Franco, nela colaborando intensamente na promoção da cultura folclórica e literatura sergipana. Todos esses grandes feitos transformaram Luiz Antônio Barreto numa grande referência intelectual tanto no Brasil como no exterior e honra maior de todos nós sergipanos.