Dilson M. Barreto
Economista
Parece até algo ensaiado tornando-se mesmo rotina entre determinados grupos de economistas ou de analistas, quando o assunto a tratar diz respeito às medidas de política econômica colocadas em prática pelas autoridades do Banco Central ou do próprio Ministério da Fazenda: “elas atenderam às expectativas do mercado financeiro”. Esta é a conclusão primeira que se escuta ou se ler nos jornais, deixando transparecer ser este segmento o principal motor da atividade econômica. Fico a meditar se atitudes como estas sejam decorrentes da crença na ortodoxia monetária,induzindo as ações do governo a priorizarem os interesses e a segurança do mercado financeiro, justamente em função do poder que o mesmo exerce sobre os demais agentes econômicos e sobre o próprio governo. Sustentado nesta perspectiva, julgo ser esta a principal razão do retardamento da eficácia dos instrumentos adotados para imprimir maior dinâmica à economia com vistas ao aumento do bem-estar da população. Daí o retardamento na redução da taxa de juros Selic, esperando-se a sinalização do mercado financeiro de que tal medida poderia ser iniciada.Para justificar esta lógica, transferem a culpa dos erros da política econômica para a política fiscal, exigindo das autoridades maior rigidez no seu tratamento, não percebendo que assim praticando estão contribuindo para o aumento da escalada recessiva.Segundo explicou um amigo que transita nessa área, a maioria dos economistas que trabalham com modelos econométricos, ao obterem os resultados de suas projeções, o seguem cegamente acreditando no êxito de sua aplicação prática, não levando em conta os custos deles decorrentes.Neste caso, a política monetária do modo como está sendo praticada, transforma-se numa verdadeira ideologia.
Acreditando nesse pressuposto, sou tentado a concluir que a viseira da ortodoxia monetária deixa em segundo plano os aspectos mais relevantes que dizem respeito ao próprio crescimento econômico, bem assim o nível de desempenho dos diversos segmentos do mercado produtivo, isto porque arrocho fiscal tem limite, especialmente na situação em que se encontra o país.Será que nenhum modelo sinalizou o custo social de sua aplicação nestes últimos dois anos e meio?Foram necessários, conforme dados publicados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e divulgados pelo Jornal “O Estado de São Paulo” (edição de 13/2/2017) que 200 mil lojas comerciais fechassem e 360 mil trabalhadores ficassem desempregados nos últimos dois anos, que uma quantidade igual ou maior de unidades industriais e de serviços também fossem desativadas gerando no total 12,0 milhões de desempregados, para que as Autoridades Monetárias tivessem a sensibilidade de reverter o curso da trajetória até então imprudentemente seguida. O elevado endividamento das famílias aliado à frustração do seu nível de renda, impediram-nas de avançar no acesso ao mercado, limitando-se ao consumo trivial de sobrevivência; o elevado nível de endividamento das empresas associado à perda de capacidade de consumo das famílias levaram grande parte das mesmas a restringirem o seu processo de produção ou mesmo fecharem suas portas. Diagnóstico amargo para um país que tem toda potencialidade em termos de recursos naturais para enfrentar qualquer tsunami econômico.
Todos sabem, de sã consciência, pois todos são extremamente inteligentes, os remédios que deveriam ser aplicados para reverter o processo recessivo que prostrou a economia brasileira nos últimos dois anos e meio.Exemplos bem sucedidos de outros países semelhantes ao nosso não faltam.Todavia, a obstinação com as medidas de combate à inflação pelo lado unicamente monetário, permitiram travar o próprio crescimento. E dentro dessa lógica, chego ousadamente a pensar ser intencional o uso de tais medidas, fruto dos diversos jogos de interesses, muitos até extremamente perversos, levando o Brasil dar um passo para frente e dois para trás, retardando sua entrada no clube dos países que integram o primeiro mundo. Avançamos no período 1930 a 1960 quando chegamos a ser a quinta economia na comparação internacional; sofremos retrocesso na chamada “década perdida”; demos alguns passos para frente no governo Geisel com a reintrodução do projeto de substituição de importações desta vez centrado no setor químico-petroquímico; voltamos ao turbilhão nos governos Sarney e Collor; tivemos algum sucesso nos períodos seguintes até o primeiro governo Lula, e novamente ingressamos no olho furação a partir de 2014. Hoje estamos rebaixados para a nona posição no ranking mundial com tendência a perder novas posições se nada for revertido a curto e médio prazos. Será um carma que o país tem que perseguir por toda sua vida, sua decomposição gradativa? Sou tentado a acreditar num texto que está sendo divulgado na internet de autoria de um senhor denominado José Padilha (?) de que “…as políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao crescimento econômico sustentável são, portanto, incompatíveis com o mecanismo (o autor denomina de mecanismo ao sistema político brasileiro de exploração da sociedade. Eu o denomino de grupos de interesses os mais diversos, dissociados dos reais interesses da sociedade), que tende a gerar um estado cronicamente deficitário”, isto porque, “embora o mecanismo não possa conviver com um estado eficiente, ele também não pode deixar o estado falir”, isto porque, se o estado vier a falir, o mecanismo morre.
Espero que essa profecia do senhor José Padilha não seja verdadeira, que as políticas colocadas em cursos sejam as mais recomendadas para a problemática brasileira, que o País encontre seu verdadeiro caminho de progresso e desenvolvimento de forma sustentada e sem nenhum recuo, que os investimentos público e privados sejam retomados e que a bandeira da produtividade seja um novo marco para garantir maior espaço do país em termos de competitividade econômica frente a outras nações no comércio internacional.Produtividade, portanto, é a palavra chave para que o país possa aumentar sua base material, devendo ser tornada em meta de política econômica se o objetivo do governo é superar o atraso. Entretanto, para que seja possível perseguir aumento de produtividade, mister se faz que as ações na área da Educação sejam consistentes, garantindo a formação de mão-de-obra qualificada segundo as reais necessidades do setor produtivo.Não dá mais para continuar ouvindo tantas contestações quando se coloca em pauta um novo projeto para a Educação que elimina vícios e privilégios daqueles que são defensores do atraso como mecanismo de sobrevivência política. Da mesma forma, faço votos que os políticos, mesmo aqueles ameaçados pela “Lava-Jato” sejam acometidos de um choque de consciência cívica e entendam a necessidade de voltarem suas vistas para a sociedade, apagando a nódoa dos seus interesses pessoais responsáveis pela atraso a que estamos submetidos, numa demonstração de reconhecimento à confiança que a mesma lhes depositou quando os elegeu. Que os bons ventos voltem a ajudar o curso da nau brasileira para que se possa chegar com tranquilidade a um porto seguro. Será que é pedir demais?