Dilson M. Barreto
Economista
Alguns profissionais da economia e agentes do mercado continuam reticentes em acreditar numa possível retomada do crescimento da economia brasileira a partir do corrente ano de 2017. Outros manifestam forte pessimismo por viverem de recordações passadas, como se o que hoje ainda está acontecendo fosse fruto da inércia de um governo fraco e cercado de auxiliares de moral duvidosa que se apropriou do poder fruto de artimanhas políticas. Efetivamente retirar o país da recessão e colocá-lo de volta no caminho do crescimento econômico é um processo lento, sofrido, demorado e com um custo social também bastante elevado. O que estamos vivenciando nestes dois últimos anos é consequência de erros brutais de política econômica promovidos no biênio 2014/2015, fruto da própria arrogância e autoritarismo da Senhora Presidente da República que não contente com sua posição de Chefe de Estado e de Governo, revestia-se também de Ministro da Fazenda e de Presidente do Banco Central, anulando parcialmente a autoridade daqueles dois agentes públicos, formulando diretrizes que sua cabeça de economista julgava serem as soluções mais apropriadas para restabelecer o crescimento do país. Subsídios, isenções, estímulo ao consumo quando as famílias já apresentavam elevados índices de endividamento, redução do preço da energia elétrica por decreto imputando sérios prejuízos às concessionárias de energia, congelamento dos preços dos combustíveis corroendo a capacidade de investimentos da Petrobrás, cuja conta foi mais tarde transferida para a sociedade, contribuindo sobremaneira para o aumento da inflação. Além disso, idealizou um duvidoso programa de conteúdo nacional elevando custos e afetando a competitividade das empresas contempladas, inclusive da própria Petrobras, além de outros como o inócuo programa de “campeões nacionais” bancado pelo BNDES, tudo isto concorrendo para o desastre econômico em razão da não eficácia de tais medidas. Não há necessidade de ser insurgente para visualizar que o foco das citadas medidas estava indo na direção errada.
Passado a euforia, já no raiar de 2016, chegou a grande fatura a ser paga, penalizando toda a sociedade e, de maneira especial, como sempre, as classes mais pobres: desemprego, inflação e taxa de juros elevada, aumento vertiginoso do endividamento público, queda nos rendimentos das famílias, aumento do endividamento das famílias e das empresas, falência de empresas, além de um explosivo déficit orçamentário por conta da queda abrupta da arrecadação. Como consequência, a mais forte recessão da história brasileira, considerada por muitos como pior do que a crise de 1929, não existindo remédios que faça supera-la da noite para o dia. Não é preciso ser economista para entender que não se estanca um processo recessivo dessa natureza num passo de mágica, nem tão pouco é possível promover a recuperação econômica no curto prazo. Todos sabem disso e nunca houve ilusão do contrário inclusive por parte da equipe do novo governo que passou a ocupar o poder. É claro que todo governante tem a obrigação moral de levar, sem subterfúgios, esperanças para a população sobre melhoras futuras, sinalizando um determinado horizonte de tempo para sua ocorrência. Porém com a consciência e honestidade de que entre a tempestade e a bonança haverá um tempo muito sofrido. Daí prescrever-se 2017 como o ano provável para a saída definitiva do fim do túnel e projetando-se um crescimento com taxas ainda insignificantes considerando-se o porte da nossa economia e os efeitos negativos dos períodos anteriores. O grande erro tanto do governo passado como do atual foi, fazendo uso de receitas monetárias ortodoxas com aperto na oferta de moeda, tentar baixar a inflação provocando uma profunda recessão. O preço foi muito alto, com o desemprego ultrapassando hoje 12,9 milhões de trabalhadores, além de uma queda abrupta da arrecadação, descontrolando os programas governamentais especialmente no campo social e paralisando os investimentos públicos.
Sou pessimista com relação às políticas econômicas ortodoxas mesmo administradas por expoentes credenciados como os que agora administram a economia brasileira. Todavia, o caos que se instalou no País e que ainda reverbera, fruto das fortes conturbações políticas e jogos de interesses pouco coincidentes com os interesses da Nação, evidenciava a necessidade de uma mudança de curso na política econômica, um choque de curto prazo, para então, num momento seguinte, ao restaurar a confiança dos agentes privados, permitir sustentabilidade ao crescimento futuro. A percepção desse problema, mesmo com atraso, levou o Banco Central a entender a gravidade que o remédio recessivo estava proporcionando à falência múltipla do doente, tomando a iniciativa de reduzir gradativamente a taxa de juros. Em todo caso, é bastante difícil recuperar rapidamente o prejuízo. Não obstante serem importantes a aprovação das medidas de controle do gasto público e as reformas da previdência e trabalhista, sou bastante cético que seus efeitos a longo prazo serão plenamente benéficos ao País caso não seja recuperado o nível de investimentos tanto público como privado com gradativa recuperação do nível de emprego e de consumo. Aumento de receita e restrição de gastos tão somente para gerar superávit fiscal objetivando abater a dívida pública não levará a lugar nenhum. Nesta hora penso que a solução seria voltar-se para a velha ordem keynesiana. Talvez assim se possa vislumbrar um crescimento bastante sustentável.
Entretanto, com todos os percalços que estão sendo enfrentados, várias instituições sinalizam que a economia brasileira está prestes a iniciar um processo de lenta recuperação. Muitos agentes de mercado, acreditando na eficácia da política econômica em curso, projetam crescimento da economia brasileira a partir do primeiro trimestre de 2017, devendo alcançar, até o final do ano, entre 0,5% (os mais conservadores) e 1,3% (os otimistas). Por outro lado, se as projeções de um determinado agente financeiro cujos números me foram apresentados, estiverem certas e os riscos da instabilidade política provocados pelos resultados da operação “Lava Jato” não afetarem a economia, para o que coloco minhas dúvidas, teremos, segundo esse agente financeiro, a partir de 2018, um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nunca inferior a 3,0%, com crescimento robusto da indústria, da agricultura e da formação bruta de capital, evidenciando com isso sustentabilidade a longo prazo. Agora é esperar o tempo passar para ver quem tem razão: os pessimistas ou os otimistas.