Perspectivas para 2017


Dilson M. Barreto
Economista

Mesmo que ainda se preveja um futuro incerto para a economia brasileira no decorrer do ano de 2017, todavia pode-se afirmar com segurança que será muito melhor do que 2016 agora findante. Realmente, o ano que passou foi entrecortado de muito sofrimento para a população que viu bater em sua porta o desemprego em larga escala, a queda do seu poder aquisitivo, além de ser submetida a conviver com um processo recessivo longo que se disseminou por todos os setores da atividade produtiva afetando tanto as empresas quanto as famílias que tiveram de suportar elevados níveis de endividamento, e sem comparação com outros ciclos recessivos já experimentados pelo país em anos anteriores.

Com toda certeza 2017 não reproduzirá este filme tão perverso. É claro que não haverá mágica na condução da política econômica, bem assim velocidade na realização das mudanças. Será um processo lento, gradativo, com algum sofrimento ainda no primeiro trimestre pelo menos, mas que, passado essa poeira, as coisas começarão a clarear, indicando um novo caminho a ser seguido.

Existe muita expectativa de que 2017 seja muito melhor do que 2016 por parte de famílias e empresários, o que certamente contribuirá para o aumento do nível de confiança desses agentes sobre a retomada lenta e gradual do crescimento, pondo fim à recessão prolongada. Alguns movimentos positivos registrados no final do ano que passou e em decorrência de projeções efetuadas por diversos analistas, permitem convergir para certo otimismo quanto o que poderá acontecer durante o ano que se inicia:

  1. As estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) variam entre 0,3% projetado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, até 1,0% por determinados segmentos do mercado;
  2. O desemprego continuará avançando, porém a uma velocidade menor, esperando-se uma possível reversão a partir do último trimestre do ano, quando o ciclo de crescimento apresentar algum vigor;
  3. O Banco Central deverá iniciar um movimento mais forte de queda da taxa de juros, sinalizando positivamente para os empresários perspectivas novas de investimentos;
  4. A queda na taxa de juros também permitirá tanto para empresas como para famílias um alivio no que diz respeito ao seu sufocante endividamento, abrindo novas possibilidades para a retomada do crédito;
  5. A estabilidade dos preços conduzirá a inflação para patamares civilizados, recompondo o poder de compra das famílias e trazendo para baixo os custos das empresas, o que permitirá o aumento do consumo mesmo que em níveis singelos;
  6. A reforma da Previdência deverá ser aprovada com algumas alterações em seu texto original, viabilizando a execução da Lei do limite do gasto público, proporcionando, no médio prazo, certa folga financeira para melhor distribuição das rubricas orçamentárias nos programas e projetos considerados prioritários;
  7. A perspectiva de crescimento da economia, mesmo modesta como indicam as atuais projeções, sinaliza para o Governo a possibilidade de aumento na arrecadação tributária, o que poderá amenizar o déficit corrente acumulado;
  8. A safra de grãos deve chegar a 213 milhões de toneladas, representando um aumento de 14,2% em relação ao ano anterior, contando inclusive com a recuperação da produtividade média que vinha sendo perdida. De igual modo, o Brasil continuará sendo o segundo maior produtor e o primeiro exportador de soja e o segundo maior exportador de milho no mercado mundial;
  9. Por fim, a retomada por parte do Governo, do programa de concessões no tocante à infraestrutura, considerado estratégico para reaquecer os motores da economia.

Tenho consciência que este será ainda um ano difícil. Todavia, apenas para ilustrar o sentimento de que a recessão vai ficar para trás e que haverá a retomada, mesmo singela, do crescimento da economia brasileira, reproduzo aqui as projeções iniciais efetuadas pelo IBRE/FGV para 2017, considerando, no caso um insignificante crescimento de 0,3% para o PIB, valores estes que deverão sofrer alterações que espero para melhor, no decorrer do ano: Consumo das Famílias, 0,0%; Consumo do Governo, -0,5%; Exportação, 2,2%; Importação, 1,3%; Investimento, -0,1%; Agropecuária, 4.5%; Indústria, 1,0%; Construção Civil, 1,7% e Serviços (incluindo Comércio), -0,1%; Intermediação Financeira, -2,2%.Aparentemente não é nada. Porém, se pelo menos esses números se concretizarem já demonstram um sinal de que o Governo não está parado, oxigenou-se e, com todos os percalços, está pondo a economia em marcha, tirando-a do atoleiro.

Alguns pontos, contudo, põem de sobreaviso as expectativas quanto às melhorias futuras: 1) o início da gestão de Donald Trump e sua política protecionista, cujo discurso tem levado a diagnosticar ações temerárias com grau de incerteza que poderá colocar em risco economias ainda frágeis de países emergentes como o Brasil; 2) a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos por parte do FED (Banco Central Americano), que poderá produzir uma revoada de capital para aquele País, afetando a taxa de câmbio e, consequentemente, pondo em risco a inflação; 3) a continuidade da turbulência política interna, notadamente em decorrência dos resultados da delação premiada dos integrantes da Odebrecht, envolvendo diretamente um grande contingente de parlamentares e políticos outros, o que poderá levar a certa instabilidade ao Governo Temer, além provocar um vazio em termos de lideranças futuras; 4) a trajetória da dívida pública cujo volume, confrontada com a capacidade financeira do Estado brasileiro, torna-a insustentável.

Este início de ano será, portanto, de expectativas tanto no que diz respeito às decisões políticas do novo governo americano, bem assim quanto ao desempenho da Agenda do Presidente Temer no que se relaciona aos investimentos necessários para dar solidez ao crescimento da economia brasileira. Mesmo assim, tenho confiança que 2017 seja realmente o ano da virada.