Dilson M. Barreto
Economista
Tudo parecia estar caminhando para o alcance de resultados favoráveis, a economia se despregando do processo recessivo, saindo do fundo do poço, os índices de confiança sempre aumentando e cada vem mais convidativos a indicar que finalmente a tempestade havia passado e que, a partir de agora, seria tão somente momentos de bonanças, mesmo que em valores singelos. Os agentes de mercado refazendo seus números para cima, sinalizando que este terceiro trimestre seria de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que garantiria que em 2017 cresceríamos entre 1,5% a 2,0%, e o próprio governo estimando um crescimento de 1,6% para a economia.
O que deu errado? Vários são os fatores que vêm contribuindo para que o caminho indicado esteja sendo interrompido: em primeiro lugar o fato de não ser a Economia uma ciência exata e as bolas de cristais dos economistas nem sempre refletem a verdadeira realidade, projetando números muitas vezes ilusórios; em segundo lugar, o aperto fiscal e monetário promovido pelos agentes que comandam a economia brasileira não sinalizam espaços para que a economia possa respirar mais aliviada, proporcionando alguma folga aos principais setores da atividade produtiva capazes de revelar sinais de retomada do crescimento; em terceiro lugar, as conturbações políticas, os jogos de interesses dos políticos, conturbando fortemente o ambiente econômico, fragilizando inclusive o próprio Presidente da República que tem de ceder cada vez mais para conseguir algum sucesso em suas propostas de estabilidade, e pior, com seus constantes recuos, demonstrando ser um comandante fraco, perdendo a cada dia a credibilidade da população; em quarto lugar, a falência total dos Estados e Municípios, pressionando a União no socorro financeiro, com reflexos negativos no já alarmante déficit público; em quinto lugar, a nova oposição, extremamente raivosa, agora procurando dar o troco, investindo pesado para que nada dê certo, torcendo para que o País continue à deriva; em sexto lugar, a crise institucional provocada pelas denúncias pouco republicanas do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, respingando inclusive no próprio Presidente de República, aliado à aprovação imoral pela Câmara dos Deputados da Lei anticorrupção e de abuso de autoridade, que procura proteger os parlamentares mediante a anistia ao caixa dois, e punir os magistrados que buscam resgatar a moralidade perdida; por último, não se esperava que o candidato Donald Trump, com suas propostas de extrema direita e ameaçadoras do equilíbrio internacional e do livre comércio, carregado de ideias belicistas, saísse vencedor nas eleições americanas, colocando inclusive em risco a recuperação econômica dos países emergentes, com destaque para a América Latina. Além disso, o nacionalismo xenófobo eivado de protecionismo e antiglobalização que se expandem no continente europeu, sinalizam caminhos difíceis a serem enfrentado nas relações internacionais a partir de 2017.
Por conseguinte, apesar de empresários e consumidores haverem demonstrado, de início, certo otimismo em relação ao futuro da economia brasileira, esse otimismo parece estar fenecendo, isto porque os números que constantemente são apresentados tornam-se frágeis, demonstrando que o caminho a seguir ainda será longo e cheio de obstáculos, muitos deles de difíceis transposição. Tanto é assim que, nas últimas semanas, as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 realizadas pelos operadores que efetuam a pesquisa semanal Focus do Banco Central e que, pela experiência vivenciada da realidade brasileira, enxergam mais de perto as tendências da economia, veem refazendo para baixo suas expectativas de crescimento, apresentando números cada vez mais decepcionantes para quem esperava que o motor da economia tivesse começado a engrenar com mais força (em julho, época da euforia, a estimativa era de que o PIB encolheria apenas 3,16%; agora a estimativa é de -3.49%). Sentindo de perto essa realidade, o governo também já refez suas projeções para 2017: de uma estimativa inicial de 1,6%, reduziu-a para 1,0%, sinalizando reconhecer o estado de forte fragilidade em que se encontra a economia. Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz uma projeção de apenas 0,5% para o crescimento da economia brasileira em 2017, o mercado já sinaliza para o próximo ano um crescimento entre zero e 0,3%.
Esperava-se que a queda da taxa de juros viesse contribuir para dar certa folga à reativação da economia, proporcionando maior impulso aos investimentos e ao consumo, além de reduzir as despesas financeiras do governo, cujo impacto é bastante representativo no endividamento público. As circunstâncias acima, entretanto, parecem estar deixando no ar um certo nervosismo, indicando uma possível reviravolta na tendência. Tudo indica que vamos ficar com os números conservadores projetados pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, que em seu Boletim Macro do mês de novembro do ano em curso apresentou perspectivas altamente sombrias para os principais setores da economia, exceto para as exportações: Consumo das Famílias (-3,8%); Consumo do Governo (-1,3%); Investimento (-11,3%); Exportação (6,4%); Importação (-11,0%); Agropecuária (-1,6%); Indústria de Transformação (-7,0%); Construção Civil (-3,3%); Serviços (-2,6%). Finalmente a estimativa para o Produto Interno Bruto: -3,4%. No mês de julho, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão calculava uma queda de apenas 3,1%. Sejam quais forem os resultados finais, tais números, em função das incertezas que ainda persistem, revelam que as conquistas positivas obtidas nos cenários anteriores estão sendo gradativamente perdidas, nada levando a crer que haja mudanças ao encerrar o mês de dezembro. A economia brasileira parece que está caminhando para trás, o processo recessivo aprofundando-se ainda mais, gerando mais desemprego.
O que se enxerga nesse momento é que a convalescença do doente chamado Brasil será bem mais demorada e talvez mais dolorosa do que se acreditava. Uma das questões do insucesso das tendências antes projetadas, está justamente no fato de que confiar tão somente na melhoria crescente dos índices de confiança de empresários e de consumidores, muito embora tais indicadores em alguns momentos sinalizem redução do pessimismo, não dá sustentabilidade para garantir que haverá retomada do crescimento, isto porque aumento de confiança reflete muito mais expectativas, não podendo ser entendido como sinônimo de efetividade. Há, portanto, uma certa distância entre o mundo dos desejos e o mundo real. Agora é tão somente aguardar o fechamento do final do ano e confrontar os resultados. Uma coisa é extremamente correta: é muito difícil fazer previsões econômicas num ambiente político conturbado, projetando-as para um futuro ainda incerto. A crise política e institucional gerada pelo egoísmo e cegueira absoluta dos agentes públicos em seus três níveis, somente contribui para o aumento da incerteza, tudo levando a crer que nem os anéis nem os dedos sobreviverão embalados pelas alarmantes denúncias da operação “lava jato”. Pobre povo brasileiro, inclusive este humilde escriba.