Dilson M. Barreto
Economista
Uma boa gestão é o maior conselho que se pode dar a um Administrador quando designado para o exercício de um determinado cargo. É o segredo do sucesso. O inverso representa o desastre. Platão (427-347 a.C.), habitante da Grécia Antiga, fundador da Academia em Atenas, considerada a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental, já afirmava àquela época: “os governos variam como variam os caracteres dos homens…os estados se compõem das naturezas humanas que neles existem”; consequentemente, “o Estado é o que é porque seus cidadãos são o que são. Portanto, não devemos esperar ter melhores estados enquanto não tivermos melhores homens”. Desta forma, explicita, “… “até então, todas as mudanças deixarão todos os pontos essenciais inalterados”. Este é o retrato do Estado brasileiro. A natureza dos nossos políticos, salvo algumas exceções, é perversa quanto às suas intenções de governar.
Os vícios patrimonialistas, clientelistas e eleitoreiros herdados da República Velha, acrescido à corrupção que se esgarça como uma erva daninha, distorce o comportamento humano, especialmente de seus líderes, sendo responsável pela grave doença que se alastra país afora, e bastante resistente à cura. Justamente a má política pode ser diagnosticada quando assistimos cotidianamente os gestores escolhendo de modo desastrado e muitas vezes de forma irresponsável suas equipes de trabalho, cercando-se de pessoas incompetentes, sem compromisso com a própria Administração, de olho tão somente em seus próprios interesses pessoais, e que dominam e manipulam o eleitorado, com destaque para aqueles segmentos com menor capacidade de entendimento para distinguir o bom do mau político. Se você não tem bons homens na política, a autoridade do governante fica fragilizada, o poder de mando se esfacela, concorrendo para a desagregação da ordem social. É isto que estamos vendo acontecer no país quando as gangs instaladas nas favelas travam combates com a polícia, os presídios promovem chacinas, os policiais entram em greve promovendo o caos, além da agitação social que se manifesta de modo crescente em decorrência da insatisfação da população face ao crescimento do desemprego e da ampliação do seu nível de miserabilidade, aliado à desordem política motivada pelos diversos jogos de interesses. Enquanto isso, o exército, que nada tem a ver com a questão pois sua função é outra totalmente diferente, é convocado para assegurar a paz.
Este é o retrato alarmante que se manifesta tanto a nível Federal, como na grande maioria dos Estados e municípios brasileiros, tanto em decorrência da irresponsabilidade fiscal, bem assim pela visão distorcida do que seja administrar a coisa pública, de olho voltado unicamente para seus interesses políticos. É uma cadeia sucessiva de péssimos exemplos, contaminando todas as instituições. Para esses maus gestores, fazer política significa tão somente trabalhar para eleger-se no próximo período eleitoral ou eleger um preposto seu, para este fim servindo-se de todos os meios lícitos e ilícitos a seu alcance, de modo a poder atingir seus objetivos, mesmo que exista circulando na atmosfera da moralidade a chamada “operação lava jato”. Daí ousarem insistir em não se despregarem das ações clientelistas, patrimonialistas, de compadrio, dando pouca importância à efetivação de uma política de promoção social e de desenvolvimento econômico, atividades estas cujos retornos somente ocorrerão a longo prazo. Talvez alimentados pelas projeções futuristas de Lorde Keynes de que no longo prazo todos estaremos mortos, também para eles, no longo prazo, todos poderão estar politicamente mortos. Por conseguinte, para esses maus administradores que não têm visão de futuro em termos de políticas de desenvolvimento, o importante é o curto prazo, o imediatismo cujos resultados atendem seus interesses específicos: as vantagens pessoais e o poder a qualquer custo. Destra maneira, por não terem maiores objetivos a não ser o que lhes digam respeito e ao grupo que lhe sustenta, todas as coisas importantes permanecerão inalteradas. Em razão de tais pressupostos, consideram não ser prioritário uma boa educação, uma boa saúde, uma boa segurança. Um povo alienado, subserviente, inseguro e extremamente pobre, sempre será dependente de seus falsos líderes em troca de migalhas ou de pequenos favores, tornando-se eternamente agradecidos, conformando-se em serem permanentemente enganados e transformados em massa de manobra.
Infelizmente este também parece ser o caso do nosso Estado de Sergipe nas últimas duas décadas. As gestões governamentais, com raríssimas exceções, orientaram-se ao longo desse período para visões de curto prazo, para o imediatismo político, inclusive com parcial desprezo pelo segmento técnico, como se estes fossem, fruto do tecnicismo de suas práticas de trabalho ou da seriedade com que o empreendem, atrapalhar seus objetivos. É um filme que agora se repete. Quando o nosso Governador anunciou semanas atrás que iria fazer uma reforma do Secretariado, torci para que desta vez a coisa se fizesse de forma adequada, colocando as pessoas certas nos lugares certos. Doce ilusão! Mais uma vez ele resolveu insistir nos mesmos erros do início de sua administração, nomeando pessoas sem qualquer compromisso com o desenvolvimento do nosso Estado (salvo restritas exceções), deixando bastante claro que o seu compromisso é outro e está relacionado, tudo indica, com sua futura eleição para o Senado Federal.
Sinto profundamente ver perdida a oportunidade de se legar à população sergipana uma gestão centrada no planejamento de longo prazo. Porém isto parece não interessar, pois não daria voto. O voto somente acontece mediante a cooptação dos diversos grupamentos políticos seja através da realização de pequenas obras públicas nem sempre agregadoras de bem-estar, ou mesmo por meio de favores sob as mais diversas formas. E esta realidade parece ter se concretizado, isto porque, praticamente, não mais existe oposição ao governo seja no próprio âmbito estadual ou municipal. O que se viu, portanto, foi uma reforma pouco voltada para os aspectos técnicos profissionais ou mesmo direcionada à promoção do desenvolvimento de Sergipe. Aliais, não foi uma reforma, mas sim uma arrumação focada unicamente em interesses políticos. Parafraseando Platão, o Estado de Sergipe é o que é, porque os seus políticos são o que são. Resta apenas a esperança de que nosso Governante, antes de concluir o seu mandato, sofra um choque de gestão, gire a roda ao contrário e, cercando-se de pessoas experientes e com visões centradas no planejamento, seja possível recuperar o espaço de tempo até então perdido, presenteando seus governados com um projeto sustentado de desenvolvimento voltado para o futuro. Nunca é tarde para se esperar que bons ventos aconteçam.