Já aparece uma luz no fim do túnel


Dilson M. Barreto
Economista

Mesmo considerando que os resultados apresentados recentemente pela economia brasileira, seja também uma decorrência do esforço fiscal empreendido ainda no Governo da Presidente Dilma Rousseff através do trabalho dos seus ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa, todavia, esses resultados que vislumbram como positivos neste início do governo interino de Michel Temer podem ser apontados como decorrência do grau de confiança que o mercado começa a sinalizar, espelhada na performance e no discurso da nova equipe econômica.

Ratificando tal assertiva, observamos no Boletim Macro publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas relativo ao mês de junho findante, a existência de sinais que indicam o começo da estabilização da economia brasileira. De acordo com o citado Boletim, três fatores são apontados como responsáveis por essa mudança de trajetória: a) “a conclusão do processo de ajuste iniciado em 2015, com a correção de uma série de preços básicos, uma postura menos leniente em relação à inflação e mais transparência com relação ao drama fiscal em que se colocou o país”; b) “a correção dos preços relativos provocou uma necessária alteração na estrutura da demanda e da oferta que beneficiou os setores produtores de bens comercializáveis”; c) a troca de governos, ainda que provisória até aqui, impactou positivamente a confiança de empresas e consumidores”. Acrescento aos fatores acima listados, um quarto que está relacionado com as articulações políticas do governo com o Congresso e que tem conduzido à aprovação, pelo menos neste início de interinidade, das medidas econômicas necessárias à estabilização e à construção de uma trajetória de crescimento.

Este conjunto de fatores levaram aquele Instituto a refazer suas avaliações sobre o comportamento da economia brasileira até o final de 2016, como pode ser visto a seguir, numa comparação entre os meses de abril e junho:

– Consumo das Famílias: de -4,7% para-4,0%;

– Exportação: de 6,4%, para 11,3%;

– Importação: de -14,9%, para -14,2%;

– Produto Interno Bruto: de -3,8%, para -3,5%;

– Indústria: de -5,3% para -4.7%;

– Comércio: de -7,3% para -6,1%;

– Serviços: de -2,8%, para -2,6%.

Todavia o IBRE prevê ainda uma queda acentuada na Formação Bruta de Capital (Investimentos) estimada anteriormente em -9,6% elevando-se, na estimativa do mês de junho para -11,7%, bem como a Construção Civil que antes tinha uma estimativa negativa de -4,2% e passa agora para -5,1%. Tais decréscimos podem ser justificados em decorrência primeiro da grande margem de capacidade ociosa existente na atividade industrial, o que certamente não levará os empresários a promoverem novos investimentos no setor. Neste cenário onde existem ainda muitas incertezas e grande capacidade ociosa no setor produtivo, torna-se bastante difícil qualquer empresário pensar em realizar novos investimentos no curto prazo. Em segundo lugar, a crise por que passa atualmente a Construção Civil com queda na demanda por imóveis, ao que se alinha a paralização das grandes obras governamentais, fruto da crise financeira por que passa o Estado brasileiro. O alento no crescimento do industrial pode ser aferido então pela perspectiva de expansão das exportações, uma vez que, como avalia o IBRE, “esta atividade ainda parece longe de uma trajetória de recuperação”. Mesmo assim, a expansão do setor externo é muito mais decorrente da redução das importações do que em razão do aumento da demanda estrangeira pelos nossos produtos.

O que anima nossa avaliação da existência de uma luz no final do túnel permitindo projetar uma virada positiva da economia, está alicerçada também pelos dados das sondagens conjunturais procedidas pelo IBRE/FGV, que apresenta resultados favoráveis a tal julgamento. O Índice de Confiança da Indústria subiu 4,2 pontos em junho, alcançando 83,4 pontos que, segundo aquele Instituto, foi “determinada majoritariamente pela melhora das expectativas em relação ao futuro próximo”. De igual maneira, o Índice de Confiança do Comércio avançou 2,8 pontos, passando de 70,9 para 73,7 pontos, indicando que este setor “vai se tornando gradativamente menos pessimista em relação à evolução futura da economia”. Por último, o Índice de Confiança do Setor Serviços apresentou um crescimento de 1,9 pontos, cuja melhora “tem sido sustentada pela contínua redução do pessimismo em relação aos meses seguintes”. Alie-se a estas análises o fato de que o crescimento do saldo positivo da balança comercial juntamente com a entrada substancial de capital estrangeiro acrescido da diminuição do resultado deficitário da balança de serviços e rendas, vai permitir a substancial redução do déficit em conta corrente que, segundo avaliação do Pesquisador Bráulio Borges, pode se aproximar de zero. O próprio Banco Central já admite uma queda na taxa de inflação até o final de 2016, indicando também a possibilidade de a mesma se aproximar do centro da meta (4,5%) em 2017. Se estas projeções estiverem corretas, provavelmente haverá redução da taxa de juros Selic ainda no corrente exercício.

Mesmo com esta sinalização positiva, além da incerteza que ainda afeta as decisões futuras do empresariado e do elevado nível de endividamento das famílias, o mercado de trabalho continuará se deteriorando, sinalizando que o aumento do nível de desemprego deverá continuar crescendo até o final do ano. Deste modo, dado as fragilidades dos setores produtivos que deverão persistir até o encerramento deste exercício, dois aspectos deverão obstaculizar a gestão governamental: em primeiro lugar, a continuidade da queda da arrecadação tributária, impedindo a redução do déficit fiscal, travando os investimentos públicos; em segundo lugar, as perspectivas de crescimento que somente deverão ocorrer a partir do segundo trimestre de 2017, mesmo assim de forma bastante tímida.

Não obstante a melhora dos indicadores econômicos divulgados pelo IBRE/FGV comprovando a existência de uma luz no final do túnel e a perspectiva de um crescimento futuro, as ameaças de novas turbulências continuarão existindo no ar e ameaçando possíveis retrocessos. Este prognóstico negativo somente poderá deixar de tornar-se uma deprimente realidade, caso a classe política tenha capacidade “de entender e convergir para uma linha de ação que aumente o grau de previsibilidade da economia”.