Dilson M. Barreto
Economista
A crise política que tomou conta do país a partir das revelações de Joesley Batista está provocando uma paralisia no ritmo de encaminhamento das reformas econômicas tão necessárias para sairmos da recessão. Essa letargia não pode continuar acontecendo, isto porque o Brasil é muito maior do que tais incidentes. Não estou aqui querendo editar aquela música “vamos esquecer as mágoas…”, isto porque a magnitude da mágoa torna difícil esquecê-la. Contudo, é necessário e urgente encontrar uma saída para retomar o processo de recuperação que a economia brasileira estava sinalizando neste primeiro trimestre. A sociedade está cansada e não pode continuar neste seu sofrimento de perdas constantes. Algo precisa ser feito e este algo tem que partir da iniciativa do próprio Congresso Nacional, de maneira especial dos partidos que até ontem integravam a chamada base de sustentação do governo. Mesmo que agora se afastem do Presidente Temer em decorrência da sua prevaricação confessada, contudo, não podem se afastar do povo. Se, por falso moralismo, renegam o Presidente evitando serem maculados pelos pecados capitais daquele, todavia não é justo, neste momento de grave crise, arredar o pé dos bons propósitos relacionados com a aprovação das medidas econômicas que abririam um novo caminho para a saída da crise. Deixem que a oposição continue com o seu grito enlouquecido de “quanto pior melhor” e tratem de ser coerentes com os seus propósitos de ajudar o Brasil a encontrar uma saída. Não é hora de retrocesso. O País não pode mais suportar novas crises e sua população, indignada com o atual processo político, não pode continuar pagando o alto preço pelo descaso e inércia de seus representantes. Antes de pensarem em si mesmo, antes de arrogarem para si um manto de moralidade que não têm, até mesmo antes de negarem três vezes que são tão corruptos quanto o Presidente, é preciso dar prioridade ao Brasil. E o que o país espera do Parlamento, enquanto não houver outra solução jurídica, é justamente este salto de dignidade (pelo menos por uma única vez) libertando-o do caos a que está sendo empurrado.
Deixem que o Presidente Temer amargue o seu erro, a sua conduta reprovável, que viva sozinho a sua agonia que se complica a cada dia por querer omitir a verdade. Deixem que ele próprio discuta com a Justiça sua pretensa inocência e enfrente como constitucionalista que é, o seu julgamento. Esqueçam Temer e deixe-o curtir a sua solidão e falar sozinho alimentando a ilusão de que terminará por completo o seu mandato. Se não há saída para ele, entretanto existem saídas para o Brasil. Torna-se necessário apanhar cada pedaço desse grande vaso que se chama Brasil e tentar solda-los para que tenha capacidade de suportar uma sobrevida até 2018. Com todo o drama que o país passou a vivenciar a partir das denúncias do boiadeiro do JBS gerando confusão e incertezas, existe por trás de Temer uma equipe econômica que até agora tem merecido a credibilidade de todos os agentes econômicos e que, para nossa felicidade, não foi envolvida no mar de lama em que se meteu seu chefe maior. Em nome do povo brasileiro, a base parlamentar que antes estava coesa com o Presidente da República, deve enxergar nessa equipe, mesmo com as divergências sobre o modelo econômico por ela adotado, a tábua de salvação para a construção de um novo porvir. Daí a necessidade da realização de um pacto político não com o Presidente, porém com a Nação, com o povo brasileiro. Não é hora de se fazer negociatas, aproveitando-se da fragilidade do Presidente da República o que somente contribuiria para onerar ainda mais um orçamento já bastante comprometido, além de ameaçar um organismo já extremamente dilacerado. A hora agora é desvestir-se da arrogância, da prepotência, das negociatas na calada da noite e, com humildade e clareza de espírito, se pensar no Brasil, no seu futuro. O povo agradece.
Mesmo que o cidadão brasileiro continue tendo preservado ao longo de toda essa tempestade política a sua liberdade e o seu direito de ter vez, voz e voto, entretanto, o espírito democrático está ferido em sua essência, tornando-se necessário reconstruí-lo, complementa-lo com novos instrumentos que proporcionem maior nível de representatividade, transparência e autenticidade. Não será com esse Congresso que este projeto poderá ser edificado, pois falta-lhe condições morais e credibilidade. Todavia, está nas mãos deste mesmo Congresso a responsabilidade de não permitir que o impulso de crescimento que foi detectado no primeiro trimestre deste ano, venha definhar, pondo por terra as expectativas e a confiança tanto dos consumidores como dos empresários de que, atingido o fundo do poço, este novo semestre seria de retomada do crescimento e redução gradativa do desemprego. Mesmo com toda esta tempestade, ainda existem organizações que apostam no crescimento da economia brasileira ainda neste fatídico ano de 2017. Neste momento de tanta conturbação, é preciso acima de tudo pensar no Brasil e no futuro do seu povo, recompondo as esperanças de que nada é impossível quando se tem determinação e vontade de fazer. Não obstante o barro seja de má qualidade, na emergência em que nos encontramos não existe outra alternativa que não seja sua utilização para que o edifício possa ser reconstruído.