Chegou o tempo das promessas


Dilson M. Barreto
Economista

Ingressamos no período eleitoral, da propaganda maçante, mesmo assim, símbolo maior do processo democrático e momento que marca com maior evidência, a liberdade de expressão do cidadão e de escolhas, e de ver consagrado o seu direito constitucional de ter vez, voz o voto. É dentro desse contexto que as eleições que se aproximam movimentam eleitores e candidatos, mais os candidatos do que os eleitores.

É período das grandes promessas, muitas delas mirabolantes, outras razoáveis porém inviáveis financeiramente, outras, porém, consideradas factíveis. E os candidatos num grande esforço para conquistar o eleitor prometem mundos e fundos, como se dispusessem de uma vara de condão e, com um simples toque, fosse possível transformar sonho em realidade. O pior é que tem eleitor que acredita nas falsas promessas, briga pelo candidato votando nele esperando, quando eleito, que as realizações prometidas mudem sua vida, de sua família, do seu bairro ou da sua cidade.

Se fossemos realizar um estudo comparativo entre o que vem sendo projetado como propostas de candidatos nos seus vários níveis de governo nos últimos vinte anos para não irmos tão longe, os Estados e seus inúmeros municípios estariam gozando de um novo panorama físico e social, como se estivessem vivenciando o mundo das maravilhas e os seus cidadãos gozando das mais diversificadas riquezas materiais. De acordo com o grau das promessas, educação, saúde, habitação, saneamento básico, mobilidade urbana, rodovias, dentre outros bens, já estariam totalmente realizados no melhor nível de perfeição possível e estaríamos desfrutando os melhores serviços do mundo. Nada mais teria de ser realizado a não ser manter com o mesmo nível de qualidade o que já tinha sido implantado. Ninguém viveria na pobreza, o analfabetismo deixaria de existir, todos gozariam de excelente saúde, ninguém viveria morando embaixo das pontes. O pior é que essa utopia massificada quando do período eleitoral é que leva o eleitor a acreditar e votar no seu candidato preferido, acreditando que as mudanças acontecerão.

Mesmo acreditando no ditado de que “a esperança é a única que morre”, o direito à liberdade de expressão dos candidatos os fazem trafegar no mundo das mentiras, disseminando ilusões e utopias, principalmente para aqueles grupos sociais mais vulneráveis. Uma reforma político-eleitoral deveria proibir que as propagandas dos candidatos utilizem falsas promessas para, iludindo o eleitor e incentivando nele a crença da mudança para melhor, venha a conquistar o seu voto. Da mesma forma, deveria ser obrigatório ao candidato conhecer a realidade econômica e financeira do seu Estado ou Município, de forma a somente prometer aquilo que tivesse viabilidade de ser executado no quadriênio, mesmo que, por quaisquer circunstâncias alheias à sua vontade, parte do prometido não fosse executado. Isto sem falar nos partidos políticos que, salvo uma minoria (de sã consciência nem sei se ela existe), pela permissividade com o mal feito, denigrem a vida partidária, tirando o brilho do processo eleitoral.

Outro aspecto que chama a atenção quando do período eleitoral está relacionado com o nível de amizade e intimidade do candidato com o incauto eleitor. A partir de agora, apertos de mãos, largos sorrisos, tapinhas nas costas, lembranças do passado e dos familiares, lembranças da época em que eram estudantes ou que jogavam bola juntos, abraços e beijos em crianças alegres com o movimento e espantadas com o afago dos visitantes, visitas frequentes aos redutos eleitorais, reuniões e mais reuniões com as lideranças de bairros, passeatas, distribuição de santinhos, churrascos, uma rodada de cerveja ou de cachaça, um pouquinho de dinheiro para alegrar os cabos eleitorais, tudo isso deixando transparecer a vontade efetiva do candidato em solucionar, se eleito, as questões, muitas delas simples, apresentadas com boa fé por parte do eleitor. É que muitos eleitores se encantam com o mundo da fantasia.

Alguém pode contestar afirmando que cada caso é um caso. Existem alguns candidatos, minoria entretanto, que são bem intencionados, acreditando que, se eleitos, poderão fazer alguma coisa pela sua cidade. Todavia, existem também muitos oportunistas que se servem da ocasião ou para ficarem dispensados do emprego, ganharem uma boquinha financeira com o aluguel do seu partido durante a campanha transformando-o num negócio rentável ou, em último caso, de olho num possível emprego de quatro anos com uma boa remuneração. No período que antecede as eleições tem-se de tudo.

Todavia, essa grande utopia se encerra passada as eleições. Como relata um vídeo postado no WhatsApp, relacionado com a temporada de caça ao eleitor das classes mais pobres, justamente aquelas mais vulneráveis à conversa bonita dos candidatos: “vai a casa do pobre, abraça o pobre, beija o pobre, tira selfie com o pobre, promete tudo ao pobre e depois esquece o pobre”. Porém não é somente o pobre que é esquecido; outros grupamentos também o são. Esse é o mundo real que apenas serve para fraudar o processo eleitoral e cuja reversão somente poderia acontecer com uma reforma político-eleitoral séria.  Entretanto, antes dessas mudanças acontecerem, torna-se necessário proporcionar à população uma educação de qualidade e consciência política para saber fazer suas escolhas separando o joio do trigo e ter capacidade de contestar quando se sentir lesado. Sem isso não haverá mudanças e continuaremos nos enganando ou sendo enganados acreditando que agora haverá mudança de verdade.