Dilson M. Barreto
Economista
Meu grande e especial amigo Nicanor,
Você, com a sua morte, nos pregou uma grande peça. Nos legou a todos nós seus amigos e especialmente à sua família, um pranto imorredouro, isto porque sua memória e seu espírito amigo, sempre presencial a qualquer momento das nossas vidas, jamais serão esquecidos. Não estávamos preparados para esta sua partida tão repentina, deixando uma lacuna irreparável que será difícil preenche-la, dado ao tipo de pessoa que você era: humana, extremamente bondosa, solidária, companheira, prestativa, verdadeiro amigo, uma pessoa de bem e, acima de tudo, do bem. Foi precipitado e irracional, observando o seu comportamento moderado e conciliador, conhecedor profundo das atitudes que deveriam se portar as pessoas nas mais diversas situações, especialmente quando enfrentando as chamadas zonas de perigo, a atitude emocional a que foi impulsionado, talvez levado por forças superiores, naquela tarde de terça-feira fatídica. Naquele momento, tudo indica, a emoção conturbou sua mente, não lhe permitindo enxergar que era você que tudo tinha a perder e que não deveria nem poderia morrer, indo ao encontro de um desajustado irrecuperável, viciado em drogas, que nada tinha a perder e pouco preocupava-se com a própria vida, arriscando-se mesmo a morrer. Você uma joia preciosa, um homem que vivia para o trabalho, para a família e para os amigos, ele um desajustado incorrigível que talvez não saiba o que significa uma família pelos desajustes que já sofreu ao longo de sua existência e que diariamente arrisca a vida atentando contra a vida dos outros. Você um homem temente a Deus, que procurava servir ao próximo praticando costumeiramente, no silencio da sua consciência, sem despertar a atenção de ninguém, suas caridosas contribuições aos mais necessitados, ele, um incrédulo que somente enxerga no outro o motivo maior para realização de suas sanhas perversas e assassinas.
A sua morte da forma como ocorreu e tantas outras desse gênero, deixa em aberto uma grave discussão que a sociedade precisa urgentemente estabelecer com os governantes e que diz respeito à segurança individual e coletiva, cobrando inclusive ações efetivas. O corrido com você revela, meu amigo, que vivemos num grande caos, face a comprovada omissão dos nossos governantes, deixando transparecer serem os mesmos coniventes com a violência por não lhes dar o tratamento merecido. Como Pilatos, lavam as mãos e viram as costas para este gravíssimo problema, talvez aplaudindo as chacinas que ocorreram em Manaus, Boa Vista e Natal. Não é mais aceitável que vivamos temerosos de sair de casa, construindo nossas próprias prisões domiciliares, enquanto bandidos degenerados alimentados pelo vício das drogas, ficam soltos, ameaçando constantemente a qualquer hora do dia ou da noite, a segurança e a vida de todos aqueles que procuram na paz, desempenhar suas funções sejam no trabalho, no lar ou em qualquer outro ambiente sadio que lhes proporcione bem-estar para si e sua família. Vivemos a cada dia psicologicamente ameaçados pelo medo. A sua morte Nicanor amigo, chama a atenção para o descaso como a questão da segurança vem sendo tratada tanto em Sergipe como no País, conduzindo as pessoas a vivenciarem a cada dia que o problema se torna mais grave, o império do medo. Sei, meu amigo, que se trata de um problema extremamente complexo, de difícil solução a curto prazo, mesmo assim exige que as autoridades se debrucem sobre ele não de modo demagógico, simplista, anunciando medidas que na prática demonstram serem irrealizáveis, mas através de um planejamento estratégico, sério, com os pés nos chãos, plausível de realização.
De igual modo, meu amigo, sua morte tão violente, nos faz pensar em novas atitudes e comportamentos, especialmente no que diz respeito ao fato de que marginais irrecuperáveis não podem ser tratados com carinho, prendendo hoje e soltando amanhã, alimentados por uma ilusão humanística, porém falsa de que todos nós somos culpados e que todos merecem uma segunda chance. Em casos como o ocorrido com você, meu amigo, a segunda chance será tão somente para aumentar o raio dos assaltos, das violências e das mortes. Sei que uma boa educação e a correta orientação no ambiente familiar é de fundamental importância. Entretanto, nestes casos já considerados irrecuperáveis, onde o mal já está enraizado na consciência do indivíduo, esta solução já não mais é aplicável. Sei também que grande parte da culpa é do Estado que não presta a devida assistência às famílias pobres e marginalizadas, deixando-as entregues à própria sorte e a conviverem permanentemente com vários tipos de drogas que pouco são combatidas fruto dos mais diversos jogos de interesses. Todavia, se desejamos recuperar um segmento social que caminha para o lamaçal, devemos fazê-lo desde o início de sua formação familiar e não depois que o câncer da violência já se alastrou em todo o organismo social. Quando isto acontece, não existe mais returno e o tratamento tem que ser também de choque.
Você ainda tinha muito a contribuir nesse tipo de discussão como especialista em defesa civil e como pessoa extremamente sensível a situações dessa natureza. Entretanto, quis o Destino que fosse você tragado pela violência, a mesma violência que está sendo enraizada em todo o País, fruto do pouco caso dos governantes que somente enxergam o cidadão quando diz respeito a seus interesses eleitoreiros. O seu coração bondoso demais, isento de intenções maldosas, acreditando no amor entre os homens, o tragou para a morte. Agora somente nos resta chorar sua perda irreparável e, acreditando na existência de uma segunda vida num plano superior, alimentarmos a esperança de um dia nos reencontrarmos. E, enquanto choramos sua perda, clamamos aqui na terra pela justiça dos homens.
Que Deus tome conta de sua alma e que a mesma fé que você sempre carregou em seus pensamentos e no seu coração, permita encher de conforto o coração de seus familiares e amigos. Descanse em paz.