Dilson M. Barreto
Economista
Em julho do ano que passou, por solicitação da Federação do Comércio do Estado de Sergipe (FECOMÉRCIO), apresentei algumas considerações sobre uma possível proposta a ser apresentada pelos empresários do setor para soerguimento da economia sergipana. É justamente lastreado naquele meu esboço de ideias que retomo ao tema, justamente por sentir a necessidade do Governo do Estado, aproveitando esse momento de crise por que vem passando a economia brasileira, iniciar a montagem de um projeto tendo como foco a recuperação da economia local. Tratam-se apenas de sugestões agora submetidas aos órgãos encarregados das políticas de desenvolvimento estadual que, repito insistentemente, deveria desde já montar uma equipe interdisciplinar para pensar o futuro de Sergipe.
É fato notório que o Brasil passa por um momento extremamente difícil, debatendo-se com uma crise fiscal alarmante, cujos reflexos se projetam vigorosamente nas esferas estadual e municipal, contribuindo para dar maior corpo à crise. Nessa esteira de dificuldades, o Governo de Sergipe sente-se carente de recursos financeiros até mesmo para saldar com a mesma pontualidade, os salários de seus servidores. Mesmo reconhecendo essa situação de calamidade, não custa nada se pensar em ações de médio e longo prazo de olho justamente, como falei acima, no futuro, isto porque as crises são dinâmicas: da mesma forma que chegam e muitas vezes de forma arrasadora, elas também se vão, abrindo novas oportunidades para reconstrução da economia e de suas finanças.
É de olho nessa perspectiva de recuperação, que ouso listar um conjunto de ações que poderiam ser avaliadas pela equipe técnica do Governo, subsidiando um possível trabalho de planejamento de médio e longo prazo e que, julgado consistente, venha encorpar um Programa de Trabalho governamental, mesmo que as fontes para o seu financiamento sejam ainda precárias.
1 – AÇÕES GERAIS
- Revisão da estrutura tributária e dos instrumento de cobrança dos tributos, amenizando os encargos, facilitando o seu pagamento e evitando a sonegação. Neste sentido é importante lembrar que o Fiscal de Tributos não deve caracterizar-se como um carrasco do empresário, nem o governo um ditador quanto ao processo de cobrança. O entendimento é fundamental para quebrar as resistências;
- Expansão e melhoria da infraestrutura rodoviária, facilitando o transporte de mercadorias e o acesso da população aos diversos mercados de bens e serviços de consumo;
- Reformular as estratégias de segurança pública, restringindo ao máximo o banditismo, aumentando assim a tranquilidade da população de circular livremente e sem constrangimento pelos diversos recantos do Estado;
- Fortalecimento do programa de compras governamentais, estimulando as vendas do comércio local e, consequentemente, a expansão dessa atividade, protegendo o setor da forte crise por que vem passando;
- Gestões nas áreas de educação e saúde melhorando sua eficiência e qualidade. Implementar, diretamente ou através de convênios, cursos de nível médio profissionalizantes, abrindo oportunidades para a oferta, ao mercado de trabalho, de mão-de-obra qualificada, observadas as áreas mais prioritárias
2 – AÇÕES PARA O SETOR INDUSTRIAL
- Potencializar perspectivas de atração de unidades industriais que tenham representatividade na economia estadual e sejam propulsoras do seu desenvolvimento, especialmente nos campos do petróleo e gás, recursos minerais, cimento, química, açúcar e álcool, cerâmica, sucos, laticínios, mecânica, transformando o Estado em polo de referência nesses setores estratégicos;
- Estímulo à exportação de produtos industriais, diversificando a nossa pauta de exportações, ampliando inclusive os estudos no que diz respeito à abertura de novos mercados;
- Maior apoio às pequenas e médias empresas tanto na área técnica como financeira, caracterizadas como grandes empregadoras de mão-de-obra;
- Montagem de um projeto de avaliação das grandes potencialidades do Estado focado em seu desenvolvimento industrial, para divulgação e atração de novos e modernos empreendimentos;
- Realização de estudos no que diz respeito à organização do espaço territorial do Estado que sejam condizentes com as tendências, potencialidades e vocação de cada área determinada, tornando-as centros de atração para instalação de novas unidades industriais.
3 – AÇÕES PARA O SETOR AGRÍCOLA
- Potencializar e expandir as culturas de frutos tropicais (laranja, abacaxi, goiaba, maracujá, acerola, manga), objetivando a expansão da indústria de sucos não apenas para o mercado interno, com o também para a exportação;
- Estimular a revitalização da cultura da laranja hoje em decadência, possibilitando ao Estado recuperar sua posição no ranking dos maiores produtores do Nordeste;
- Dar suporte técnico à cultura do milho que vem se expandindo com grande velocidade no Estado e ocupando posição privilegiada em sua pauta de produção agrícola, inclusive no que diz respeito à sua comercialização;
- Fortalecer a pecuária leiteira em Sergipe nas áreas de maior potencialidade para essa atividade, como suporte à indústria de laticínios, incentivando também os pequenos produtores industriais voltados a essa atividade, de forma a ampliar o abastecimento do mercado local e com perspectivas de abertura para mercados regionais;
- Estimular a introdução de novas culturas agrícolas no Estado, a exemplo da soja, fornecendo inclusive assistência técnica aos novos produtores;
- Apoiar e incentivar outras culturas tropicais que sejam consideradas importantes para a consolidação e maior diversificação da atividade agrícola no Estado;
- Fortalecer a ENDAGRO, capacitando-a para dar assistência técnica ao pequeno e médio agricultor, espacialmente na introdução dessas novas culturas.
Claro que o conjunto de ações aqui listadas como sugestão não esgota a matéria, porém serve como indicativo para uma ampla discussão sobre a estruturação de programas e projetos que garantam a sustentabilidade futura do desenvolvimento estadual. Sergipe não pode deixar-se sufocar pelo mesmismo nem pelo comodismo ou desinteresse daqueles que, como agentes públicos, são diretamente responsáveis em promover o dinamismo da máquina governamental. Ficam, portanto, as sugestões, mesmo tendo plena consciência de que água e conselho somente se dá a quem pede.