Dilson M. Barreto
Economista
Você pode falar o que quiser, pois o pensar é livre, que o Presidente Temer não sabe se comunicar com a sociedade, é desprovido de popularidade, que suas políticas estão focadas prioritariamente no combate à inflação e à redução do déficit público, pouco olhando para o social, que os projeto encaminhados ao Congresso Nacional são antipopulares, duros e contrários aos interesses da população. Todavia é faltar com a verdade alegar que o aumento do desemprego que ainda persiste com certo vigor é culpa sua. Todos os analistas de mercado e os diversos órgãos de pesquisa já pregavam, desde o ano passado, duas coisas: o desemprego continuaria aumentando, mesmo que a uma velocidade menor durante o corrente ano e que a retomada do emprego somente deveria ocorrer a partir de 2018, entretanto, de modo gradativo, quando fosse iniciado o processo de crescimento da economia. E é justamente isto que está ocorrendo.
Temer assumiu o governo herdando uma recessão extraordinariamente forte que exigia medidas de política econômicas duras e com um desemprego da ordem de 12,0 milhões de trabalhadores. Não se conserta uma economia do dia para a noite e um ano é muito pouco tempo para colocar o trem nos trilhos e fazê-lo andar a uma velocidade satisfatória. Somente avaliações saudosistas fruto de um ideologismo cego, ao não aceitaram esta nova realidade, pode querer que o joio e o trigo sejam separados num passo de mágica. Daí apregoam que isto não acontecendo é por culpa do governo o qual, aliado à elite, provocou a ruptura da normalidade democrática, deixando, contudo, de informar qual a elite, isto porque, do outro lado também existe uma elite bem conceituada, esclarecida e atuante. A recessão iniciou-se na metade do ano de 2014 e foi se aprofundando nos anos subsequentes, concorrendo para que o nível de desemprego assumisse o volume acima referido. Se no momento atual ele já bateu a casa dos 14 milhões, não é fruto de políticas erradas do atual governo, porém reflexo dos erros do passado e cujas medidas até agora tomadas não foram suficientes refreá-lo, face sua amplitude e complexidade.
Por sua vez, não me parece ser um julgamento correto afirmar-se que as reformas propostas e em curso no Congresso Nacional que também estiveram na pauta dos ex-Presidentes Lula e Dilma Rousseff, venham desconstruir direitos anteriormente conquistados, massacrando o trabalhador. Essa elite bem formada que hoje está na oposição mente para a população sobre perdas de direitos e aumento das desigualdades sociais, tão somente para encobrir a ameaça que tais reformas fazem aos privilégios de que são detentores. As grandes questões que tais segmentos escondem da sociedade estão relacionadas ao imposto sindical que deixa de ser obrigatório e que tem sustentado uma infinidade de sindicatos, o aumento da idade mínima para aposentadoria o que representa uma necessidade em virtude do aumento da expectativa de vida da população, a liberdade de realização de acordos trabalhistas entre patrão e empregados e a questão do trabalhador rural que antes morria trabalhando sem qualquer direito à aposentadoria o fazendo, a bem da verdade, a partir da entrada em vigor da Constituição Cidadã e dos direitos sociais instituídos no Governo Lula. Mas estes trabalhadores têm seus direitos assegurados e aumentar mais alguns anos para ter a plenitude da aposentadoria não lhe faz diferença pois, mesmo aposentados, continuam sua labuta diária.
Qual a diferença entre o trabalhador rural que trabalha de sol a sol, em pé, alimentando-se precariamente no próprio local trabalho, somente voltando para casa no final da tarde, e um professor ou um delegado ou juiz ou outro agente público qualquer, que tem carga horária definida, laborando no ar condicionado, indo para casa em seus carros também com ar condicionado ou em veículos dos órgãos que representam, fazer suas faustosas refeições? Não se pode construir um país decente e justo priorizando políticas corporativistas que objetivam tão somente preservar direitos e privilégios de uma minoria. O Brasil precisa modernizar-se para crescer. Se o preço desta modernização for as reformas em curso, que elas venham com os aperfeiçoamentos julgados necessários pelo Congresso Nacional.