Dilson M. Barreto
Economista
Existe uma opinião quase generalizada de que os níveis de confiança dos empresários começam a despontar positivamente, acreditando numa gradativa saída País do processo recessivo em que se encontra, levando-se em consideração a queda dos índices negativos do Produto Interno Bruto (PIB), bem assim a tendência de queda da inflação. Alguns mais otimistas já preveem um crescimento de 2,0% em 2017, o que achamos, pelo menos, no confronto com a realidade atual, um pouco exagerado. Somente no início do último trimestre do ano, quando a poeira do impeachment estiver totalmente assentada, é que se poderá ter uma avaliação mais consistente. A área econômica (Fazenda e Banco Central), mesmo com a implementação de uma rígida política ortodoxa, o BNDES e a PRETROBRÁS apresentam-se como fiadores desse início tímido de recuperação. Entretanto, levando em conta o fato de diversos segmentos do mercado e instituições financeiras projetarem crescimento para o próximo ano já nos enche de esperanças. E se houver sustentabilidade nas estruturas que ordenarão esse crescimento, poderemos continuar crescendo nos anos vindouros, agora em percentuais mais elevados, torcendo que o ortodoxismo de hoje que impõe fortes sacrifícios para a população seja amenizado mais à frente para compensar o sofrimento agora imposto, fazendo renascer também a esperança na retomada do emprego.
É claro que ainda estamos vivendo um período de certa insegurança em função da interinidade do Presidente Michel Temer e da sua própria fragilidade em submeter-se ao desejo incontido dos parlamentares por cargos e vantagens tendo como moeda de troca a votação no processo de impeachment, tornando-se assim refém do Congresso. Por quanto tempo? Espera-se que finalizado o processo, esse calvário deixe de existir, a paz volte ao cenário político e, dentro dessa possível normalidade, os projetos de ajuste fiscal e de reestruturação das bases da economia brasileira possam ser plenamente aprovados, isto porque o Brasil não pode continuar submisso a interesses mesquinhos de determinados grupamentos políticos que o coloca em segundo plano, de olho tão somente nas vantagens pessoais que possam obter. Espera-se que essas picuinhas políticas desapareçam e a maioria dos congressistas, pensando no futuro do País, permaneça ao lado do Presidente já efetivado para garantir a retomada do seu crescimento.
É claro que não se pode alimentar a ilusão de que o desejado no conjunto da obra seja plenamente aprovado. Política é a arte do possível, daí que nem sempre o ideal é o que se consegue aprovar. Mesmo assim. O importante é dar marcha para que essas medidas aconteçam. Incontestavelmente, isto é uma certeza, caminhamos de forma bastante firme para uma melhoria significativa da governabilidade, estampada em primeiro lugar no desempenho mais harmônico das nossas instituições, com destaque para a nova postura do atual Presidente da Câmara dos Deputados e a eleição da nova Presidente do Superior Tribunal Federal, a Ministra Carmem Lúcia. Em segundo plano destaca-se a capacidade do Presidente interino em articular-se com desenvoltura com os parlamentares, o que não acontecia anteriormente quando do exercício da Presidente afastada, justamente por falta de apetite para a política e ojeriza aos políticos, daí que sua Carta aos Senadores e aos Brasileiros não ter sido levada a sério, caindo no vazio. Parlamento é isso: conversa, muita conversa, diálogo, entendimento recíproco, ajuste em termos de interesses comuns, sem jamais ultrapassar os limites que regem a própria democracia. E é justamente isto que vem acontecendo neste período da interinidade, mesmo que de forma ainda sofrível, Michel Temer tendo às vezes que tapar o nariz para manter a conversa, sabendo ser ela necessária à sua sobrevivência. De igual maneira espera-se que, mediante a atuação intermitente da chamada “Operação Lava Jato”, haja um recuo nesse endêmico processo de corrupção e o País, sustentado pelo clamor de sua população, ingresse num patamar mais elevado de moralidade. Essa é outra esperança que pulsa no coração da maioria dos brasileiros.
Um aspecto observado pelo Economista José Roberto Mendonça de Barros (Estadão, 24/7/16) diz respeito à pobreza quanto à discussão do que queremos construir para o futuro. Efetivamente observa-se com muito pesar um vazio de pensamento entre as classes mais politizadas, que se estendeu de forma inusitada “sobre os centros de pensamento e discussão, especialmente como resultado da polarização ideológica”, inibindo assim importantes definições sobre que tipos de reformas são prioritárias e qual a melhor forma de implementa-las para soerguer o País da crise em que ainda se encontra. Talvez este seja um problema relevante que mereça ampla discussão, com seus participantes deixando de lado o sectarismo ideológico e pensando na construção de um País para todos indistintamente. O que está em jogo nesse momento não é uma discussão estéril esquerda versus direita, pois isto não levará a lugar nenhum. Esta forma de agir somente retarda a tomada de decisões, num movimento de contramão com a história. O mundo mudou radicalmente em suas concepções do que é bom e do que é ruim, todos somando-se à necessidade em relação à prevalência da redução das desigualdades sociais e de renda, sem a qual o capitalismo de mercado ou mesmo para os que advogam um tipo de socialismo democrático sob o comando de um Estado mais forte, não podem subsistir. É uma questão, como diz Samuel Pessoa, “de arquitetura institucional doméstica” e das decisões dos agentes econômicos em aceitarem um novo pacto social. Para tanto, a razão deve sobrepujar à emoção. É aí que se insere o planejamento de longo prazo que os governos do Brasil resistem em não colocar em prática, definido prioridades, estabelecendo metas, quantificando corretamente os recursos necessários ao financiamento dos programas e projetos, de maneira que as decisões alcancem elevados índices deficiência e eficácia. É por essa via condutora do pensamento racional que insisto na necessidade de se reconstruir na mente de dada cidadão o renascer da esperança de um novo Brasil, isto porque, sem ela, caminharemos para a escuridão.