Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo


Dilson M. Barreto
Economista

Finalmente encerrou-se o ano de 2016 e, tenho certeza, não deixará saudades. Realmente, foi um ano muito complicado, com sérias crises políticas, pedaladas, escândalos de corrupção revelados pela chamada operação “Lava Jato” envolvendo grandes vestais do mundo político dos mais variados partidos, economia em queda livre, desemprego assustadoramente elevado, recessão persistente, além de uma crise fiscal de grande dimensão que alastrou-se por quase todos os estados brasileiros. Aliado a tudo isto, vivenciou-se também em 2016, de forma traumática, o impedimento da Presidente Dilma Rousseff que, por inabilidade política e arrogância pessoal deixou a peteca cair, sendo incapaz de garantir sua sustentabilidade até 2018. Nem Lula conseguiu salva-la. Preenchendo o vazio de poder, vimos assumir interinamente o vice-presidente e depois, já como Presidente efetivo, Michel Temer prometendo construir uma ponte para o futuro do Brasil e salvar a democracia. Ilusão ou realidade? Se tais fatos não bastassem, no cenário do Congresso Nacional, políticos fantasiados de democratas, contaminados pelos vícios do clientelismo e do patrimonialismo, lutavam com unhas e dentes para conseguirem um naco do poder, exercitando suas costumeiras formas de chantagens diretas e indiretas tornando claudicantes as decisões do novel mandatário da República que, para garantir sustentabilidade e poder governar até o final do seu mandato, vê-se obrigado a ceder às constantes pressões. Reforma política, somente naqueles pontos que não contrariem os interesses dos congressistas em seus privilégios e demandas ou criem transtornos para suas respectivas reeleições. Moralidade? Apenas aquela que os grupos instalados na Procuradoria Geral da República, Ministério Público e Polícia Federal tentam edificar, procurando a qualquer custo passar o país a limpo. Nos demais segmentos representativos, especialmente no seio da classe política que tenta a todo custo salvaguardar seus mandatos e sua liberdade, em nome de uma falsa moralidade, apenas discursos bonitos, como diz o ditado popular “para boi dormir”.

Foi um ano em que também os movimentos sociais voltaram às ruas com a força de suas vozes para reivindicar moralidade, reformas, reclamar direitos por eles considerados ameaçados, denunciar corrupção e corruptores, enchendo largas avenidas em diversas cidades, num movimento bonito, próprio de uma verdadeira democracia. Ao seu lado, contudo, gravitando entre a massa humana verde e amarelo, alguns grupos arruaceiros, aproveitando da liberdade de expressar-se e de ir e vir, promoveram quebra-quebra em bens públicos e privados, manchando a imagem do povo brasileiro, pacato e obediente às leis, mesmo quando estas parecem não ser tão justas.

Alie-se a esse cenário, a imprevisibilidade quanto aos rumos da economia brasileira: juros elevados, gastos públicos descontrolados, dívida pública na estratosfera, investidores temerosos de aplicar seu capital, tornando difícil construir-se mecanismos de retorno dos investimentos que não ocorreu em 2016 e não ocorrerá em 2017 sem que o Estado venha também dele participar. Este é o retrato em preto e branco do ano que acaba de encerrar-se. Não obstante esse diagnóstico tingido de negras nuvens, vale reconhecer que algumas coisas boas aconteceram nos últimos quatro meses do ano, evidenciando, se não a construção de uma ponte, pelo menos de uma pinguela, usando a expressão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: a) aos trancos e barrancos, a equipe econômica, utilizando métodos ortodoxos, tem procurado colocar a economia na direção de um crescimento futuro, mesmo que o preço a pagar e o sacrifício imposto à população seja grande; b) contando com grande maioria no Congresso Nacional, o que tem lhe permitido sustentação política, o Presidente Temer já conseguiu a aprovação da Lei do Teto do Gasto Público, e por sua iniciativa, já tramita na Casa Legislativa, os projetos de Reforma do Ensino Médio e a Reforma da Previdência, estando em gestação a Reforma Trabalhista. Não parece muita coisa, porém é algo inusitado para um governo tampão, com baixa popularidade.

E o que esperamos de 2017? Caracterizando-se ainda como uma grande incógnita, uma coisa, porém é certa: a economia brasileira não deverá apresentar crescimento negativo. Se não for possível crescer entre 0,5% e 1,0% como preveem muitos órgãos especializados em projeções econômicas, terá como prêmio o estancamento do processo recessivo mesmo com zero de crescimento. Não é nada exuberante, porém poderá sinalizar para os agentes de mercado que o pior já passou, permitindo construir expectativas positivas para o futuro. Sabemos que o Brasil já passou por crises piores e sobreviveu. Muito embora solapado por tanta irresponsabilidade e corrupção que enfraqueceu financeiramente importantes empresas públicas, nosso País é muito maior do que pensam os inconsequentes políticos e saberá, com o tempo, afastar as cinzas desse passado tenebroso e soerguer-se. Por sua vez, o Presidente Temer se deseja chegar incólume ao final de seu mandato, deve assumir uma postura mais agressiva, neutralizando grupos de interesse, melhorando sua governança mediante a continuidade da construção de uma agenda positiva, negociando sem demonstrar fraqueza em suas decisões e, o que é fundamental neste momento: ser transparente e comunicar-se mais e melhor com a população, esclarecendo as razões das medidas a serem tomadas, mesmo que algumas delas sejam dolorosas para todos. Todo processo de reconstrução tem um custo. Mesmo visualizando um período ainda cheio de dificuldades, a esperança sempre renasce quando raia um novo ano. Vamos dar tempo ao tempo. Feliz 2017.