UFS investiga alternativas sustentáveis para a produção de alimentos

Pesquisadores estudam o uso da terra em áreas de Caatinga e Mata Atlântica

UFS investiga alternativas sustentáveis para a produção de alimentos
Professor Alexandre de Siqueira Pinto, coordenador do Laboratório de Ecologia de Ecossistemas, alerta para os riscos causados pela agricultura praticada de forma não sustentável - Imagem: Caio Ribeiro/Decav UFS

No Brasil, cerca de 72% das emissões de CO2 tinham como origem, em 2019, as atividades agropecuárias e os processos relacionados à produção de alimentos – desmatamento, queimadas e queima de combustíveis fósseis das máquinas utilizadas no campo – provocando um aumento da temperatura média do nosso planeta, o aquecimento global. Cientistas de todo o mundo pesquisam, portanto, alternativas que colaborem para a diminuição deste problema. Como é o caso do Laboratório de Ecologia de Ecossistema, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Coordenado pelo professor Alexandre de Siqueira Pinto, o laboratório tem como foco a investigação de alternativas para que atividades no campo, como pecuária, produção de alimentos, fibras e lenha, sejam manejadas de maneira ambientalmente sustentável.

Na busca de soluções, uma das técnicas utilizadas pelos estudiosos da UFS é a modelagem ambiental, um programa de computador que permite, entre outras finalidades, a construção de mapas de estoques de carbono em vegetações. A partir destes dados, a equipe consegue propor tipos de manejo que proporcionem o “sequestro” de carbono e armazenamento na biomassa e no solo em áreas cultivadas, retirando-o da atmosfera. Duas áreas, em especial, têm sido observadas pelos integrantes do laboratório: o plantio realizado nas regiões da Caatinga e na Mata Atlântica.

Caatinga

Investigação conduzida pela mestre em Ecologia e Conservação Maiara Pedral, em parceria com pesquisadores de outras instituições, busca alternativas para evitar o aumento das áreas em processo de desertificação no semiárido
Investigação conduzida pela mestre em Ecologia e Conservação Maiara Pedral busca alternativas para evitar o aumento das áreas em processo de desertificação no semiárido – Imagem: Caio Ribeiro

Uma das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Ecologia de Ecossistemas estuda os estoques de carbono na região da Caatinga, bioma presente nos nove estados nordestinos e no norte de Minas Gerais. O trabalho é executado pela mestre em Ecologia e Conservação pela UFS Maiara Pedral, que explica que a escolha deste bioma deve-se ao fato da sua relevância para a sobrevivência humana e por haver uma expectativa no aumento de áreas em processo de desertificação.

Através deste estudo, “poderemos auxiliar no planejamento e proposição de manejo no âmbito de políticas públicas voltadas á redução do desmatamento, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, além de ações relacionadas ao enfrentamento das mudanças climáticas”, detalhou a pesquisadora.

Mata Atlântica

A Mata Atlântica corresponde à segunda formação vegetal de maior biodiversidade no Brasil, ficando atrás apenas da Floresta Amazônica, compreendendo cerca de 15% do território nacional. É o bioma que historicamente mais sofreu com a ação humana.

O graduando em Ciências Biológicas Vitor Batista investiga os efeitos de cenários futuros de mudanças climáticas em fragmentos florestais da Mata Atlântica
O graduando em Ciências Biológicas Vitor Batista investiga os efeitos de cenários futuros de mudanças climáticas em fragmentos florestais da Mata Atlântica – Imagem: Caio Ribeiro

Na UFS, o responsável por esta investigação foi o estudante de Ciências Biológicas e estagiário do Laboratório de Ecologia de Ecossistemas Vitor Batista, cujo campo de pesquisa foram os fragmentos naturais situados nas proximidades do Instituto Federal de Sergipe (IFS), no município de São Cristóvão.

Na pesquisa realizada no período de agosto de 2019 a julho de 2020, o pesquisador simulou cenários futuros de mudanças climáticas com a proposta de responder a seguinte pergunta: como os fragmentos florestais irão responder às esperadas alterações nos padrões de precipitação e temperatura até o final do século?

A partir desta pergunta ele analisou quatro cenários de mudanças climáticas desde o mais otimista até o mais pessimista. O cenário otimista prevê que os acordos ambientais entre os países serão cumpridos e as políticas públicas para redução das emissões de gases do efeito estufa serão de fato aplicadas. Por outro lado, no cenário pessimista ocorrerá exatamente o contrário. “Nesse cenário positivo eu percebo que não ocorre muita variação da temperatura, porém se essas políticas públicas não forem cumpridas, a gente percebe que as variações de temperatura serão maiores”, disse o estudante.

Os resultados obtidos pelo pesquisador mostraram que até o final do século deve haver redução nos estoques de carbono da biomassa aérea viva (folhas, galhos e tronco) em função do efeito combinado de diminuição das chuvas e aumento das temperaturas mínimas e máximas.

Consequências

De acordo com o professor Alexandre Siqueira Pinto, caso as alternativas sustentáveis para a produção de alimentos não forem colocadas em prática, as consequências continuarão a ser sentidas.

O pesquisador aponta como exemplo o que está sendo vivenciado no hemisfério norte, onde estão ocorrendo mortes de pessoas relacionadas às ondas de calor – matando mais do que outros eventos climáticos, como alagamentos e acidentes com raios. Nos Estados Unidos, por exemplo, estimam-se a morte de 700 pessoas em função desse fenômeno.

O agravante, segundo ele, é que as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que até 2100, dependendo das práticas que vierem a ser adotadas pelas populações, a temperatura média do planeta Terra poderá aumentar de 1,5º C até 4º ou 5º C.

“Ou seja, os eventos que estamos vendo hoje, que já estão sendo trágicos, vão ser potencializados. É por isso que a sociedade precisa ser informada a respeito disso para também fazer parte desse time que quer que os alimentos sejam produzidos com a menor emissão possível de gases de efeito estufa”, finalizou o professor.